quinta-feira, 7 de julho de 2011

NEM TODOS OS CÃES SÃO DE BARRO (1)



Após longos tempos na cidade a ver o mar pela trapeira decidiu arrumar os tarecos e partir.Comprou um cão mais um punhado de terra.Construiu um casebre um canil um galinheiro e uma horta.
Começou a apreciar as estrelas o cantar dos pássaros silvestres o rumor das árvores.Aprendeu a assobiar com o vento.
Levantava-se cedo só para ver o nascer do sol dormia de tarde e levantava-se só para ver o pôr do sol.Trabalhava à noite a ouvir jaze.Tinha finalmente o horário dos padeiros.
De quando em vez visitava o café do senhor Abílio para saber como plantar uma couve se o cão podia comer entrecosto que bolbos floriam em cada estação e àcerca do míldio a propósito de umas parreiras que medravam dispersas no terreno.
Nunca mais quiz saber da cidade.Chegou mesmo a conhecer o nome dos pássaros pelo seu canto.Não amava mas estava apaixonado.
Um dia o cão que era de barro disse-lhe
- Vê lá se me pintas de azul estou com saudades do alto mar.
- Também tu cão?




47 comentários:

  1. Belíssimo este despertar. É, de alguma forma, semelhante ao meu, com a diferença que nunca deixei de despertar no campo com o azul (do rio) a dulcificar-me a alma. Tristeza agora a de não ouvir o chamamento do meu Viriato, o serra da estrela com quem partilhava o pequeno almoço. Diz quem sabe que vive no reino (celeste) dos cães, pintado de azul... Eu, que sou mais terra-a-terra, digo que voltou ao pó, é mansidão e greda, a florir nas buganvílias.

    Meu bom amigo, tenha uma excelente semana.

    Abraço
    Mel

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  2. Caro Eufrázio
    Consegues nesta pequena ficção e no momento em que a publicas tocar profundamente a minha sensibilidade. Afinal,precisamos de tão pouco...
    Abraço

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  3. O encantamento leve do tempo que se suspende... só porque não precisamos dele.

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  4. É... parece que saudades temos de grandes coisas, principalmente de grandes amores.

    bjs

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  5. Caro Eufrázio
    Palavras de uma profunda sensibilidade.
    Existe sempre algo que nos faz sentir saudade, por vezes só se dá importância quando a deixemos de ter.
    Beijo

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  6. Como sempre muito profundo e belo, seja em verso ou em prosa.
    Voltando e deixando um beijinho.

    Sonhadora

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  7. Não há nada como usufruir do campo e do mar ao mesmo tempo... pelo menos, o cão não teve saudades da cidade em si... :)) Bela história e é bem verdade que nos falta sempre algo quando fazemos essas escolhas... :)Bjo

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  8. O chamamento da terra, das origens soa assim, de quando em vez. E como é difícil resistir-lhe... Até para um cão (de loiça).

    Um beijo

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  9. Quando os pirilampos começarem a iluminar-lhe as noites, até o cão se rende de vez...

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  10. Adorei o texto!
    Aguardo pela continuidade do mesmo.
    ... Porque resultaria um belo romance.

    Beijo.

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  11. Um dia, quem sabe, ainda vou deixar a cidade mas... não vou querer levar um cão de barro mas um daqueles que ladra e morde ;)

    Bjos

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  12. Olá Mar Arável,

    Já percebi que também gosta de Azul e de Pássaros...;)

    Um abraço

    Blue

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  13. Ora, aí está um poema disfarçado de prosa, amigo Filipe!
    Aquele abraço.

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  14. vim reler-te :)

    dizer-te que essa tela é fabulosa
    e
    que aguardo os próximos capítulos
    porque
    .
    .
    .

    um beijo!

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  15. As coisas simples e importantes... aí estãO!"

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  16. Belíssimo.

    São nesses momentos, aparentemente simples, que entendemos o que vai na alma.

    Beijo

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  17. Mar,

    Viver apaixonado assim é de uma beleza, de uma serenidade! Mas o amor é imperativo nos sentimentos.

    Beijos com carinho e bom fim de semana.

