domingo, 27 de outubro de 2013

O PÃO CRESCEU NAS NOSSAS BOCAS



                                            publicado no meu  "Para lá do azul"



Ver-te assim tão indecifrável
nos contornos e nas arestas
ancorada nas marés
em chama viva
a entrar pela casa vazia
sem desistir do silêncio
a resistir mesmo quando doem
os passos e as pontes
fez-me pedir ajuda
a um cântaro de água fresca
às pedras que cantam e tropeçam
nos pés das videiras

foi assim que nos despimos
e vindimámos
para os barcos cumprirem
o seu efémero destino

As uvas morreram nas tuas mãos
mas o pão cresceu nas nossas bocas


 

22 comentários:

  1. ...mais um belo quadro, pintado com versos!

    Um dia, em todas as bocas, o pão crescerá sem que as uvas morram

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  2. Há muito que te não lia em alta voz...

    Abracinho grande

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  3. Quem dera não tarde o dia em que o pão cresça em todas as bocas.
    Um abraço e uma boa semana

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  4. Do pão e das uvas: a poesia a saber a mosto.

    Abraço

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  5. O destino náufrago, que há de sempre ancorar no fundo do mar da poesia!

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  6. A poesia sem sombra de duvidas é linda... mas me encantei com a imagem...

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  7. Decorei este poema, a primeira vez que o li. Consigo declamá-lo em voz alta, de olhos fechados. Não o fiz a propósito. A minha memória grava tudo o que mais me toca...
    Este poema é belíssimo!


    Sónia

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  8. As pedras que cantam, para acordarem os homens.

    Abraço,

    mário

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  9. Os sensuais contornos de uma ambiente campestre a fazer adivinhar fartas colheitas.

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  10. Perde-se alguma coisa em contrapartida ganha-se outras.Ainda que cambaleante, a vida é mesmo assim...

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  11. Olá! Amei a poesia, aliás o blog todo!Se a Srta permitir a estarei seguindo, abração

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  12. Um poema a ser saboreado vagarosamente, verso por verso. Alimento e fome. Uma combinação mais que desejada, alcançada.


    Boa noite.

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  13. corpos vindimados, como barcos furtivos...

    belíssimo, meu caro Poeta, caçador de metáforas.

    abraço

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  14. cheira ainda a mosto e ao cheiro do pão...

    e os pássaros ainda voam ...

    :)

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  15. Um poema enigmático

    onde navegamos por um

    oceano poético irresistível...

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  16. Ainda bem que o pão cresce nas suas mãos porque cada vez há mais pessoas famintas (de liberdade, de razão, de humanidade).
    Beijinho.

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  17. A vida é efémera e as uvas morrerão, para delas renascer o líquido doce, dourado e quente, que será como fermento a fazer crescer o pão em todas as bocas.

    Muito belo, este despir de preconceitos que faz cumprir o destino dos barcos, ainda que sigam um rumo com destino incerto...

    Um abraço.

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  18. O poema é de um lirismo muito bem construído, numa imagética de amor e de esperança. Belo.

    bjs

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  19. No mar ou em terra, que nunca faltem as uvas e o pão para nos matar a fome do corpo, mas também a poesia, para mitigar a sede do espírito.
    Parabéns pela tua, que amei.
    Abraço.

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  20. Para quê decifrar metáforas, se apenas contemplando se sacia a sede!!!!

    Magnífico!!!

    Abraço e dia lindo!

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