Decepei troncos
de árvores frondosas
para ver a serra
sem empecilhos
vi uma pedra
com vida por dentro
e um poeta improvável
a libertar-lhe o ventre
desenhei um barco
nos teus olhos
e tudo aconteceu ininteligível
contra todos os destinos
Inesperadamente inventei um deus
ao som de Leonard Cohen
acordei uma vez mais
a fazer versos ou quase nada
e tu lá estavas com voz grave
nua de tudo
despida nos meus espelhos preferidos
Foi assim
nesta viagem de latidos ventos e uivos
que te revi apócrifa
no meu espaço
folha ante-folha
senhora das meias pretas
A deshoras no velho cais
dos barcos sonolentos
subi aos mastros mais altos
segredei-te uma breve mensagem
regressei
ao que julgava ser
o meu último desejo
Foi assim
hoje não atearam fogo
às margens do nosso rio
o mar já nos tinha invadido
com bandeiras de cores lúcidas
e no rescaldo de um fósforo
ainda ardiam palavras
por sobre as águas
Sabíamos senhora
que a poesia pode ser
a arte de inventar um pássaro
desenhar numa folha de papel
a dor que sentimos
ousar a salvação do mundo
e voar
decepar troncos de árvores frondosas
para ver a serra
sem empecilhos
os contornos do teu corpo
Na verdade
há silêncios incontidos que se repetem
vozes que se ateiam
na boca das sementes
e foi assim
cheguei
aonde nunca parti
às pátrias repartidas
aos belos mares desgrenhados
Eufrázio Filipe
Um poema muito belo que me leva a vários questionamentos.
ResponderEliminarBom domingo.
Beijinhos,
Ailime
Gosto particularmente do teu poetar! Uma ligação profunda ao mar que tanto amo (amamos) e à vida que ele renova em nós a cada doce maré...
ResponderEliminar"Sabíamos senhora
que a poesia pode ser
a arte de inventar um pássaro
desenhar numa folha de papel
a dor que sentimos..."
uma estrofe que me tocou.
Sensibilizada pelo 'apoio' amigo.
Beijo
Penteados nas linhas, verso a verso, o poeta traça delírios iluminados, que trouxe do mar. E se desgrenhados eram, belos ficaram.
ResponderEliminarAbraço.
O mar... sempre o mar a preencher os silêncios e os versos...
ResponderEliminarLindo....
Beijos e abraços
Marta
Aí está o poeta Eufrázio Filipe com um poema singular. Gostei. Parabéns.
ResponderEliminarUm abraço.
Pedro
Como sempre, maravilhoso poema!
ResponderEliminarBeijo e uma excelente semana
Poema maravilhoso! AbraçO
ResponderEliminarBelíssimo, poeta amigo, belíssimo!
ResponderEliminarBeijo
~~~
"cheguei
ResponderEliminaraonde nunca parti"
Diariamente parto, mas nunca consegui atravessar a primeira onda, o mar sempre me traz de volta...
Novamente o mar a deixar-te desenhar barcos e inventar pássaros e a seduzir a nossa imaginação...
ResponderEliminarUm beijo, meu Amigo.
Magnífica poesia a que aqui li!
ResponderEliminarPoemas de inspiração única e construídos de modo inteligente, que nos levam a navegar pela nossa imaginação e fazem a mente trabalhar.
Um mar no qual dá gosto mergulhar!
Beijinho,
Rita
Palavras ardentes sobre mares desgrenhados, pedras vivas que o poeta esventra,barcos que se desenham no olhar, troncos decepados sem piedade para clarear o horizonte e finalmente o regresso às profundezas do eu, de onde afinal nunca se parte.
ResponderEliminarFoi um poema belo, onde tudo se disse em versos perfeitos.
Um abraço.
É lindo, muito lindo!
ResponderEliminarUm beijinho
E se a poesia for arte de inventar , bendita imaginação que me leva nos seus mastros !
ResponderEliminarBeijo, poeta !
Belo e intenso.
ResponderEliminarBEIJOS
e desgrenhado ou não
ResponderEliminaro mar
eterna inspiração do(s) Poeta(s)
muito belo
:)
A desoras, em viagens improváveis, o poeta engatilha (n)as palavras e apresenta um poema feito obra de arte.
ResponderEliminarPara ler e fruir.
Bjinho