quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A NOSSA ROMÃ (5)






Contra natura pajem ainda sem idade para ter espada, despida de névoas, derramou-se a romãzeira - num chão de águas para cumprir sementeiras - mas foi na fímbria do mar que te vi sedutora.
As margens não sei de quê soluçavam-te os olhos mas ainda havia espaço no bairro para cantar.
Os barcos ao vento tinham largado amarras e eu disse benditos os palcos silvestres onde se representa a vida no avesso, com pássaros a céu aberto.
Quando te vi assim despida de névoas, nem proprietária nem propriedade, recordei por instantes o Dique na Taprobana que me disse - não quero ser cão de barro como me encontraste à beira da estrada, na Volta da Pedra.
Quando te vi assim despida de névoas, recordei o podador a decepar-te e a dizer-me - quer uma árvore de fruta ou só para dar sombra?
Reconheço que à vista dos olhos, não é fácil desbravar caminhos nem palavras - a menos que sejam improváveis.
Às armas, às armas meu amor.


 

26 comentários:

  1. Isso, caminhos improváveis
    Às armas, às armas
    não quero ser homem de barro
    e ficar aqui parado
    a ver-vos ir

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  2. "quer uma árvore de fruta ou só para dar sombra?"

    O mais difícil é ver para lá dos olhos...

    Ando encantada com esta romãzinha.

    Beijo

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  3. Uma romanzeira, "nem propriedade nem proprietária" que ilumina um texto belíssimo e carregado de simbolismo.
    Um texto maravilhoso!
    xx

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  4. Os barcos ao vento tinham largado amarras...por isso as árvores não servirão apenas para dar sombra.

    Abraço

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  5. O Dique e a Romãzeira seguirão o teu caminho que é o deles.

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  6. Acreditemos na vitória, de uma e de outro.

    Abraço.

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  7. Andei a ler todas as romãs. A saborear cada bago fértil de imagética e simbolismo, desbravando caminhos e palavras...

    Obrigada, Mar!

    Beijinho

    Laura

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  8. "A vida no avesso, com

    pássaros a céu aberto."

    A vida seguindo em passos (voos)

    de liberdade respirados

    pelo o sentir...

    Simplesmente genuína, na

    beleza ímpar da tua poética...

    Gosto imenso de ler-te!!

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  9. Não, não é fácil desbravar caminhos nem palavras. Do improvável tudo se pode esperar.

    Beijo

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  10. Muito belo e emocionante o seu texto! Continuemos a desbravar! Bj Ailime

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  11. Boa noite,
    Linda romãzeira despida que provoca que as amarras se larguem à procura de novos caminhos.

    Abraço
    ag

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  12. Colhi todas as romãs, levo a alma carregada de sumo doce...

    Bom fim de semana, Eufrázio :)

    Um beijo

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  13. Sempre lindo o que escreve.Gosto muito.

    Beijinho.

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  14. na inocência das palavras libertas soltam-se todos os improváveis rumos.

    até a mulher se fixar (árvore- sombra/árvore-colheita?) no olhar do podador...

    muito belo, meu caro Eufrázio.

    abraço fraterno

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  15. Feliz aquele que planta, sem estar à espera de saborear o fruto. Feliz aquele cujos olhos, desbravam todas as palavras, principalmente as que revestem os caminhos mais improváveis...

    Deixo um abraço e vou feliz...:)

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  16. "benditos os palcos silvestres..." e essa romãzeira, e todos os outros versos.
    Bonita ideia o "Reconheço que a vista dos olhos...", os olhos, essas janelas da mente, mas onde também vive o coração.
    Continuação de bons escritos!

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  17. Sejamos árvore, de sombra ou de fruto, mas façamos a nossa parte.
    Cão de barro é apenas arte,
    que se parte e não reparte.

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  18. Não é fácil desbravar palavras e muito menos a vida, é mais fácil plantar em nós uma árvore que dê frutos e sombra também.
    Um abraço.

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  19. muito inquietantes
    os gestos deste poema.

    este registo de "a nossa romã", faz seguramente parte das tuas "coisas lindas", das mais lindas.

    beijo.

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  20. Mar arável,
    Estes cantos com o nome de "nossa romã" são verdadeiramente especiais.
    Parabéns.

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  21. Muito interessante mais uma vez!! Até breve!! Adorei passar por aqui no teu blogue e prometo voltar mais vezes para ver mais novidades. Beijinhos e fica com deus!!

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