terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A NOSSA ROMÃ ( 7 )







O Inverno gatinhava os primeiros passos, prometia  chuva abrupta e ventos norte, mas não passava de uma estação dócil , instalado na corrente das marés.
Reunidos no porão, começámos a falar coisas improváveis como se fossem verdades absolutas - e eram - tão verdadeiras as verdades que dizíamos, que nem pareciam improváveis.
A mesa estava posta mas a história não era linear à luz entristecida dos relâmpagos.
Nós sabíamos quase proféticos que uma colisão de galáxias faria explodir luminosidades no chão que pisamos e só um deus poderia criar Pandora.
Recordei o dia em que me desnudei para dizer a uma pedra com vida por dentro - o amor é revolucionário - e a pedra em chama se levantou.
Estávamos reunidos no porão, à margem do cântico dos pássaros, quando alguém fez um apelo - não contaminem as águas - e o barco sem que nos apercebêssemos aflorou um areal.
A noite não estava clara mas via-se perfeitamente nos apeadeiros da vida.
A reunião terminou sem conclusões. Desembarcámos a pensar uma vez mais ter descoberto a Taprobana .
O Dique ladrou com ternura para as estrelas e ao longe, ali tão perto, um vulto belíssimo, de contornos ancestrais seduziu-nos como se estivéssemos no princípio da fala.
A caixa foi aberta. Testemunhámos o improvável.
Lá no fundo, liberta de todos os males, sem mácula - a nossa romã dava sinais de acreditar.

 

19 comentários:

  1. A romã, sempre a romã mágica que liberta o espirito das coisas improváveis e adoça cada poema.
    Pode a Taprobana ser um sonho, um mito, um eterno ficar aquém, mas também vos pode levar mais além.
    Gostei de ver que o Dique ladrou ternamente para as estrelas, pior seria se ele uivasse à Lua.

    Belo texto! Hora a hora os deuses trazem melhoras.

    Beijos.

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  2. Venho lendo, a espera de uma caixa.
    hoje consegui abrí-la.

    bjs

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  3. Verdadeiro é este texto que de improvável não tem nada, apenas uma suave magia que soube bem ler.

    bjs

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  4. Ainda ontem era tão improvável,
    o "provável" que agarro hoje às mãos cheias.
    Acreditar sempre.
    Belíssimo texto.
    Beijo

    Sónia

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  5. Só porque a "romã" é o "amor" se libertou da caixa de Pandora.
    Belíssimo!

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  6. Contra todas as improbabilidades, há o testemunho...e os sinais vitais do fruto...

    Maravilha esta sequência de Romãs!!!

    Beijinho!

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  7. Reli, e volto a dizer: aqui a poesia é vida e testemunho de todas as improbabilidades...

    Bom fim de semana!!!

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  8. terno além de belíssimo e nada improvável....

    gostei muito!

    :)

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  9. Lindo texto,gostei bastante do que li na tua postagem,a fotografia também é muito bela. Desejo-te um mês de dezembro fantástico e maravilhoso,tudo de bom para ti!! Beijinhos e fica com deus!!

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  10. O amor é revolucionário...

    E a bela poesia sempre nos

    proporciona uma libertação...

    Abraço,grande Poeta!

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  11. Vasto, o sentido simbólico da romã
    nunca "desamarrado" de uma ideia de esperança, de renovação...


    Lídia

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  12. O Dique a dizer da sua justiça...

    E a Romã sempre presente.

    A Taprobana não estará longe.

    Abraço

    Olinda

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