terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O RIO À NOSSA MESA


                                            Malhoa - praia das maçãs


Aparentemente livres
nas margens deste rio
insondáveis onde se cruzam brisas
e afagam retratos
recuperámos as nossas velas
transportámo-nos para o mar

No marulhar desta povoação
de silabas quase perfeitas
desaguámos lentos
desenhámos garatujas
na coluna dos barcos
sem amarração

De tão quedas as águas
recortámos memórias
em pedaços de tremulina
sentámo-nos nas margens
a invocar a sede
a rasgar com um sopro
uma espécie de tempestade

Livres e insondáveis
perguntámos ao rio
se queria sentar-se à nossa mesa
e ele disse que sim

Eufrázio Filipe (Para lá do azul )
 

22 comentários:

  1. E as histórias que o Rio tem para contar?
    Nas memórias do tempo...
    Brilhante...
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. "Sentámo-nos nas margens"

    E Ricardo Reis diria "desenlacemos as mãos"... O rio passará de qualquer forma.

    Ainda que alguns invoquem "a sede/a rasgar com um sopro/uma espécie de tempestade".

    Um beijo

    Lídia

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  3. (caso se desse o caso
    de encontrar este poema
    esquecido, ao acaso
    sobre essa mesa
    eu o teria reconhecido
    - "olha, é do Eufrázio!")

    É pá
    é que é mesmo assim!

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  4. ROGÉRIO

    entendi revisistar alguns livros publicados
    Ainda bem que me reconheceste

    ABRAÇO

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  5. Felizes dos rios que se sentam à mesa com o poeta.

    Abraço fraterno

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  6. A nossa vida é um rio que segue o seu curso e de quando em vez lá estamos nós absortos, olhando as águas ora serenas ora caindo revoltas por uma qualquer ravina que lhe apareceu no percurso. Nem sempre são limpidas as águas, mas quando o são é fascinante o que aparece diante dos nossos olhos. São poucas as vezes em que decidimos parar um pouco e ficar olhando as águas do nosso rio, mas, é pena, porque elas passam e não voltam para trás. Amigo, muito obrigada por este belo momento de poesia. Fantástico! Um beijinho e até sempre.
    Emília

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  7. falta-(me) a sombra do salgueiro.

    fora isso, está tudo. em volta da generosa mesa.

    abraço, Poeta

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  8. "sentámo-nos nas margens
    a invocar a sede" - Que lindo...

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  9. A linguagem do rio em belas palavras.

    bjs e bom carnaval

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  10. Quando a água corre, o silêncio torna-se doce.
    Bj.

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  11. Quando há um rio que nos nasce dentro do olhar nós sentamo-nos em suas margens "a invocar a sede". Tão belo!
    Um beijo, meu Amigo.

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  12. Sentei-me agora

    na margem deste rio
    dor
    a escorrer por revoltas
    águas
    na urgência de a calar
    ainda bem que vim


    Abraço

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  13. Uma conjugação perfeita!
    O poema e a tela de Malhoa!
    O rio, o mar, que corre nas veias de quem ama.
    Lindo!
    Bjs,
    Ailime

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  14. e o rio garatujou peixes frescos sobre a mesa


    um abraço

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  15. Lave-se a alma, recupere-se a verticalidade.

    Abraço.

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  16. Ao ler este poema lembrei de Ruy Belo que escreveu
    " Inútil ir pedir conselho ao rio"
    e achei que neste caso, o rio sentou-se à mesa para melhor ouvir o Poeta.
    tão belo isto!
    a imagem perfeita!
    beijo
    :)

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  17. Entendo do fascínio dos rios. E do convite à contemplação e à incursão pelo nosso rio interior.
    O que não me é fácil entender é a tua admirável cognição poética.
    Sempre surpreendente!
    Bjo :)

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  18. ...que lindo...adoro por aqui passear...

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  19. Fizeste bem em revisitar alguns livros publicados. Só assim pude ler este poema.
    Beleza e sensibilidade junto a um rio (mar) que enquadra tão perfeitamente o momento.

    Não conhecia este quadro de Malhoa. Lindo ! Levou-me aos impressionistas.

    Boa semana.

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