Nesta ilha de náufragos e jangadas imperfeitas as romãs abriam os lábios explodiam multidões. Os cães adivinhavam o brilho dos relâmpagos e tu caías abrupta nos meus braços.
Quando te ouvi assim a cair dos céus, desamparada a lubrificar a terra, não sabia o teu nome, muito menos como te beijar os pés.
Quando te vi assim pendente, incolor, nua de tudo, chamei-te um nome qualquer e tu chegaste a cântaros, tão líquida por entre os dedos.
Recebi-te quase ninfa, de braços abertos na minha escarpa e assim ficámos vagarosos instantes a respirar eternidades.
Ainda hoje não sei quem és senhora.
Trazias nos cabelos um mar desgrenhado a derramar estrelas em cânticos sibilinos, barcos do outro lado do cais.
Fiquei sem saber se existias de facto ou teria sido eu a inventar-te.
Escancarei as janelas, acendi um fósforo no alpendre da casa, e tu lá estavas a cair dos céus, sem muros nem ameias, a cantar.
Visitavas museus, sombras de luz mas não eras simpatizante da luta de classes. Tinhas um Cristo crucificado nos olhos, uma vontade serena de liberdade, uma biblioteca onde se destacam textos apócrifos mas também vivificam Jorge Amado, Soeiro Pereira Gomes.
Se tivesse que te desenhar faria um gesto, um risco a carvão no ar que respiramos, bebia-te às mãos cheias e partia até ao fim do voo inventado, mas deixaria na tua árvore preferida uma romã.
Até as romãs que não andam à chuva, podem molhar-se!...
ResponderEliminarAbraço
Bela e liquida a prosa que se bebe como se de poesia se tratasse.
ResponderEliminarAbraço
Tenho que fazer alguma coisa com "isto", de forma a que leia repetidamente o que escreveste
ResponderEliminarÉ belo demais para que fique ausente...
Nossa!!! lindo lindo lindo... fui lendo rapido para ver como terminava e ao terminar quis voltar a ler... maravilhoso poema...
ResponderEliminarbelo...acho que o melhor do melhor do que já li teu .
ResponderEliminar:)
A água que fecunda, a chuva que tudo lava(?), o sonho que alimenta, a prosa feita poesia.
EliminarAbraço.
Não sei se é da chuva que fala, se é das romãs que se desfazem em sangue, se são apenas palavras que ficam a escorrer dentro de nós.
ResponderEliminarMuito bonito.
Belas as palavras!
ResponderEliminarContinuação de bons escritos.
Sorriso
Uma "romã" linda e esclarecida.
ResponderEliminarAbraço,
mário
Linda esta prosa poética.
ResponderEliminarUm abraço
Intensamente belo :)
ResponderEliminarMuito muito belo! Obrigada
ResponderEliminarBom fim de semana
Um daqueles raros poemas
ResponderEliminarque nos captura e paralisa
em minutos eternizados
de magnitude poética...
Gostei muitíssimo!
ResponderEliminarQuereria ser menos banal neste comentário, mas... gostei demasiado para poder fazer uma análise objectiva.
Abraço!
"vagarosos instantes a respirar eternidades." assim fiquei, ao lê-lo...
ResponderEliminarBeijo
Extasiada...
ResponderEliminar"a respirar eternidades."
Belíssimo!
Beijo carinhoso, poeta!
Intensa e apaixonante sua poesia.
ResponderEliminarÁgua purificadora que abençôa a vida e a poesia. Um texto mágico, de tanta beleza que encerra.
ResponderEliminarDeixo-lhe o meu abraço!
Texto poético para o qual não existem palavras que possam comentar, tal a sua dimensão!
ResponderEliminarLi, reli e refecti. A única coisa que me ocorre dizer é que o fruto escolhido para deixar na árvore preferida dessa Musa, sublima tudo o que foi escrito, já que a romã simboliza a paixão e a fecundidade...
Muito, muito belo!
Um abraço!
ResponderEliminarNada, aqui, me obriga à significação.
Este é de comer, alimento dos "esfomeados de sonho" como diria Natália Correia.
Um beijo
Estimada Lídia
ResponderEliminargrato pela memória da nossa Natália
com quem partilhei longas viagens
Bjs
Volto para "reclamar" :)
ResponderEliminarE que para ficar tua seguidora temos que descer ao rés-do-chão.
Beijinho.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEstimada GL
ResponderEliminarNão entendi a mensagem
Aqui na escarpa escrevo à mão
quase nada sei de máquinas
fusível é alta tecnologia
Bjs tantos
Muito bem!
ResponderEliminarPasso a explicar.
Há bastante tempo que queria ficar Seguidora do MAR ARÁVEL, mas onde estavam os Seguidores?
Hoje decidi pesquisar melhor e?...
E, eis senão quando, encontro os ditos mesmo no final da página, ou seja no "rés-do-chão".
Resumindo. Após estas diligências, vou, finalmente, ficar por aqui!
Beijinho.
P.S. O MAR ARÁVEL já está na minha lista de blogues que estou a seguir.
há fomes assim: que que se incendeiam no rosto líquido de um nome qualquer.
ResponderEliminarcomo bagos de romã - colhidos bago a bago...
Abraço, Poeta maior
Belíssimo texto para receber a chuva de braços abertos!Ah! E a romã que se abre e se mostra cheia...linda...sumarenta!
ResponderEliminarUm abraço.
M. Emília
Fico com o comentário da Lídia _ o poeta é esse uivo esse instantâneo de coisas 'uma imprudência a mesa posta'... estou a degustar...
ResponderEliminarparabéns
Inquietações, dúvidas...é a vida resumida numa romã.
ResponderEliminarLindo!
beijinhos
ResponderEliminarUma infrutescência que nos lava a alma.
Abraço
Olinda
eu gosto dos barcos do outro lado do cais
ResponderEliminare dos novembro-romã
um abraço
Fabuloso poema repleto de belíssimas metáforas que me prenderam aqui por alguns instantes. Bj Ailime
ResponderEliminarA romã é dos mais belos frutos que que existe, tal como o seu texto a transbordar uma poesia que apetece comer.
ResponderEliminarSoube-me tão bem!
xx
Mar Arável,
ResponderEliminarA Romã é uma fruta muito estético. Eternizou-a.
Beijinho. :))
Eu também gosto muito dos
ResponderEliminarNovembro Mágicos e de Romãs.
E do que escreve.
Bj.
Irene Alves
Pode ser o fruto do paraíso, a romã. É aquele que o poeta quiser.
ResponderEliminarMagistal este e os outros textos..
ResponderEliminarAbraço enorme...
:)