A desoras ouvia Quiet Nights quando um barco de papel escrito à mão aconteceu para acordar os pássaros.
Com Dianna Krall ousei invadir espaços proibidos nesta ilha escarpada. A chuva caía na boca dos amantes.
Foi assim. Não previ o tempo livre nos ponteiros parados do relógio e saí.
Chovia a cântaros. O caminho em terra lavrada não tinha poros suficientes. Faltavam os belos relâmpagos mas o vento assobiava coisas lindas.
Foi assim encantado que atravessei o dilúvio contra a corrente.
Na verdade - mais importante que as pontes são os rios indomáveis.
Só não previ a berma do aceiro numa curva submersa e ali fiquei, no fim do mundo, à porta da casa.
Abri a janela do carro e observei um rio colossal a correr à pergunta de uma saída para o mar.
Ali fiquei encantado uma vida quase inteira, até entrar no café do senhor Abílio, onde todos falavam da tempestade e das colheitas dizimadas.
A chuva parou. Fez-se silêncio.
Um homem a esbracejar subiu para o tampo de uma mesa. Pediu a palavra e chorou o tempo que faz.
Os cães ladraram para os céus quando lhes disse que estava de regresso à escarpa. Uivaram como de costume as suas rezas.
Quando cheguei - o vento arredondava arestas na memória das pedras - e eu só tinha que fazer o que fiz.
Perguntei à romãzeira - que hei-de fazer senão amar-te ?
30 comentários:
Limpei o meu olhar
Não para te ler melhor
Mas para beber cada verso teu
Juro, não vou continuar a chorar o tempo que faz!
Que hei-de fazer senão continuar a ler-te?...
Beijinho.
Uma escrita fantástica!
Até a falar de como o tempo pode fustigar as colheitas e a vontade dos homens...
Que fazer? Continuar a ler textos de tão grande beleza.
xx
Quando até o próprio céu chora o tempo, só nos resta perguntar às árvores se ainda sabem de que falamos quando dizemos amor.
Um abraço
É tanta a poesia que chove, aqui...
Amar é o único que se faz
sem se fazer.
Beijo
Enfrentar temporais com a boca cheia de pássaros livres...
Um beijo
E em ilha de naufragos a poesia reina.
beijinhos
e os beijos com sabor a romã, perderam-se no vento, por isso e ainda hoje os temporais quando se abatem na escarpa trazem o sabor das romãs no voo dos pássaros...
:)
Gosto de te ler como gosto do vento nas árvores.
Porque não a poesia de uma romanzeira?
Abraço
Gosto bastante desta nova linha das romãs... Muito bela, muito estilhaçante, desconcertante, muito para além do real.
E, de repente, a romãzeira que existia no quintal da minha bisavó Donata desenhou-se na minha memória e trouxe-me o doce sabor dos bagos vermelhos das romãs por altura do S. Martinho!
a Senhora das Tempestades em todo o esplendor de sua glória...
abraço, poeta.
O percurso do vento
a escrever a memória
deste amar a enraizar
a romãzeira encantadora
do tempo...
Uma beleza encantadora
que levamos ao ler-te!!
gosto de ler este poema
abraços
Belíssimo e comovente! Poesia pura. Bj Ailime
Às vezes, basta contemplar.
Bom fim de semana.
um dia, há vários anos, escrevi um poema cujo título se chamava
"romãs para piano". o seu texto trouxe-mo à memória...
um prazer cada leitura, cada releitura, sempre.
bfs, fraterno abraço
Mel
Dilúvio
de poesia!
Abraço, poeta!
... que fazer senão voltar a confessar-te que me deixas sem palavras?
O meu abraço!
Tivesse eu uma romãzeira, e ali ficaria a vê-las amadurecer para as apanhar e relembrar os rituais observados em criança quando me descascavam as romãs, com cuidado, não fosse o sumo manchar o bonito vestido... e depois uma colher de açúcar por cima até derreter e fazer as delícias da minha ansiedade de menina perante tal guloseima.
Hoje quem mas descascou já não o pode fazer. Nem como romã reconhecerá o fruto. Hoje sou eu que as descasco e já não adiciono o açúcar...
: )
...adoro romãs .
Posso continuar a lê-las ?
Algumas frutas são mais que gente grande.
bjs meus
uma prosa bem conseguida! Espero que a Romãzeira esteja em plena comunhão com o seu coração.
abraço e boa semana
Essa é sempre a melhor solução: amar.
Abr
É difícil prever o tempo quando se houve Dianne Krall em noite de temporal...
ler-te!
reler-te!
insistir
é satisfação!
mãos cheias de tantos
em um!
belíssimo, Eufrázio.
bj.
e ela, a romãzeira, respondeu
E.. se eu gostava de romãs.. passei a olhá.las libidinosamente.
Somente um outro olhar.
:)
Desta romã destaquei uma a uma cada sementinha, todas elas, vermelhas, brilhantes, estuantes de vida.
Belo!
Abraço
Olinda
Claro...
"Na verdade - mais importante que as pontes são os rios indomáveis."
Gostei das histórias da romã, fruto de uma beleza extraordinária!
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