segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O PÓ DO TEMPO


             


Inesperadamente acordei

coloquei o teu travesseiro no meu travesseiro
liguei o rádio
fumei um cigarro
abri a porta do relógio de pêndulo
para dar corda ao tempo
e ver-te passar

soprei os ponteiros e voaste
tão longe
que só um dia te encontrei
na areia da praia
a olhar um barco
que nunca existiu
a não ser quando um pássaro distraído
em confluência de rotas
transportou o vento nas asas
e pousou em silêncio
no teu olhar

lembras-te?
lembro

na rebentação das marés
onde se enleiam sargaços
começámos a soletrar pelos dedos
palavras excessivas belas imensas

a erguer das cinzas
o pó do tempo


 

22 comentários:

  1. Acordo sempre com vontade de gritar,
    não para levantar o pó,
    para fazê-los voltar ao pó.

    Abraço,

    mário

    ResponderEliminar

  2. "palavras excessivas belas imensas"

    Assim, erguendo "das cinzas o pó do tempo" em tempo carente de sonho

    Beijo

    ResponderEliminar
  3. Quase impossível expressar com palavras o quanto eu gostei deste poema. Vou copiá-lo e guardá-lo.
    Abraços!

    ResponderEliminar
  4. E não há maré para os dedos chamarem na pedra?

    ResponderEliminar
  5. como não guardar a "confluência das rotas" quando se desenham assim em "palavras excessivas belas imensas?"...

    abraço, Poeta maior.

    ResponderEliminar
  6. ~
    ~ ~ A tocante emoção e a ternura esfuziante do reencontro de duas pessoas que muito se querem...

    ~ ~ ~ Embalados pelo ritmo do mar . . .

    ~ ~ ~ ~ Mutito belo e especial! ~ ~ ~ ~

    ResponderEliminar
  7. Este teu poema é de uma beleza
    sublime,atingiu o lugar da
    infinitude das palavras...
    Para quem adora a grande poesia,
    a leitura deste teu poema
    consagra este sentimento
    da importância da
    existência da poesia.
    Fiquei suspensa pelas palavras
    excessivas belas imensas!!

    ResponderEliminar
  8. ""palavras excessivas belas imensas", as tuas.
    Beijo.

    ResponderEliminar
  9. No pó do tempo desenha-se o poema.

    Abraço fraterno

    ResponderEliminar
  10. Também pouso em silêncio neste maravilhoso poema, que nos transporta
    a todas as marés onde o amor possa aportar.

    Agradecida pela sua visita !

    Um beijo.

    ResponderEliminar
  11. "te encontrei
    na areia da praia
    a olhar um barco
    que nunca existiu"

    Belo!

    ResponderEliminar
  12. As palavras nunca são excessivas, porque são imensas e escrevem-se na alma...
    Lindo...
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
  13. Da lembrança ao agora tudo se intensifica.
    Cadinho RoCo

    ResponderEliminar
  14. Gostei muito.
    Um bonito levantar do pó.
    Abraço!:))

    ResponderEliminar
  15. De inalcançável ternura! Só possível " quando um pássaro distraído
    em confluência de rotas
    transportou o vento nas asas
    e pousou em silêncio
    no teu olhar"

    Lembro.
    Obrigada.
    Beijinho.

    ResponderEliminar
  16. emudecer de espanto:
    ... é um gesto?! pois...
    é que não encontro a poesia das palavras para te dizer como me encanta essa tua maneira de ser 'excessiva' e linda.

    beijo.

    ResponderEliminar