segunda-feira, 17 de março de 2014

UMA FLOR VERMELHA NAS PAREDES DO CAIS



                                                 Publicado no meu "Chão de Claridades"




Não sei quem és
mas pelos gestos vieste por bem
rasgar o vento com as mãos
a neve dos meus cabelos
e eu cansado de florestas apócrifas
das palavras em bando
comecei a plantar árvores
vi os pássaros regressarem
em acordes
a luz das noites que não dormem

na partilha de horizontes
o amor é revolucionário
voa nos mastros mais altos
garatuja búzios de sons
intervém por causas
muito para lá das utopias
e se levanta resiste
ao pôr do sol
mesmo que os barcos entristecidos
estilhacem
nos espelhos da água
algumas pedras com vida por dentro

registo por um instante
o ar que se move

pinto com a boca
na tua boca

uma flor vermelha
nas paredes do cais



 

36 comentários:

  1. Quando o amor chega a vida fica com mais côr e a nossa alma leve e solta.
    Belissimo poema.
    Beijinhos
    Maria

    ResponderEliminar
  2. Tenho esta página
    e as outras todas

    Falta-me que me digas
    (e escrevas)
    na página em branco
    palavras-pedra
    com vida por dentro

    Estás com uma dívida
    de escrita e este belo poema
    lembra-o

    ResponderEliminar
  3. Quando alguém consegue rasgar o vento com as mãos,todo o amor deixa de ser possibilidade para ser certeza, deixa de ser potência para ser acto.
    Um poema belíssimo!
    xx

    ResponderEliminar
  4. ~
    ~ Uma linguagem poética coerente, harmoniosa e perfeita.

    ~ Congratulações por este admirável poema. ~

    ~ ~ ~ Uma semana aprazível. ~ ~ ~

    ResponderEliminar
  5. "pinto com a boca
    na tua boca
    uma flor vermelha
    nas paredes do cais"
    Não podia terminar melhor este tão belo poema.
    Beijo.

    ResponderEliminar
  6. Talvez fosse uma papoila, ou quem sabe uma rosa.
    Sim, talvez fosse uma rosa, pintada nas paredes do cais.

    Magnífico!

    Abraço!

    ResponderEliminar
  7. Fabuloso poema! Que as flores renasçam no cais e inundem a cidade de cor.
    Bj Ailime

    ResponderEliminar
  8. Pela primeira vez sinto dificuldade em encontrar as palavras que gostaria de dizer.

    Poema belo de mais para ser disseminado com palavras que não lhe fariam jus!
    Alguém que nos surge sem sabermos quem é, e com ela se partilham horizontes feitos de deliciosas utopias, só pode terminar num entendimento perfeito. Resta deixar a marca de uma flor vermelha, pintada boca com boca num registo breve, em qualquer parede de um qualquer Cais!

    Um beijo amigável, ao som do marulhar das ondas.

    Janita

    ResponderEliminar
  9. O voo do amor é revolucionário

    numa beleza atemporal...

    Sinto também esta beleza

    atemporal na tua poesia.

    Este "Chão de Claridades" é

    imenso!

    ResponderEliminar
  10. O vermelho da liberdade, na ousadia de um poetizar.
    Abraço!

    ResponderEliminar
  11. O amor é tanto ! E como bem falas dele !

    Sim, os pássaros vão regressando, e cantam mesmo na noite.

    A foto ficou célebre e correu mundo. Eterna. Linda !

    beijos

    ResponderEliminar
  12. Estamos a aproximar-nos das pouco autênticas flores vermelhas... na lapela de alguns apócrifos que por S. Bento e Belém se vão lambendo!... Haja amor, o quanto baste, para rasgar ciclones e queimar os cravos secos que hão-de ser levados em cinzas pela brisa revolucionária dos inocentes!...

    Abraço


    ResponderEliminar
  13. Muito belo, teu poema!

    Gostei bastante do,

    "pinto com a boca
    na tua boca

    uma flor vermelha
    nas paredes do cais"

    Continuação de bons escritos.

    ResponderEliminar
  14. que dizer-te deste poema que tu não saibas?

    apenas posso comentar com palavras já ditas: "não andasse o mainstream cultural tão alienado, os tempos fossem mais claros e luminosos e a poesia fosse alimento, como devia, e o Eufrázio Filipe teria o merecido reconhecimento na literatura portuguesa, como um dos mais notáveis e inspirados poetas contemporâneos"

    abraço fraterno

    ResponderEliminar
  15. Fantástico...


    Feliz Primavera em todos os dias.


    Abraço

    ResponderEliminar
  16. Basta a árvore, o regresso dos pássaros.
    A flor vermelha não é acessória, é fundamental.

    ResponderEliminar
  17. "registo por um instante
    o ar que se move"

    E este,
    singular,
    tomada por teus versos!

    Abraço, poeta!

    ResponderEliminar
  18. São palavras que cantam e enchem a alma.

    Belo

    abraço

    ResponderEliminar
  19. A delicadeza do tema, e a boca, finalmente beijo, gravada na memória dos afetos.


    Bom fim de semana.

    ResponderEliminar
  20. Hoje no Dia Mundial da Poesia
    não podia deixar de vir aqui.
    O amigo é um poeta que muito
    aprecio.
    Sem poesia a vida seria muito
    menos sensível.
    Bj.
    Irene Alves

    ResponderEliminar

  21. Uma revoada de pássaros nas transparências da luz desse seu chão de claridades, agitando as consciências. E o amor, sim, é revolucionário.

    Abraço.

    P.S. Acho que vou levar uma das suas 'Romãs'. Tinha dito que não saberia qual escolher, mas vou ter que arriscar. Se mo permitir, claro...

    :)

    ResponderEliminar
  22. :))
    Boa noite de poesia, uma vez que é o dia mundial da mesma. Aqui todos os dias são poesia.
    Parabéns.:))

    ResponderEliminar
  23. Belíssimo! é Primavera tempo de paixões...
    Bjs

    ResponderEliminar
  24. Meus caros

    Todos somos poetas
    alguns tentam escrever
    ousam
    e assim na verdade não é poeta quem quer

    como se vê

    ResponderEliminar
  25. Boa tarde, Mar. Quando o amor acontece e sentimos que nos faz bem, nada melhor do que deixarmos tudo fluir do modo mais simples e natural possível!
    Recriamos sentimentos, ações, moldamos no imaginário sensações de prazer, que acabam fazendo parte de um só corpo, uma alma apenas!
    Parabéns!
    Tenha um fim de semana de paz!
    Beijos na alma!

    ResponderEliminar
  26. Um belíssimo poema que não é uma utopia, basta querer, basta sonhar!


    beijinho

    ResponderEliminar
  27. Os marinheiros colhem
    rosas vermelhas, ávidas
    no cais por amor.
    um outro, eu, não resiste
    ao apelo que vem do azul:
    num frágil bote sulca já
    as águas do mar, arável.

    ResponderEliminar
  28. Sim, o cansaço pode ser uma arma para a inércia. Contudo, quando na alma a matriz é de luta, então o cansaço torna-se armadura. Que volte a resistência e se pinte de novo vermelha...
    Bjo :)

    ResponderEliminar