sábado, 16 de novembro de 2013

A NOSSA ROMÃ (4)







A remoinhar desertos e tempestades, acordámos à vista da Taprobana que só existe por tão desejada.
Na mítica Taprobana, lá para os lados de um chão de azuis e outros céus estava tudo no seu lugar.
A fragância inebriante das algas nas narinas do vento, o bolor à superfície, os retratos nas paredes da casa - fios de música pendurados nas árvores de fruto para adocicar os melros, a partilha do pó pelos melhores objectos, a biblioteca
perfilada nas memórias, ténues sinais, utopias que alimentam o pomar onde plantamos sonhos em voz alta.
Na mítica Taprobana  não vi cegos de concertina nas esquinas , amanhãs violados por uma côdea, nem procissões.
Estava tudo no seu lugar. Até as palavras nómadas, reconstruídas a céu aberto, bosques vertebrados, espaços encantatórios, multidões em andamento para concertos de violino e piano, santuários de pássaros, relâmpagos às mãos-cheias a dardejar no cais.
A nossa romã.
Na verdade a Taprobana talvez exista se continuarmos a desbravar caminhos improváveis.
Atento militante da vida - o Dique, pela primeira vez, ladrou.
Pousei a caneta, rasguei a folha de papel.
Olhei-o nos olhos e disse-lhe com ternura - a partir de hoje és um cão.


 

21 comentários:

  1. Fiquei nesta Taprobana, queda de espanto maravilhado!

    Beijinhos Marianos! :)

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  2. É pá!!!

    Mesmo sem ler em voz alta e soletrada
    Fiquei com a voz embargada
    e disposto a trilhar caminhos improváveis...

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  3. Como o entendo e a "partir de hoje"... ser cão.
    Abraço.

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  4. Taprobana so existe por ser tao desejada... e pq la é tudo em seu lugar...

    Beijos...

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  5. "a partir de hoje"...Ser o que se deseja que seja...

    Um prazer
    ler os sonho que planta
    em voz alta.

    Beijo

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  6. Bastarão umas rosas brancas na mão, à chegada ao cais, e tudo será mais real!

    Belíssimo!

    Um beijo

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  7. Depois da viagem a realidade... Uma leitura maravilhosa.

    Beijo.

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  8. Continuaremos sempre a desbravar esses caminhos...

    Belo texto
    Abraço.

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  9. Um espanto!
    Até o Dique me comoveu. A Taprobana existe e haveremos de passar para lá ...

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  10. Também quero desbravar esses caminhos improváveis, saborear romãs até me saciar e passar para além da Taprobana.
    Quer o Dique ladre ou não, para mim, será sempre um cão!

    Beijo.

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  11. Sim, havemos de passar de novo a Taprobana e o Dique sera´ o primeiro a saber...

    Belissimo todo o texto.

    Beijos saudosos.

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  12. Ser cão-até pode nem ser assim tão mau.

    Já não sei nada.

    beijos

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  13. E sempre existirá a Taprobana, está no nosso sangue este desbravar de caminhos improváveis.

    Abrc e uma boa semana

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  14. O dom Sebastião em forma de lugar. O sonho, a demanda do que se sonha.
    A vida é feita de procura.

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  15. Encanto na foto espantosa, encanto no texto de descobertas!

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  16. Estou sempre à espera que algo
    mude "a partir de hoje".
    Gostei.
    Bj.
    Irene Alves

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  17. Nada detém os olhos, quando estes se alongam no horizonte...

    deixo um abraço!

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  18. Vamos desbravando até que o sonho se torne realidade. Bj Ailime

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  19. na Taprobana tudo é possível, até um cão ser folha de papel ainda não desbravada pelas letras do Poeta...

    boa semana.

    beijo

    :)

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