Nesta ilha de jangadas imperfeitas, as romãs abriam os lábios,
explodiam multidões.
Os cães adivinhavam o brilho dos relâmpagos e tu caías abrupta
nos meus braços.
Quando te ouvi assim a cair dos céus, desamparada a lubrificar a terra,
não sabia o teu nome, muito menos como te beijar os pés.
Quando te vi assim pendente, incolor, nua de tudo, chamei-te chuva,
um qualquer nome - e tu chegaste a cântaros, tão líquida por entre os meus dedos.
Recebi-te quase ninfa , de braços abertos na minha escarpa e assim ficámos
vagarosos instantes a respirar eternidades.
Ainda hoje não sei quem és senhora.
Trazias nos cabelos um mar desgrenhado a derramar estrelas, um cântico
sibilino, barcos do outro lado do cais.
Escancarei as janelas, acendi um fósforo no alpendre da casa, e tu lá estavas
sem muros nem amos, a cantar.
Se tivesse que te desenhar faria um gesto, um risco a carvão no ar
que respiramos, bebia-te às mãos cheias,
mas deixaria na tua árvore preferida - uma romã.
Eufrázio Filipe