Cantadeira de histórias verdadeiras decidiu fazer uma viagem de sonho.
Quando ali chegou, chovia a cântaros. Arregaçou as saias e descalça conseguiu chegar ao "Hotel das Dunas" .
Viajou numa avioneta que paciente aguardava em pleno voo o trabalho criativo de um velho - montado num burro a afugentar cabras no piso térreo do aeroporto.
A ilha era um corpo branco de areias finas onde aves a pique mergulhavam vertiginosas em parceria cúmplice com pescadores de lagostas, que só abriam os olhos debaixo de água.
Ao entardecer as dunas arredondavam-se, esbracejavam doces quando a brisa morna lhes aflorava o corpo.
Na ilha não chovia - só à vista dos habitantes que a viam cair no mar. As cabras à solta, de bocas gretadas, comiam pedras e o "tarafe" espontâneo medrava na paisagem deserta - mas por fim choveu com abundância e o povo sereno saíu à rua hilariante. Houve quem tomasse banho nu em cima dos telhados, a proclamar a independência.
Quando viram a senhora chegar, entenderam ter sido uma bênção. Rodearam-na em festa, entoaram cânticos e louvores. Nada de preces.
Anos volvidos, nunca mais choveu, mas a senhora ali ficou encantada, a despertar silêncios, a hastear memórias da chuva.
Em noites de lua cheia, ainda hoje sobe à duna mais alta - despe-se de tudo, desfia-se em canções lindas que ninguém entende, mas todos aplaudem.
Chamam dona Arlete, à senhora das meias pretas.
Acreditam que um dia vai de novo chover, na boca das sementes.
Também eu acredito que um dia vai chover de novo :)
ResponderEliminarE choverá abundantemente,quando dona arlete abandonar os sonhos da ilha.
ResponderEliminarAbraço,
mário
"Acreditam que um dia vai de novo chover, na boca das sementes. "
ResponderEliminaracreditar já é meio caminho andado para que possa acontecer. a fé, dizem, move montanhas...
estimado amigo, gosto meu em lê-lo, sempre.
fraterno abraço
Mel
Belo!
ResponderEliminarQuando a prosa é uma imensa vaga de poesia...
Beijinhos e saudades de por aqui pass(e)ar :)
mariam
Lindo e inspirado texto! Também acredito na chuva regeneradora. Bj Ailime
ResponderEliminarsó o acreditar já é tanto....
ResponderEliminarbonito poema
beijo
Enquanto não chove na boca das sementes (que não tarde), chove emoção e muita poesia nesse Mar Arável, de sonhos...!
ResponderEliminarBeijos, Eufrázio!
;))
Nada como o surrealismo para nos protegermos quando estamos nus e chove...
ResponderEliminarAbraço
que bonito, caramba. :)
ResponderEliminarEstranho...
ResponderEliminarA aridez é um fenómeno terrível, tal como as chuvas em demasia.
A inconstante insatisfação no tempo que corre.
Não sei se a minha leitura é a correta mas as marcas deixadas no tempo nunca morrem.
Abraço!:)
Querido Poeta
ResponderEliminarAs palavras ficaram esperando a chuva das semente, não as tenho para comentar.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Poética prosa.
ResponderEliminarSemeadas.
Abraço, poeta!
Tudo é possível, como num sonho...
ResponderEliminarBeijo.
Esta Dona Arlete traz poesia nas vestes e nas danças...Abraço, Poeta.
ResponderEliminarVéu de Maya
há mulheres assim - senhoras da chuva e de outras tempestades...
ResponderEliminarsabes do meu apreço por este teu registo - insuperável!
abraço, Poeta.
Passei pra deixar um beijo.
ResponderEliminarComo eu gostava de ser a dona Arlete!
ResponderEliminarSonhadora
merecedora de um poema lindíssimo
determinada mas tranquila
símbolo da liberdade
amante do luar nas dunas de prata
aplaudida pela chuva
bênção em terra seca...
Lindo!
princesa
goste muito
ResponderEliminarum prazer para ler
cumprimentos
Muito bonito! Gostei da senhoa das meias pretas que espera pela chuva...
ResponderEliminarBj*
Transitas pela prosa de forma tão bonita quanto nos versos.
ResponderEliminarParabéns.
Há certos momentos que somos como Arletes ,capazes de fazer chover diante das noites de lua cheia...
Gosto do conto e também de chuvas assim 'a cântaros',
fica o abraço
É preciso acreditar! Seja na mulher da meia preta, seja na chuva benfazeja.
ResponderEliminarObrigada por sua presença em meu blog. Gostaria de pedir permissão para usar seu poema "Roubem-me tudo"em uma postagem minha. Singelo e profundo, encantou-me. Abraços desta que muito aprecia seus versos.
...como o simples, orla a beleza de um querer ler...
ResponderEliminarBelo!
Gostei da prosa poética... :)
ResponderEliminarBom fim de semana!
E eu também acredito...
ResponderEliminarUm beijo
Muy lindo relato.
ResponderEliminarQue llueva para desde el cielo ..amor y paz.
mar
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarComo dizia o poeta... "o sonho comanda a vida"
ResponderEliminarQue seria da Vida sem sonhos e saber esperar pela chuva?
Atrevi-me a "roubar" um poema... algum inconveniente o mesmo será de imediato retirado.
Grata.
Um abraço
ResponderEliminarA chuva, uma chuva boa e mansa, lava-nos o espírito e dá-nos alento.
Abraço
Olinda
Vidas ao sabor da vida.
ResponderEliminarbeijo
Suficientemente surrealista para corresponder á realidade...
ResponderEliminarHá de chover, mas vai demorar, tal como aqui...
ResponderEliminarUm abraço.
:)gosto
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