sexta-feira, 10 de julho de 2009

POR ENTRE OS DEDOS




Deixámos um rasto
fluorescente no escuro
para as aves se guiarem

Quase indecifráveis
marulhámos sussurros
sem preocupações de chamar
grandes nomes às coisas

No princípio éramos assim
polidos como seixos
tão perfeitos
que ainda hoje temos o rosto
esculpido na água

Com a noção clara das noites
brincávamos com as sombras
desenhávamos garatujas
em todos os mastros
soprávamos o vento

Quando demos mais um passo
para ultrapassar o tempo
obsessivos pela lonjura
recolhemos a outra dimensão
dos teus cabelos brancos
à solta
por entre os dedos

37 comentários:

  1. Eu quero guardar do vento
    alguns cabelos brancos
    que me lembrem os trigos
    que colhi
    e a lua que agora me adormece.

    Eu quero guardar do mar
    a vela que resiste.
    Quero ser uma casca de noz
    esculpida num seixo.
    Que alguém guardará.


    Inspiras-te-me :)

    Obrigada.

    Um abraço.

    ResponderEliminar
  2. Tão bonito... é só o que consigo dizer...

    Beijos

    ResponderEliminar
  3. Eu seria capaz de ler mil vezes e amar todas as vezes que lesse. :)

    Amei!

    bjs

    ResponderEliminar
  4. é tão bom deixarmos as palavras escorrerem em gestos de cumplicidade

    ResponderEliminar
  5. Lindo poema.
    Os segredos dos dedos numa longa "viagem" a dois.
    Um abraço amigo para ti poeta.

    ResponderEliminar
  6. ... quando damos mais um passo
    para ultrapassar o tempo

    ... verificamos a dificuldade
    que o tempo nos impõe
    e os homens(certa canalha)
    estabelecem..............

    Ab.- EL:-

    ResponderEliminar
  7. Absorvo cada verso com deslumbramento!

    SUBLIME!

    Beijo.

    ResponderEliminar
  8. E a tarde mergulhando no mar e os deuses recolhendo ao crepúsculo...

    Experimente:
    http://movimentodaspalavrasarmadas.blogspot.com/

    ResponderEliminar
  9. hoje só sei dizer:




    tão belo....mas tão belo....


    .


    e fico nesta lonjura do perto.


    beijo. muito amigo.




    .piano.

    ResponderEliminar
  10. tão sereno esse vento nos cabelos brancos!


    tão belo este rasto!


    um beijo.

    ResponderEliminar
  11. A qualidade poética de sempre, o bom-gosto habitual, o prazer re-encontrado de te ler.
    É bom voltar.

    ResponderEliminar
  12. O tempo. Inexorável no embranquecimento. Dos cabelos e das memórias. Poeticamente dito. E bem.

    ResponderEliminar
  13. o tempo esbranquiçou o meu cabelo,
    deu-me saber, saudade, deu-me ternura...
    tempo que também me deu loucura
    e a quem estendo os dedos para que possa tê-lo

    muito bonitas as tuas palavras (é o que sinto sempre que as leio)
    um beijo
    luísa

    ResponderEliminar
  14. ... um poema feito de intimidade, cumplicidades! Sereno!

    Adorei o contraste da simbólica das imagens!

    Um beijo,

    ResponderEliminar
  15. Obrigado pela visita, comentário e o link no blog. Já retribuí juntando o Mar Arável no blogroll. Uma boa semana com sorrisos e ...poesia :)

    ResponderEliminar
  16. O mar desdobra - também - a sua cabeleira branca e perdemo-nos na espuma.
    Belo de sentir, o afecto.
    Viver é isso. Onda.
    Abç

    ResponderEliminar
  17. e à solta, por entre os olhos, ficam estas belas palavras... obrigada e um beijo.

    ResponderEliminar
  18. Belo poema. Espaço simpático. Adorei o teu comentário. Obrigado. Tudo de bom.

    ResponderEliminar
  19. o tempo jovem passa e vem outro tempo de horizontes mais próximos do fim da viagem.

    ResponderEliminar
  20. é lindo Eufrázio

    lindo!

    um passo só
    e nos meus cabelos longos
    sinto dedos esculpidos de água

    ______

    um beijo, de algas

    ResponderEliminar
  21. "No princípio éramos assim
    polidos como seixos
    tão perfeitos
    que ainda hoje temos o rosto
    esculpido na água"
    Só posso dizer que é muito belo.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  22. dedos entrelaçados. na lonjura dos cabelos brancos. polvilhados de vento. livre...

    belíssimo poema. delicado e terno.

    forte abraço, Poeta.

    ResponderEliminar
  23. Um poema que se reporta a um sentimento que " ultrapassa o próprio tempo"...
    Difícil imaginar um pensamento mais belo...
    Muito prazer em conhecer o seu espaço.
    Muitos parabéns pelo mesmo.

    ResponderEliminar
  24. Por vezes, depois de ler os teus poemas, basta só admirar-te, no silêncio do não comentário.


    Um beijo meu

    ResponderEliminar
  25. Minha doce Mar Arável

    este é o encurtar da lonjura.

    Bem-haja e até amanhã.

    ResponderEliminar
  26. essa serenidade do ser na condição natural das coisas, essa leveza do tempo que flui «por entre os dedos»...

    um poema de enorme beleza.
    parabéns!

    ResponderEliminar
  27. com as mãos se tecem e des tecem ternuras
    "pintadas"
    num outro poema onde mergulho inteira

    e
    saio
    deixanto.te



    .
    um beijo

    ResponderEliminar
  28. Já li
    assimilei
    à minha maneira
    gostei
    muito!

    O sentimento
    quando é puro
    é
    intemporal!....

    Abraço

    princesa

    ResponderEliminar