Andamos há tanto tempo
de um lado para o outro
na remoção do pó
no compasso dos relógios
a construir barcos vertebrados
traços de luz
para os peixes não se afogarem
em lágrimas
Projectados nas paredes da casa
dentro e fora do corpo
peregrinos em espaços rasgados
por sobre as águas
afundámos uma ilha
mas ainda não renascemos
a pintar com a boca na boca
uma maré cheia de salivas
e novas tempestades
Andamos há tanto tempo
nas vagas
que não sabemos se é pó
o desacerto dos relógios
lágrimas nos olhos dos peixes
barcos pintados
ou pássaros livres quase perfeitos
neste mar de pátrias repartidas
"Andamos há tanto tempo
ResponderEliminarnas vagas
que não sabemos se é pó
o desacerto dos relógios"
estes 4 versos vou guardá-los no meu livrinho de aforismos.
Obrigada.
Excelente.
ResponderEliminarO poema é lindíssimo, aliás como todos que tenho lido no seu mar.
ResponderEliminarRealmente eu ia sublinhar os quatro versos que hmf sublinhou são verdadeiramente bonitos!
Mas os segunites são igualmente belos, fez-me lembrar um pintor russo que expôs no Centro Cultural de S. Lourenço, Algarve. Tenho que o procurar entre as minhas coisas
«lágrimas nos olhos dos peixes
barcos pintados
ou pássaros livres quase perfeitos
neste mar de pátrias repartidas»
Talvez todo o sal desse mar, afinal não sejam lágrimas de Portugal.
ResponderEliminarMuito bom, como sempre.
ResponderEliminarO nosso desacerto neste tempo, neste espaço que nos coube.
Um beijo.
A sua poesia, Eufrázio, é, aliás como já bastas vezes referi, e não tantas quantas a mesma merece, das líricas mais belas que leio. Limpa, depurada, e, simultaneamente - talvez o mais importante - cadenciada em vagas serenas de quem, da vida e na vida, opta por, generosamente, dar(se). E isso é, a meus olhos, aquilo que distingue o ser humano.
ResponderEliminarLeio-o sempre e com enorme prazer. Desde poema, em particular: nada destaco - é um todo, belíssimo - consolida, de forma liminar o que anteriormente digo, sedimenta e acrescenta, camada a camada. Muito, muito belo.
Abraço, Eufrázio.
Bem-haja
Mel
Há tanto tempo que nos afogámos...nas lágrimas sem pudor!
ResponderEliminarPoético...este sentir!
Beijo
Perdoar-me-ás se estiver errada a minha interpretação:
ResponderEliminarAs sucessiva crises de identidade que a História regista vão sendo mais ou menos profundas.
Por falta de lideranças fortes;
Por esquecimento de contextualização;
Por tudoi e por nada;
Por falta de desígnio;
Qualquer dia nem a bola...
O teu poema, a tua arte de escrever poesia, essa, é superlativa.
Um abraço
Belíssimo.
ResponderEliminarAbraço
"Talvez a Distância se faça (um dia)
ResponderEliminarE seja safra..."
agrada-me sobemaneira esta sintonia de "preocupações"... poéticas...
excelente. o teu Poema.
abraços, Amigo.
Yo amo mi País, no me muevo de aquí.
ResponderEliminarCariños para ti.
mar
Há tanto tempo...
ResponderEliminarque acabamos espraiados na areia, confusos com o voar das gaivotas e o compasso dos relógios.
Sempre singular e bela a sua poesia.
Um abraço
Pátria lacerada, quando ouvirás os poetas??
ResponderEliminarEufrázio,
ResponderEliminaré _____________ BELO, o que escreve,
é ____ privilégio meu, LER.
um sorriso :)
mariam
nota: também gostaria muito de ouvir declamar, os seus versos.
Grande poema!
ResponderEliminarNeste mar de vagabundos do tempo.
Abraço
E,
ResponderEliminarPor quanto tempo
mais
andaremos nós
pelas vagas
quase afogados
à procura da ilha
afundada
ou do paraíso
por inventar?
Para quando
o acerto
dos relógios do poder?
para quando???
princesa
Andamos assim há tanto tempo que nos esquecemos de ser felizes...
ResponderEliminarmas trepemos essa escada, galguemos esse mar!
Bjos
O tempo em que nos enredamos, submersos no que menos importa...
ResponderEliminarAbraço
o pó das horas, caro eufrázio, é o suco dos poemas... um grande beijinho e bom fim de semana!
ResponderEliminarMais uma vez vou-te ler em voz alta...
ResponderEliminarBeijo
Na condição perene de peregrinos, que sempre encontremos espaços rasgados, dentro e fora do corpo.
ResponderEliminarUm abraço!
desacertos como o desencontro dos sonhos.
ResponderEliminarfaz-se ao mar a pátria que escolhe as marés que hão-de dizer as bocas
__
beijos Eufrázio
"Andamos há tanto tempo
ResponderEliminarde um lado para o outro"
Tem toda a razão. Sábias as suas palavras. Bonitos os seus versos.
:)))
sempre bela a tua poesia, de magníficas imagens, ainda que diga da fragmentação da pátria, da sua perda de identidade, dos seus "naufrágios", e das lágrimas que são a dor do sacrifício em que nela navegamos, cada vez mais perdidos nas suas "vagas"
ResponderEliminarabraço.
O desacerto dos relógios deixa mais livres os pássaros...
ResponderEliminarUm belo poema!
Beijos.
Apenas uma certeza...a minha: eterna (in)quietude que me colore as paredes de dentro
ResponderEliminarBeijo
Andamos mesmo...
ResponderEliminarNão nos governamos nem nos deixamos governar.
Excelente poema, na forma e no conteúdo.
Abraço.
Talvez devamos ser cidadãos de mundo universal...
ResponderEliminara excelência personificada em verso
ResponderEliminar( branco )
.
um beijo