segunda-feira, 23 de maio de 2016

LUZ VERTEBRADA





Nada é absoluto

nem este sítio
onde dulcíssimos cães
lambem os céus
sonâmbulos pássaros
mentem na desmemória
das árvores

nem os gestos
aparentemente inúteis
a viverem de olhos fixos
em bando
acordados à sombra dos relâmpagos

nada é exacto

a não ser uma certa luz
vertebrada
que se consome
ao entrar pelas frinchas
da escarpa


Eufrázio Filipe
"Presos a um sopro de vento"

18 comentários:

  1. Os yogues dizem que o instante de pausa entre a inspiração e a exalação é absoluto. Beijo.

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  2. Este Poeta espanta!

    Espantam-se largos e recantos da Cidade:
    o Poeta respira grandeza:
    as palavras vertebradas,
    iluminadas e dignas, pousadas
    na verticalidade da ombreira
    de cada poema.

    Pois se é a luz que forma
    e informa na abstração dos dias...

    Eu fiquei, Eufrázio.

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  3. A luz encontra sempre forma de entrar...
    Lindo...
    Beijos e abraços
    Marta

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  4. arrebatadora a luz que teima - e faz caminho por entre a estreiteza do Mundo.

    poema a raiar a perfeição.
    gostei deveras!

    abraço, meu caro Poeta

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  5. UMA ESCOLHA PRIMOROSA, VERSOS LINDOS.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/-

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  6. Qualquer feixe de luz que se infiltra traz a esperança...

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  7. Nada é absoluto, sim.
    Nada é exato, sim.

    Agora, um grande poema assim,
    ocupa um espaço ímpar, mas
    de beleza absoluta e de uma
    excelência exata.
    Bjs.

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  8. e que a escarpa consiga ter sempre essa luz
    mesmo que ela entre
    por meio das frinchas

    muito belo!

    beijinho

    :)

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  9. Grandes verdades nos transmite neste poema, caro Mar. Nada é absoluto. Nada é exacto. Assim sendo, aprender a relativizar as coisas da vida seria um grande passo para o nosso crescimento.

    Abraço.

    Olinda

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  10. Que haja sempre uma luz a iluminar o nosso caminho.
    belíssimo poema.
    Um abraço
    Maria

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  11. A beleza está precisamente na relativização das coisas...

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  12. Olá, Filipe.
    Não, nada é exacto, nada é absoluto: tudo é o que percepcionamos.
    abç amg

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  13. "Nada é absoluto"
    "nada é exacto"
    Exatamente por isso é que o voo dos poetas é luz a abrir caminhos polissémicos.
    Sempre a ler-te com respeito!
    Bjo, amigo :)

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