terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

PÁTRIAS REPARTIDAS


                           



Neste porto desobrigado de fronteiras e outros céus
vem à tona a energia imperecível dos desertos 
o perfil escarpado da luz

Nesta apoteose de neblinas
defino a brancura do teu corpo
de pátria movediça
como um prado de salivas 
onde refulgem transfigurações de barcos
rumores de outros mares

Amo esta janela com vista para o vento
onde é possível ser eterno por um instante
povoar o silêncio errante das metáforas
e viver apaixonado no pulmão das marés

assim voejamos há tanto tempo
de um lado para o outro
na remoção do pó
a construir barcos vertebrados
traços de luz
para os peixes não se afogarem em lágrimas

assim projectados nas paredes da casa
dentro e fora do corpo
peregrinos por sobre as águas
afundámos uma ilha
mas ainda não renascemos
nas belas tempestades

voejamos há tanto tempo nas vagas
que não sabemos se é pó
o desacerto dos relógios
ou pássaros livres quase perfeitos
neste mar de pátrias repartidas


Eufrázio Filipe

( texto reconstruído )


24 comentários:

  1. OI MAR!
    E NESSE POETAR APAIXONADO, AS METÁFORAS BRILHAM.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  2. Amamos essa janela com vista para o vento

    renasceremos amanhã
    mesmo que a tempestade não seja tão bela
    quanto o verso em falas dela

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  3. E eu gosto muito de espreitar por esta janela de onde avisto mares de beleza.

    Um beijinho :)

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  4. O que se vê da janela é perfeito... É o despertar do tempo, da paixão, é descobrir os segredos e a beleza das coisas....
    Lindo...
    Beijos e abraços
    Marta

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  5. Seu poema é imenso e também muito, mas muito belo.

    Bjs.

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  6. Quando caminho por estas escarpas,feitas de sonho e metáforas, sinto que o meu voo é tão livre e solto, como o dos pássaros que habitam este pedaço de céu...que é seu e meu...

    Beijos, Poeta.

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  7. Fico contigo no postigo "desobrigado" de limites espácio-temporais. Rebrilham-se as palavras neste "mar de pátrias repartidas".
    Sublime expressão poética.
    BJ 😊

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  8. Sim, voejamos há tanto tempo nas vagas, como saber do resto? Desejo que seja bom o resto e... tudo o mais!

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  9. e da eternidade vê-se uma simples janela, onde o poeta poisa um (o seu) olhar.
    Belo.
    Abraço

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  10. Uma Pátria de Poetas .
    Belo o momento e a sua janela com vista para o mundo.
    Beijinho

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  11. São diversas as janelas que cada uma abra à vida. Nem sempre as nossas são tão belas quanto as do poeta. Mas sempre há qualquer coisa especial nelas. Mas quantas vezes, a indiferença nos deixa olhar, mas não ver.
    Um abraço

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  12. Janela, postigo...mesmo através de uma fresta se sente a maresia de sublimes metáforas e barcos, hoje vazios e tudo.Mas que a "janela com vista para o vento" permita ainda o sonho, a ilusão para que os peixes não se afoguem.
    Eu, ficarei na praia...
    Beijo, EF.

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  13. No seu ofício, o Poeta persiste na feitura de barcos vertebrados com quilha, que lavrem e semeiem liberdade neste mar. Contudo há uma brisa de ilusão a quebrar-lhes a espinha da vontade. Como haverá então uma única pátria. Ou mátria, tanto faz, desde que o domínio seja azul, natural para barcos e pássaros.
    Abraço.

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  14. No teu mar de pátrias repartidas hão-de atracar os barcos que trazem novas vidas.

    Um abraço fraterno

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  15. Reconstruir, eternamente, à espera que a esperança, no coração, rime com bonança.
    Um bom momento!

    Abraço

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  16. "O perfil escarpado da luz" iluminou as palavras, os silêncios e os pássaros livres... Maravilhoso poema, meu Amigo!
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  17. Tudo sempre tão desconhecido e eterno. Gosto do seu poema.
    "Amo esta janela com vista para o vento
    onde é possível ser eterno por um instante
    povoar o silêncio errante das metáforas
    e viver apaixonado no pulmão das marés."

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  18. Que todas as janelas nos mostrem horizontes longínquos...

    Vejo como me atrasei nas leituras neste cais, mas tenho estado sem pc. Peço desculpa.

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