segunda-feira, 28 de setembro de 2015

NO PESTANEJAR DE UMA VÍRGULA





Olho-te como se fosse a primeira vez

na verdade  a água 
corpo líquido de mulher
tem segredos escondidos no fundo das pedras
alimentos de fogo
talvez uma praia onde se fundem
areias e lábios
um piano de luzes
que determina o tempo das estações

Ainda bem que tens ilhas selvagens
sinais apócrifos que se desnudam
em gestos simples
no pestanejar de uma vírgula

Na verdade a água sabe rir e chorar
no espelho das próprias lágrimas
no rumor das maresias 
e eu descobri uma vez mais
que tens poros por onde respiras 
silêncios escarpas por onde escorrem salivas

que te ergues e desmoronas
abrigo e mensageira
te desprendes do chão
ou hibernas nos corais

Que bom ainda hoje
partilhar contigo este despertar
aprender pela vida fora a descobrir-te
como se fosse a primeira vez

deixar por um instante
a outra água
para os peixes se moverem


Eufrázio Filipe

"CHÃO DE CLARIDADES"
 

24 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

AMANHÃ, SERÁ OUTRA VEZ
O PRIMEIRO DIA DO RESTO DA TUA VIDA

(e os peixes se moverão!, meu irmão)

Majo disse...

~~~
«como se fosse a primeira vez»...

~ ~ ~ B e l í s s i m o ! ~ ~ ~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

~~~~ Abraço, Poeta. ~~~~

Olinda Melo disse...


Tem razão, Caro Poeta, em conceder às vírgulas um lugar de destaque, elas tão misteriosas, tão necessárias por vezes, e outras vezes demolidoras. Por elas e com elas se desmoronam mundos, se constroem ou se desfazem muros.
Abraço
Olinda

Miss Smile disse...

Cabe tanta beleza no pestanejar de uma vírgula...

Laura Santos disse...

Excelente, poema!
Mulher é água e terra, é luz e sombra,
e é brilhante, muito brilhante quando se sente amada.
xx

Graça Sampaio disse...

Ui!! Lindo de mais! Que de metáforas transparentes, imagens luminosas. Muito lindo! (Vou copiar...)

Sónia Micaelo disse...

Maravilha(da)!

Tão belo...

Beijo

Suzete Brainer disse...

Este é um dos poemas mais belo descrevendo
a mulher (a musa), a beleza sublime,lírica
das metáforas são encantadoras...
"Um piano de luzes
que determina o
tempo das estações"
Bravo,Poeta!!
Bjs.

anamar disse...

E, como diria Jorge Sousa Braga, "só tu sabes sorrir na vertical",

Abracinho

Agostinho disse...

Há poemas sublimes com água.

É nessa água que as mãos se fazem
que os dedos ensaiam arpejos
nas algas vermelhas da madrugada
Por nada sinfonias em beijos

Maria Rodrigues disse...

Quando o amor reine no coração, olhamos sempre como se fosse a primeira vez.
Belíssimo poema.
Um abraço
Maria

Armando Sena disse...

Sempre haverá uma nascente que nos refresque.
abraço

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

e na escarpa
como se fosse a primeira vez
olhando do alto
o fundo das águas
onde os peixes se movem

ante os olhos do Poeta

beijo

:)

Lídia Borges disse...


É um belo despertar, este, entre escarpas e corais.


Bj.


Lídia

Ailime disse...

O amor eternizado no que de mais sublime tem.
"...como se fosse a primeira vez"!
Beijinhos,
Ailime

Manuel Veiga disse...

poema de "separação de águas" (uma vírgula que seja) - que a vida e feita de escolhas e eternos retornos.

gosto muito desse "piano de luzes" a marcar o tempo das estações.

abraço fraterno, meu caro Poeta.

Palavras soltas disse...

Tão lindo esse despertar.

Beijo.

Helena disse...

Tanto a dizer no pestanejar de uma virgula... Que transborda magia para além das águas. Uma declaração que de tudo resume assim:
"Que bom ainda hoje
partilhar contigo este despertar
aprender pela vida fora a descobrir-te
como se fosse a primeira vez"
De uma beleza ímpar!
Um beijo de boa noite da
Helena

Teresa Durães disse...

A revelação da vida é sempre um banho de luz!

Graça Pires disse...

Olhar como se fosse a primeira vez. É o teu segredo, Poeta?
Um beijo.

ana disse...

Gostei muito.
Parabéns.
Bj. :))

Ana Tapadas disse...

Belas são as vírgulas, poeta, quando com elas vislumbras o início.

Beijo

Odete Ferreira disse...

"Que bom ainda hoje
partilhar contigo este despertar
aprender pela vida fora a descobrir-te
como se fosse a primeira vez"

Amor na sua forma mais elevada: o permanente deslumbramento da descoberta.
Belo no conteúdo. Criativo na arte.
Bjo, Filipe :)

vida entre margens disse...

Um poema mágico. Tão mágico que nem sei o que dizer...