sábado, 9 de agosto de 2014

EM DECLIVE POR SOBRE AS ÁGUAS






Na bela escarpa
à mesa do alpendre
quase tudo se vê
de olhos fechados

o dorso da serra
onde nidificam sonhos
um jardim de videiras
cães a ladrarem
quando a neblina invade o castelo
sombras amovíveis de pássaros
oliveiras
o perfume silvestre das hortelãs
o pó da azinhaga
um certo vento disponível para os lábios
uma nesga de mar
a cantarolar silvos de barcos

Neste deserto flamejante
povoado nos apeadeiros
esculpido em grãos de areia
as palavras amadas
tentam implodir
para acordar silêncios
com vida por dentro

Na bela escarpa
contra todos os destinos
a lavrar pedras com as mãos
em declive por sobre as águas
voeja
na mesa do alpendre
uma folha de papel


 

28 comentários:

Majo disse...

~
~ ~ Um poema belo e harmonioso, cantando sonhos bucólicos, ternos e ardentes que absorvem intensamente a mente do poeta.

~ ~ ~ Grata pelo momento muito especial...

BL disse...

Muito belo.
Destaco a última estrofe,
pela serenidade do movimento.

Bom fim de semana, EF

Anónimo disse...

um prazer voltar aqui.


abraço.



imf

Mar Arável disse...

Grato Isabel

jrd disse...

Sei do que falas e rendo-me à maneira poética como falas do que falas.
Abraço fraterno

GL disse...

A beleza da metáfora a remeter para a fealdade do real.

irene alves disse...

Uma folha de papel sempre é
melhor do que 2 corpos como
ontem à tarde aconteceu.
Excelente fotografia.
Bj. e bom domingo
Irene Alves

Lídia Borges disse...


Maravilhosa esta paisagem que se condensa de modo a fazer caber o mundo próximo numa folha de papel que
"voeja".

Lídia

Marta Vinhais disse...

E nessa folha de papel encontramos novas histórias e encontrar a beleza dos momentos...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Laura Santos disse...

Das escarpas tanto se pode desprender, tal como o soltar desses silêncios que podem ter "vida por dentro". Se há coisa que deve acompanhar sempre um poeta, é uma folha de papel e uma caneta. Eu não sou poeta mas ando sempre com a minha Bic :-)
xx

Rosa dos Ventos disse...

Uma folha de papel muito bem usada!

Abraço

Agostinho disse...

Excelente.
- - - - - - -

Na sua densidade generosa
o poema levita
no encanto das paisagens

Árduo é o lavrar pedras
duras no entender
nem os cheiros
silvestres do orvalho
as despertam para as manhãs
semeadas na folha de papel

Tétisq disse...

Lavrar com as mãos é duro, só o resultado nos anima...

Sónia Micaelo disse...

"a lavrar pedras com as mãos"

Belíssimo!

Beijo

Marisa Giglio disse...

Muito bonito o que sabe fazer com as palavras . Nos encanta e nos faz viajar internamente . Obrigada . Grande abraço .

Olinda Melo disse...


Tudo numa sinfonia maravilhosa.

Abraço

Olinda

Pérola disse...

Deixaste-me sem palavras.

Um poema poderoso e avassalador.

Beijinhos

JANE GATTI disse...

Vê-se melhor de olhos fechados... Abraços, boa semana.

Andrea Liette disse...

Águas primordiais que semeiam todos os sentidos no branco do papel.

Um beijo .

Mel de Carvalho disse...

um escrita sempre de altíssima qualidade, amigo Eufrázio - a ler e reler.

um abraço saudoso e, se for caso, boas férias

Mel

Armando Sena disse...

Uma janela para a vida.
Um olhar interior.
ab

Ana Tapadas disse...

Imagem escolhida com o mesmo rigor sensível com que as palavras se juntaram.

«Na bela escarpa
contra todos os destinos»

Beijos

Palavras soltas disse...

Gosto dessa escarpa que quase tudo se vê
de olhos fechados.

Beijo.

Teresa Almeida disse...

Já percebi que deve ser o vento a esculpir a agrura das escarpas para te deixar desenhar palavras - com os lábios.
Beijo meu.

Graça Pires disse...

Ver de olhos fechados. Só o poeta...
Um beijo, amigo.

By Me disse...

Imagens visuais interessantes.

Janita disse...

Prometi-lhe vir ter consigo à sua escarpa, e cá estou!
Fiquei e vou ficar em silêncio a admirar a beleza da paisagem, o voejar dessa folha miraculosa e ouvir o rumorejar das ondas desfazendo-se em espuma de encontro às rochas.
Face a tanta maravilha, o som do silêncio é o melhor que posso dar.

Abraço.

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Sua poesia é de uma beleza sem nome. Por isso é poesia e não tem nome, tamanha a beleza.
Abraços