quarta-feira, 30 de junho de 2010

NO OUTRO LADO DO SILÊNCIO



Se o Verão fosse um rasto de luz
com vida por dentro
um livro aberto sem repouso
alguém teria de lhe rasgar o ventre

mas o Verão é apenas sol

a queimar o que resta do pasto

tresmalhado pastor

rebanho sem memórias

um cão que dorme

à sombra do cajado


Que importa o Verão

se o teu corpo é de tempestades

e até parece que há sempre algo

que me pertence em ti

só de pensar

a pedra sobre a pedra

o verso e o anverso


Que importa o Verão

se o sol queima

e os cães ainda não acordaram

as sombras que ladram

estateladas

no outro lado do silêncio


38 comentários:

  1. Assim é o poema: a gente olha e vê as próprias experiências transpostas em versos. E o amor tem suas próprias estações, eis o que fica evidente!
    Abraços,
    Tânia

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  2. gostei muito deste verso final. é uma imagem fortíssima e bela. um grande beijinho.

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  3. ...que importa o verão se o sol queima.

    Bonito poema e casa muito bem com a imagem.

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  4. Que bela ilustração!
    Que excelente
    entrelace de palavras!

    Desta uma vez
    deste lado do silêncio
    a sua criatividade
    relembra-me o Alentejo
    Os 44 graus à sombra
    As trovoadas secas
    Os cães dos pastores
    Tantos odores
    Tantos amores
    Os cajados
    de quem
    cuidadosamente
    me esculpiu
    Os afectos
    e os teus versos!!!

    Mais uma vez
    Parabéns!

    princesa

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  5. Ontem não consegui comenar aqui mas voltar a ler trouxe me, de novo, o gosto por cada palavra e a ternuro desse "outro lado do silêncio".

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  6. "Um livro aberto sem repouso". De facto, esta imagem não se aplica ao Verão. Aplica-se à própria Vida.

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  7. Bonita reflexão sobre o "anverso" do Verão e das coisas. As imagens condizem com rigor.
    Parabéns.

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  8. "mas o Verão é apenas sol

    a queimar o que resta do pasto"

    Imagens fortes que nos remetem a espaços físicos e mentais que não sabemos ou não queremos desbravar.

    L.B.

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  9. "Quanto mais estendermos nossas mãos ao próximo... mais Deus se aproximará de nossas mãos. "
    Bom fim de semana
    Bjs

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  10. Este teu Verão é belíssimo.

    A ideia de esculpir a harmonia das formas é tão sublime quanto os versos que a enquadram.

    Um abraço

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  11. tórrido Verão. no anverso da Palavra - corpo do Desejo.

    belíssimo, Poeta!

    abraços

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  12. Com esta ilustração
    as mesmas palavras
    transportam me
    para outros silêncios
    para outras memórias
    que
    silenciosamente
    quebram
    cada instante
    e projectam o futuro
    nascido dum
    longínquo passado
    num presente
    de estrelas escondidas
    até que
    o amanhecer
    aconteça.

    princesa

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  13. no outro lado há um silêncio sim... e talvez ele seja maior no verão!
    forte... gosto

    um abraço
    luísa

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  14. porque tudo muda dependendo de que lado se olha... sempre mágico o olhar das palavras e imagens tão bem "casadas".
    beijinho

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  15. Estas palavras bonitas lembraram-me outras de Eugénio de Andrade. Tome-as como um elogio.

    O SILÊNCIO

    Dai-me outro verão nem que seja
    de rastos, um verão
    onde sinta o rastejar
    do silêncio,
    a secura do silêncio,
    a lâmina acerada do silêncio.
    Dai-me outro verão nem que fique
    à mercê da sede.
    Para mais uma canção.

    Eugénio de Andrade, Rente ao Dizer, 25

    :)))))

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  16. Do outro lado... o eco queimado, do que resta do pasto.

    Um abraço

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  17. Vim à tua encosta, espreitar o outro lado do silêncio...névoas, sonhos, desejos e luzes.Belo.
    Abraço

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  18. Belo! Muito!
    Bebo as palavras e faço-me ao mar...

    Beijos.

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  19. Existem textos, estimado Eufrázio, que nos impõem o silêncio, e onde nos quedamos, vezes a fio, em leituras sempre renovadas. Este é um deles, tão profundo se revela ao meu olhar.

    Bem-haja, meu amigo.
    Fraterno abraço
    Mel

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  20. Tanto dizem as imagens... O poema reflecte-as como o sol reflecte o Verão. Mas é verdade, o Verão é apenas uma estação da vida. Por vezes é a vida que passa ao lado do Verão e nem vemos que o Sol nem sempre brilha com a mesma intensidade para todos. Alguns recebem-no no silêncio da sua sombra.
    Bonito poema.

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  21. Para o comum dos mortais o Verão é pausa, simplesmente, mas também esquecimento. Por um momento consegue-se colocar, para lá da cortina, a condição de refém, activar a sensação cinéfila de liberdade. Mas o Verão é efémero. E a inquietação dos dias, paciente, espera pelo protagonismo. Que é já a seguir.

    Abraço

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  22. Quantos dos nossos silêncios são raivas ao contrário...
    Muito belo, poeta!

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  23. neste lado nunca há silêncio. antes palavras que desafiam e nos desfiam e falam e nos requestionam.
    e é sempre bom regressar a este mar!.



    sempre.




    beijo.


    abraço.


    sempre.



    (piano)

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  24. As sombras, o sol, o silêncio. A trilogia de nós.
    Lindo
    Bj.

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  25. Ler o teu poema depois deste dia tórrido...

    Foi bom...
    Beijos

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  26. Na lapidação do tempo tudo se torna perfeito... lentamente...
    Um abraço
    Chris

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  27. Essse outro lado do silêncio e essas imagens belíssimas.

    Beijo.

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  28. "mas o Verão é apenas sol
    a queimar o que resta do pasto
    tresmalhado pastor
    rebanho sem memórias
    um cão que dorme
    à sombra do cajado" ...

    Muito bom!

    Abraço.

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  29. de facto ,que importa o verão se ao mesmo se segue ,ininteruptos e iguais ,o outono ,o inverno e a primavera no "outro lado do (nosso) silêncio"?


    .
    um beijo

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  30. Uma visão interessante do Verão, feita através de um excelente poema.
    Parabéns pela qualidade poética que é bem patente nas tuas palavras.
    Abraço.

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  31. É no outro lado do silêncio que o mundo se desenrola queimado pelo Sol que as sombras não conseguem esconder...

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  32. Isso é de ler e reler e reler...
    Parabéns!
    Abração.

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  33. Foi preciso rasgar este verão e este silêncio, para chegar aqui ainda a tempo do poema...
    Muito bom!
    Abraço

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