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  18. Parece q o mar deixou saudades...

    beijos e ótimo fds!
    Mariz

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  19. o mar pode ser em muitos lados. não precisa ser na cidade.

    um texto que me inquietou e que vou seguir atentamente.

    bom fim de semana!

    beij

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  20. Gostei da história e sempre me d«fascinou o horário do padeiro: trabalhar quando os outros dormem, etc. Ainda para cima fazendo uma coisa bela: pão...~
    O seu cão de barro é bem real, humano, inteligente...Um companheiro que é um poeta também - e gosta do azul!
    Eu tive um cão real, belo e inteligente.
    Hoje tenho um ratinho que já conhece...
    Bom domingo para mar!
    o falcão

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  21. ironia de um cão que não ladra mas suspira

    pelo mar

    gostei!


    um abraço

    manuela

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  22. COM UM BEIJINHO E BOA SEMANA

    COMO FAZER PARA VIVER


    A vida é um encontro e desencontro
    De coisas lindas e feias
    De risos e de lágrimas
    De dor e alegria
    De sofrimento e felicidade.

    A vida é isto e muito mais
    E mesmo com o ser e não ser
    Muitas vezes temos que esperar
    Para que passe o mal e fique o bem.

    E mesmo depois de muito cansaço
    Procuramos a tábua de salvação
    Vamos agarrá-la com as duas mãos
    Para que a vida seja salvação..

    LILI LARANJO

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  23. Não amava mas estava apaixonado.

    Não chega só estar apaixonado :)

    Bjos

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  24. Adorei, amigo Eufrázio.

    Admirável!

    Depois de um grande poeta, temos um grande contista.

    Muito interessante, muito realista.

    Fiquei fã, como sempre o fui de outros escritos.

    Fã também da fidelidade e da constância ao longo do tempo, com a qual me sinto muito agradecida.

    Depois dos livros de poesia que tenho cá por casa, quero também um livro de contos, ou o romance bucólico que vai sair daqui.

    Havemos de conversar sobre isso, porque este breve trecho promete tanto que me deixou embasbacada, :))

    Beijos
    Branca

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  25. _______________________________


    Na simplicidade encontramos mais motivos para sermos felizes... De tudo que era tão bom, apenas a saudade não se convenceu...


    Beijos de luz e o meu carinho!!!


    ____________________________

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  26. O sonho
    de tantos
    abrigar-se longe das cidades, os pés possíveis na terra.
    O azul inventa-se, o mar é logo ali!
    Abç

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  27. Eufrázio, a saudade tem cores que por vezes desconhecemos (e sons e sabores e odores...). O cão conhece a cor azul da saudade. Também você Eufrázio?

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  28. talvez haja demasiados cães de barro nas nossas vidas.
    Gostei imenso.

    Um abraço

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  29. viajei, neste mundo simples que fala...
    o cão, um beagle

    um abraço
    oa.s

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  30. E o mar ali tão perto , tem as cores que lhe quisermos dar, azul, verde ou amarelo, consoante as cores dos pássaros que o sobrevoam...
    Um abraço.

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  31. quem sabe o amor não chega a partir da simplicidade que embeleza essa escolha de vida?

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  32. Demorei tempo a perceber que, afinal, era um cão como tu e como eu.
    Abraço

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  33. Quando se larga o que nos prende, um dia sentimos saudade.

    Um beijinho Eufrázio

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  34. por vezes penso que a racionalidade acaba por nos distanciar dos sentimentos....

    um beijo!

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  35. Também ando precisando que alguém me pinte de azul.

    bjs

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  36. É possível estar apaixonado e amar... mas não para sempre!
    também tenho muitas saudades do tempo da paixão.

    Bjs

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  37. Caro amigo Eufrázio;
    Excelente texto; afinal pode-se ser feliz com tão pouco. Mais importante que ver, é saber olhar; a felicidade pode estar (está) nas coisas simples que nos rodeiam e não na megalomania sufocante que nos deprime e condiciona as nossas vidas.
    Gostei muito.
    Um abraço.

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  38. Caro amigo Eufrázio;
    Excelente texto; afinal pode-se ser feliz com tão pouco. Mais importante que ver, é saber olhar; a felicidade pode estar (está) nas coisas simples que nos rodeiam e não na megalomania sufocante que nos deprime e condiciona as nossas vidas.
    Gostei muito.
    Um abraço.

    Domingo, Julho 17, 2011 4:20:00 PM

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  39. Estava apaixonado, mas o cão desejou voltar ao mar...
    A escarpa e as dunas de areia aguardavam-no para com lágrimas de sal, o poderem amar...
    Lindo!

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