segunda-feira, 22 de maio de 2017

AVIÕES DE PAPEL




Há noites tão pardas
que nem parecem noites

Se as noites sonhadas
fossem mares escancarados
poderíamos em carne viva
respirar uma flor
estremecida
no pestanejar dos olhos

assim
viajantes apócrifos
mais leves que o voo
nesta feira de pássaros
sem pátria nem rosto

como poderemos ver mais longe?

hastear um beijo
no outro lado do cais

ser de novo crianças
e fazer das palavras
aviões de papel

Eufrázio Filipe
Chão de marés - Lua de marfim editora


17 comentários:

  1. Talvez, poeta
    o teu maior mérito
    é fazer-nos acreditar
    que podemos ver mais longe

    e que o cais tem um outro lado

    e que podemos ser crianças de novo

    e que as palavras voam e aterram

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  2. Belo poema!
    Quanto eu gostava de fazer das palavras aviões de papel...
    Abraço.
    (Como sempre, a foto é de pasmar.)

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  3. O Poeta dá o mote
    na condição pura de criança:
    "fazer das palavras aviões de papel"

    Há lá coisa mais bela que pôr
    a mão na flor,
    e sentir o estremecimento,
    da inocência do papel.

    Há lá coisa mais poética!
    do que submergir falcões
    de palavras bombas. No papel.

    Há lá amor mais forte
    do que preencher quilhas
    de lábios molhados
    de beijos vermelhos no papel.

    Grande abraço Poeta.

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  4. Como era bom voltar a ser criança, fazer " aviões e barquinhos de papel, imaginando-os nos ares, nos mares , indo para lugares distantes e tantas vezes sonhados, mas já não somos e nem voltamos a ser ; podemos " respirar as flores" agora que as há, mas quanto às noite, quando elas se tornam " pardas" resta-nos chamar o sono que, parecendo ter medo da cor estranha da noite, se recusa a aparecer. Mas há sempre a esperança de um outro cais onde o céu comece a escurecer e a noite seja estrelada. Como sempre, belo! Um beijinho
    Emilia

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  5. Podemos sempre ver mais longe e voar nesses aviões de papel que ainda estão nas memórias de criança...
    Lindo...
    Beijos e abraços
    Marta

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  6. Boa noite, caro Eufrásio Filipe. Acabei de ler o seu poema "Aviões de papel". Gostei muito do poema. Parabéns.
    Um abraço.

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  7. Pois é!...
    Aviões a flutuar sob as velas rasgadas, verdadeiros apócrifos dos barcos que se quiseram dizer... e bem se esforçam as palavras para domar o cais voador!...
    Os aviões são todos de papel e os barcos também, cheios de palavras navegantes e sobreviventes... ao papel reservado à sua condição de papel desempenhado!... Não entra a água nos barcos de papel e as palavras descrevem o barco num destino de sentido vertical e pesado!... É o papel que se afunda e, repetidamente, as palavras sobrevivem... como ratos da próxima estória!:::

    "E a fartura de cerejas pode significar um muito mau sinal para o cu dos melros !.... A semente já não é o que era... nem os melros ;)"

    Tentei responder ao poema

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  8. A
    Tem quase toda a razão
    As sementes são transgénicos e os melros anónimos

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  9. Há momentos em que o sonho de nós se ausenta porque dele somos indignos.
    "De novo criança" - e tudo (re)toma sentido.
    Sempre admirável o caminho que percorresse pelas palavras.
    Fantástica esta imagem!
    Bjinho, Filipe

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    Respostas
    1. Venho sempre verificar os comentários feitos a partir do tm. Por vezes, saem lapsos.
      Corrijo: percorres em vez de percorresse

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  10. Um dia haveremos de recuperar a luminosidade das noites que nos permitirá ver um novo dia.
    Um abraço fraterno

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  11. "ser de novo crianças
    e fazer das palavras
    aviões de papel"
    Muito belo!
    Uma boa semana, meu Amigo.
    Um beijo.

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  12. Há olhares a hastear beijos do outro lado do cais.

    Magnífico, Filipe!

    Beijinho

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