quinta-feira, 8 de julho de 2010

DESFOLHADA

Soltei um pássaro
que me pousou no texto
mas não lhe evitei
o menear das pétalas
Só mais tarde
tão tarde
que já adormeciam as palavras
ouvi espargir irrepreensíveis
metáforas
na folha de papel
Soltei uma rosa
que se exala
quando a sopro para voar
mas sempre regressa
desfolhada
como um pássaro

27 comentários:

  1. O azul da foto de Helena Almeida faz ressaltar toda a pureza destas palavras. Belo.

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  2. Os pássaros que esvoaçam os nossos sonhos são poderosos.

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  3. Do pequeno almoço até ao fim do dia
    estava sempre em casa com os meus amigos
    - mas chegando a noite longe me afundava
    e pela terra do Sono longe me perdia...

    À distância me dava com todo o meu corpo
    sem que soubesse o que iria fazer
    - e eis-me sozinho ao sabor de correntes
    e subindo também as montanhas do sonho.

    Estranhíssimas coisas havia para mim,
    fantasias para os olhos e doces de Nunca
    - e visões terríveis que logo se iam
    à luz da manhã na Terra do Sono.

    Encontrar de dia o caminho para lá
    foi sempre impossível, impossível sempre
    - e acordado em casa não mais me lembrava
    da estranha música da Terra do Sono...

    Robert Louis Stevenson

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  4. Gosto das pétalas das rosas a esvoaçar como pássaros.
    Abraço

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  5. Versos volitantes...coisa de instantes e estive bem aí no seu lugar!!!!
    Abraços,
    Tânia

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  6. As pétalas da rosa
    podem confundir-se
    com as penas do pássaro.

    As penas voam,
    as pétalas voam,

    os pássaros regressam e pousam
    na folha de papel que afinal
    eram as pétalas da rosa.

    :)

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  7. Não há flores ocultas nas asas dos pássaros.
    Abraço

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  8. Para que as rosas possam voar é preciso que os pássaros se desfolhem.

    Li o seu belo poema e fiz este:

    Ao ver a rosa no seu voo leve
    O pássaro se desfolhava.

    bjs

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  9. a palavra desfolhada remete-me sempre para a voz da simone de oliveira, não sei se gosta :) mas o poema também voa! beijinhos*

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  10. Bonita maneira de escrever, como sempre.

    Bom final de semana.

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  11. Privilégio dos poetas, como tu, acabar sempre por ouvir "irrepreensíveis metáforas na folha de papel". Privilégio, também, para os que te lêem.

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  12. Há coisas que nos regresam sempre, são das mesmo importantes!
    ~CC~

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  13. Nas asas desse pássaro, levei a rosa e poisei no mar arável.
    Liberdade das palavras, do voo, da natureza.
    Somos livres de partir, mas também de regressar, de ir ou ficar.
    Lindíssimo poema!

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  14. Estas palavras sabem criar[me] belas imagens cheias de movimento.

    L.B.

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  15. Os seis últimos versos
    são
    de uma beleza
    extraordinária.

    Abraço.
    Bom fim de semana!

    princesa

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  16. Que saudades de te ler! A tua escrita aprecia-se num silêncio de admiração. Adorei o poema.


    Beijo meu.

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  17. Este poema lindíssimo é uma bela metáfora da própria poesia.

    A tua poesia é cada vez uma criação artística que nos envolve.

    Beijos
    Branca

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  18. Talvez um dia as rosas e os pássaros não voltem mais desfolhadas. Nunca é tarde para que sejam as metáforas a pousar na folha de papel.
    bjinhos

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  19. Um hino à liberdade, é assim que leio este poema. Uma liberdade concedida e traduzida, na volta da maré, em dádiva de criatividade, generosidade e lealdade.
    Bom fim-de-semana!

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  20. No comentário acima, onde disse:
    "...é cada vez", queria dizer "é cada vez mais" - a palavra que "comi" penso que foi apreendida, mas impunha-se dizê-lo.

    Beijos
    Branca

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  21. Sinto o esvoaçar do pássaro e o perfume das rosas rondando o poema que acabei de ler.
    Um beijo.

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  22. fosse eu o esvoaçar
    que exulta da página em branco, disse o livro.

    da folha caiu uma gota de sangue.
    são rosas, disse um pássaro, rosas esgotadas do vento.

    beijo Eufrázio

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