quinta-feira, 30 de agosto de 2007

NESTE CHÃO

ceifeira/tribosdegaia







Cheias de terra e sol

as tuas mãos

sobre o ventre em festa

de searas

têm o perfume das papoilas



Quando faz vento

um mar de cabelos desgrenhados

voa campo fora

fulvo na transparência dos teus gestos



cresce o pão

nas nossas bocas



e os teus olhos dulcíssimos

mostram

como se move a sombra das azinheiras



todo o corpo

todo o corpo



Cada fruto semeado

pare uma multidão

e nós cantamos

aqui

em todos os póros da palavra



neste chão






22 comentários:

hfm disse...

Entre a terra e o corpo - a visão do poeta.

Maria disse...

Mãos... ventre... seara... papoilas... neste chão

A vida assim cantada é muito mais bonita!

inominável disse...

gostei tanto... acho que foi o meu poste preferido de sempre no teu blogue... adorei o "cresce o pão nas nossas bocas"... a partir daí nem me apetecia ler mais, mas conseguiste levar o poema até um outro fim...

e "todo o corpo, todo o corpo" fez-me lembrar o "pouca terra, pouca terra" das canções da infância...

Anónimo disse...

chão de vida.
e as palavras, férteis, brotando de rios primordiais.

um abraço

aquilária

un dress disse...

cantar os póros das palavras.

alter adas :)





beijO

Licínia Quitério disse...

Do chão se ergue a seara, da seara se desprendem os frutos. A vida respirando pelas palavras.

Um poema fértil.

Alexandre disse...

A imagem da ceifeira ainda é um mistério nos campos de trigo... porque tudo começou com o trigo e com o pão. Só depois nasceram outras necessidades, que se calhar nem são necessidades, são apenas o artificialismo das anti-vidas que levamos!!!

Manuel Veiga disse...

palavras belas. de um grande Poeta.

abraços

jrd disse...

Levantado do chão o pão da palavra.

margusta disse...

Estou de volta!
Muito obrigada pelas visitas na minha ausência!

Beijinhos e bom fim de semana!

un dress disse...

verde linho branco.

sombra fruto póros.

belo que te escreves...

~pi disse...

do corpo ao pão

e do pão ao corpo

das

palavras

Saramar disse...

Lindíssima comunhão entre o corpo, a terra, o amor, o pão.
Caso de amor que alimenta e encanta.

beijos

samuel disse...

"cresce o pão nas nossas bocas" sabe bem! Sabe muito bem!

Anónimo disse...

Olá

A imagem uma beleza.
O poema também.

"sobre o ventre em festa das searas"
a terra como mãe fértil, a melhor imagem da terra, para mim.

Páginas Soltas disse...

" ... e os teus olhos dulcíssimos
mostram
como se move a sombra das
azinheiras..."

Ahh... Como este poema, mexeu nas minhas memórias...

blue disse...

e como respiram, estes póros da palavra, MAR ARÁVEL.

Anónimo disse...

Mas que lindo poema! Privilégio de quem consegue transpor emoções através de palavras simples, mas excelentemente encadeadas.
Ao lê-lo, relembro as tardes em que minha mãe, com enorme satisfação, me fala da sua juventude:
"...naquele chão de terra dura
muito dura!...
Sob sol escaldante, na nossa planície alentejana...
As foices, ritmadas, deixavam para trás o restolho, rastos de suor e sementes das papoilas e demais flores silvestres...
As nossas mãos, doridas, cheias de carapetos, cheiravam ao pó das espigas do cereal loiro...
Algumas, de tão sofridas, sangravam!
Mesmo assim, de rostos escondidos, olhos brilhantes e lábios secos, cada ceifeira do rancho lançava
naquela terra dura
o seu punhado de trigo, cevada ou centeio...sempre ao mesmo ritmo.
Só a aragem nos deliciava quando nos percorria o ventre, o peito, a alma e tudo o mais!...
Naquele tempo, a vida do campo era dura,muito dura, tal qual a terra que pisávamos em cada ceifa!
princesa

Isabel Victor disse...

" em todos os póros da palavra "

quando a palavra ganha vida,
toca-se e respira ...

são assim estas tuas palavras

orgânicas
vivas

!!!

Adorei

☆Fanny☆ disse...

ADOREI a forma como escreves e dás vida à alma das palavras!

Um abraço com carinho*

Fanny

Mateso disse...

Nas searas... ondula o vento do porvir...talvez um amanhã da pão-papoila.
Beijo.

margusta disse...

Olá Mar!

Tão LINDO este Poema!
Gostei Imenso!

Beijinhos aqui do meu...do nosso mar!