sexta-feira, 20 de outubro de 2017

SOLTAR OS PÁSSAROS





Os cães choravam em silêncio
e eu não sabia porquê

pensei no pobre limoeiro a afundar-se
lá onde nidificam toupeiras
ao entardecer
na estrela persistente
que viceja à noite no portão
nos olhos claros de um certo azul
que ilumina a casa
no desfolhar ensombrecido
das roseiras

vasculhei tudo
invadi searas proibidas
até ao mais íntimo da pele

pó sombras sonhos bibliotecas

perguntei-te
quando desaguas?

e tu desaguaste à janela
a marejar entristecida
e eu não sabia porquê

foi quando os cães se levantaram
para soltar os pássaros

Eufrázio Filipe
"Chão de claridades" colectânea 2008/2012
Editora Lua de Marfim

19 comentários:

  1. Às vezes, precisamos de gritar e libertarmo-nos da dor...
    Bom fim de semana....
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar

  2. Chorar alivia o coração das suas mágoas.
    Muitas vezes não se sabe bem porquê. Talvez
    um acumular de coisas que num qualquer
    momento faz rebentar o dique das emoções.

    Abraço.

    Olinda

    ResponderEliminar
  3. reabri os comentários

    espero-te no meu "planalto"

    abraço

    ResponderEliminar
  4. Há que soltar a liberdade dos pássaros que vive em nós, Poeta!
    Não esperar que sejam os cães a dar-lhes liberdade.

    "Como eles, somos livres...somos livres de voar"

    Que o voo seja bem alto e definitivo...

    Beijo.

    ResponderEliminar
  5. Lindo.
    Há dores que libertam.
    Viva a liberdade.

    ResponderEliminar
  6. Um poema tão bem dedilhado, só poderia servir de parapeito ao voo. Bj.

    ResponderEliminar
  7. Magnífico poema! Os pássaros livres vão reinventar a íntima peregrinação da luz no olhar do poeta.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  8. Lindo poema!
    E quando se soltam os pássaros respira-se liberdade.
    Beijinhos,
    Ailime

    ResponderEliminar
  9. Caro Eufrázio Filipe gostei de seu poema. Um poema singular, no meu entender. Parabéns.
    Um abraço.
    Pedro

    ResponderEliminar
  10. De cortar a respiração, Eufrázio.

    Razão têm os cães que choram no labirinto perdidos, sem memória.
    - Onde pára o fio das águas
    que amarra as asas aos pássaros?
    Perguntem ao Poeta que sabe de roseiras e estrelas.

    Abraço

    ResponderEliminar
  11. Soltar pássaros... soltar a imaginação.
    Lindo!
    Abraço.

    ResponderEliminar

  12. há sempre um momento de soltar os pássaros

    para que as mágoas se misturem com o vento e as lágrimas desbaguem no oceano

    é urgente o momento...

    ;)

    ResponderEliminar
  13. "e tu desaguaste à janela
    a marejar entristecida
    e eu não sabia porquê"

    É a raridade dos ombros em que se pode transbordar mesmo sem saber/dizer/pensar porquê que os torna tão preciosos.

    ResponderEliminar