segunda-feira, 3 de outubro de 2011

À PERGUNTA DE OUTROS MARES




                                                                       DELACROIX

Quando foi urgente criar um deus
as uvas ainda não estavam maduras
no corpo das videiras

Inocente subiste ao púlpito
das vinhas decepadas

improvisaste um sermão
ergueste o cálice
e a companha exausta aprendeu
que nada é perfeitamente inútil

Após as vindimas
bebemos do mesmo vinho

Foi quando enfunaste as velas
começaste a despontar relâmpagos
nos mastros mais altos

quando afloraste o chão com um beijo
partiste sem destino
por sobre as águas revolto

à pergunta de outros mares



34 comentários:

  1. "partiste sem destino
    por sobre as águas revolto"

    Como diria meu filho: adrenalina!

    Ou, como diria eu mesma: cutucar onça com vara curta.

    bjs

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  2. Poeta

    Como sempre belo...e como sempre naveguei no mar revolto das tuas palavras.

    Um beijinho
    Sonhadora

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  3. oiii
    adorei o blog
    to seguindo
    bjo

    http://rgqueen.blogspot.com/

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  4. "e a companha exausta aprendeu
    que nada é perfeitamente inútil"

    Caro Eufrázio
    Acabo de escrever num comentário num blogue amigo, que estou revoltado, o que não é bom, porque se perde o discernimento.
    Ler e tentar interpretar cada um dos teus poemas, para mim funciona como um calmante, talvez com o mesmo efeito do que beber um bom copo de tinto, que até pode ser da tua vizinha Palmela.
    Abraço

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  5. Sem destino mas com rumo certo num mar revolto.

    Um abraço,
    mário

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  6. O mar é uma paixão que acalento desde a infância. Ele é sonho, vida, morte, paz, amor...
    Belo poema!

    Bem-hajas!

    Abraço fraterno

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  7. Será que um dia as uvas amadurecerão, ou será esta a nossa condição?

    Abraço

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  8. Mar Arável,

    é muito belo este poema. A condição de ser ... partir.
    Abraço! :)

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  9. E andamos também à pergunta de outros mares...

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  10. Em mares revoltos se parte, muitas vezes sem destino. Aqui, neste mar, permanecemos ou partimos, quem sabe...

    Abraço
    oa.s

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  11. A chegada é tão importante como a partida, a partida é tão importante como a chegada. Da mesma forma que se brinda a chegada, é necessário saber brindar uma partida.O restante guarda-se.

    Um abraço

    Blue

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  12. Mar Arável,

    Os seus serras da Estrela têm o poder de olhar as estrelas por isso eles são mais filósofos do que nós, de certo, e mais felizes.
    Adorei o seu comentário.
    Abraço!:))

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  13. Navegar é preciso,
    viver não é preciso.
    Navegar é absolutamente imprescindível,
    tantos mares...assim, viver se torna preciso.

    5 bjs das cozinheiras

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  14. OUTRO...DIONISIO.Dionísio, Diónisos ou Dioniso (do grego Διώνυσος ou Διόνυσος) era o deus grego equivalente ao deus romano Baco, das festas, do vinho, do lazer e do prazer. Filho de Zeus e da princesa Semele, foi o único deus filho de uma mortal. Beleza de texto...Magistral!

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  15. Beija-se a segurança do chão e parte-se para a incerteza do mar, eventualmente com esperança.

    Um abraço e parabéns pela escolha da imagem que tão magnificamente conjuga as palavras.

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  16. Feliz de quem pode ir "à pergunta de outros mares".
    Abraço

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  17. "...Após as vindimas
    bebemos do mesmo vinho

    Foi quando enfunaste as velas
    começaste a despontar relâmpagos
    nos mastros mais altos

    quando afloraste o chão com um beijo
    partiste sem destino
    por sobre as águas revolto..."

    ... há sempre um destino, quem sabe, de reflexão!?

    incrível, o teu versejar, Mar :)
    beijo.

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  18. assim as Vestais antigas. que em sua intensidade cegam os poetas.

    e partem...

    abraço, Poeta amigo.

    grato pela fraterna afectividade no Relogio de Pendulo.

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  19. Agora que tudo normalizou e já não há "coelho", venho à procura do mar, deste mar por onde já passei sem saber o que dizer. Acho que pela primeira vez não digo mais nada...apenas que estou aqui e senti.

    Muito bonito, como sempre.

    Beijos

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  20. A necessidade de procura! A necessidade da poesia, para se aprender...

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  21. porque há mar e mar e há ir e voltar

    aqui está mais um belíssimo poema

    muito belo

    beij

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  22. "...quando afloraste o chão com um beijo ... "
    é, penso eu, Eufrázio, esta nossa capacidade de beijar o chão (pátrio), que nos impulsiona na procura de nós mesmos e de respostas - o chão que nos acolhe a queda, permite-nos também, que, e com a sua ajuda, nos reergamos.

    ... e nada, mas nada mesmo, é inútil. sequer morrer de pé, como as árvores que, secas, se não dão frutos, enfeitam e humanizam as paisagens.

    um abraço, meu amigo, sabe da minha admiração.

    Mel

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  23. os deuses são assim

    ou chegam cedo demais ou já partiram

    há perguntas de muito mar


    um abraço

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  24. Gostei muito do poema, mas devo dizer que "à pergunta de outros mares" é um verso sublime.
    Obrigada!

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  25. Ah, vinho danado!...


    "...e a companh(I)a exausta aprendeu...)

    Do alto da exaltação ao "beijo no chão", muito vinho escorre pelas encostas da garganta, até se estatelar lá no fundo. Depois, sobe por ali acima, até ao monte das ideias mais quentes e... é o diabo!...



    Abraço

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  26. Por isso mesmo, " nada é perfeitamente inútil".
    Muito menos os poemas belos que sabem das uvas maduras.

    Um abraço, Eufrázio.

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  27. Somos tão errantes quanto o mar e os ventos que correm sobre estes...
    PS: agradeço a sua presença no meu blogue e vim retribuir :)
    Gostei muito deste espaço onde o mar é o meu elemento vital :)
    Tem coment no meu blogue
    Abraço

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  28. Li e senti, inúmeras vezes o seu poema, e não sabia o que dizer. Continuo sem saber o que dizer, de tão soberbo que é.
    Acho-o emblemático (e definitivo), com tantas possibilidades.
    Ritualista, denunciador, filosófico.
    Definitivamente não sei o que dizer.

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