domingo, 12 de junho de 2016

BARCO DE REMAR





A remar águas e ventos
numa orgia de rotas
e salivas sem destino à vista
encontrei na margem
uma pedra
com vida por dentro
exilada no espelho do rio
a amanhecer

no ressoar das marés
juntei-me ao seu corpo
convergi na paisagem
subscrevi-lhe as pausas
os improvisos
e ali mesmo descontruímos
a recusa dos impossíveis

aprendemos que nada
é completamente inútil
muito menos a magia do tempo
que transportamos
portas abertas
janelas escancaradas
por onde inevitável
circula o pó
e tudo se move

até os velhos pássaros refulgentes
que libertámos dos lábios
em pleno voo (e)ternos
num barco de remar


Eufrázio Filipe
"CHÃO DE CLARIDADES"



16 comentários:

  1. Assim se celebram heroicidades
    nas páginas imaculadas
    do poema - amor
    Com remos sem rima
    sem simetria de gestos
    desde o cabelo até à unha
    encarnada do hallux
    Tudo é poema


    Parabéns, Poeta.

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  2. Se pensarmos que não conseguimos, ficamos parados no tempo e o tempo escapa-se...
    Improvisa-se, recomeça-se, mas isso é viver...
    Livremente....
    Lindo..
    Beijos e abraços
    Marta

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  3. "nada é completamente inútil
    muito menos a magia do tempo"
    Que o digam esses pássaros libertos dos lábios que reinventam o voo e amam as marés como só os barcos sabem...
    Um beijo, meu Amigo.

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  4. E a vida sempre nos oferece portas e janelas
    há de se ver além...

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  5. Como amar uma pedra no leito do rio.

    Abraço fraterno Poeta

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  6. Nada é inútil na liberdade de amar.
    Muito belo o poema.
    Bjs
    Ailime

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  7. em "chão de claridades"...

    uma pedra com vida dentro - assim os Poetas

    abraço

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  8. tudo se move...até os remos do barco

    muito belo, muito belo.

    bom fim de semana.

    :)

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  9. Muito bonito
    Viver é sempre construção :)
    bom fim de semana

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  10. Se não há impossíveis e as pedras têm vida poderemos então, com toda a propriedade, soltar pássaros dos lábios e fazê-los voar num canto à liberdade.

    Um "Chão de Claridades" que nos ilumina o caminho.

    Obrigada, Eufrázio Felipe.

    Abraço

    Olinda

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  11. Em tudo há um pulsar.
    Captá-lo poeticamente e deste modo, só os eleitos!
    Bjo, Filipe :)

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