domingo, 18 de outubro de 2009

NA SÍNTESE DA TUA NUDEZ




As romãs estavam a abrir
em bagos vermelhos na tua boca

ao fundo a erva crescia desmesurada
por sobre a mesa e as cadeiras
onde sentamos os silêncios

quase todos

porque ainda reservamos passos
e asas na memória comprometida
bago a bago
folha ante folha
para não acordar os pássaros

Ali ao fundo vagueiam sem amos
madeixas de vento por um fio

Neste caminhar traço a carvão
nas paredes da casa
o teu corpo livre de sombras
desnudo-me com as romãs
na síntese da tua nudez

25 comentários:

Paula Raposo disse...

Quando me falam em romãs a água cresce-me na boca...porque também de romãs é feita a sensualidade! Gostei imenso. Beijinhos.

Graça disse...

Um dos mais belos que li por aqui. [na injustiça, bem sei, da minha subjectividade... tudo o que escreves é belo!]


Beijo meu.

Anónimo disse...

Belssimo!

Um abraço

jrd disse...

Assim, como quem despe o poema.

Maria disse...

Vou repetir-me, mas este poema é... belíssimo! Um arrepio nos sentidos...

Beijos

Justine disse...

A sensualidade das coisas naturais a perfumar o teu poema!

isabel mendes ferreira disse...

e eu sento-me à sombra desta nudez iluminada pelo compromisso de uma escrita "impositiva". como quem cumpre o ritual de prender os fios da ternura.Amiga.


(até sexta?)

Anónimo disse...

Despir-se em palavras, traduzir sentimentos, gestos de entendimento que seduz a alma e afasta as sombras.

Lindo! :)

bjs

hfm disse...

Da síntese, das romãs, das sugestões, da vida.

Virgínia do Carmo disse...

Guardo sob os olhos pingos de comoção que daqui me chegam...

- Até ao próximo poema -

Beijinho

Gabriela Rocha Martins disse...

fico.me em leitura
.atento.me na repatição do verso
e gosto


muito



.
um beijo

São disse...

Não é só por falares em romãs ( como gosto delas!!)que acho o poema lindo, juro.

Um prato de granadas para ti.

CCF disse...

"Corpo sem sombras", como é difícil manter o nosso corpo assim.
~CC~

L e n a disse...

Fico impressionada como sai duma romã, tão lindas palavras..

bjos

Manuel Veiga disse...

bago a bago. verso a verso. mordendo a vida.

belíssimo, Poeta.

abraços

Mateso disse...

Para quê palavras? As suas, sempre.
Belíssimo.Bj.

maré disse...

ali ao fundo

desmesura
mente
o teu corpo
a enrolar-se em mim
como uma asa
que me amarra á tua nudez


______
beijos Eufrázio, de maresia içada de moliceiros

PreDatado disse...

Belíssimo este sintetizar da nudez.

Cristina Fernandes disse...

Belíssimo poema, nesse caminhar entre memórias comprometidas de nudez...
Bjs
Chris

Laura Ferreira disse...

Cheirou-me a romãs.

Arábica disse...

Iluminados são os corpos livres de sombras, sensuais, sobre adereços de romã...

Muito belo.

Licínia Quitério disse...

A nudez das romãs, do corpo. O silêncio crescendo como as ervas. Um clima de sensualidade e encantamento. Muito belo.

Janaina Amado disse...

Vim lá da Meg. Adorei este seu poema! Gostei da beleza das imagens e da liberdade das sensações.

Graça disse...

Vim reler-te. Nunca cansa :).

Beijo de boa noite.

Alberto Oliveira disse...

... foi a primeira vez que viu um corpo livre de sombras. Nu e feminino. Esfregou os olhos e a mesmíssima visão. Seria que com ele... Só havia uma maneira de o saber. Despiu-se integralmente e tentou descortinar alguma sombra de parte do seu corpo na parede do prédio onde se cruzavam sombras de gente comum e vestida. A mulher sem sombras sorriu enquanto o polícia o levava para a carrinha sem cerimónias. «Posso, pelo menos, levar as romãs?» perguntou esperançado ao guarda.