Publicado no meu "caçador de relâmpagos"
Conduzia na estrada do Barranco do Bebedouro - serpenteada, estreita, iluminada pela lua cheia.
De repente, um vulto na minha rota. Não pude evitar. Só o vi pelo retrovisor.
Saí do carro e ajoelhei-me junto do animal, um rafeiro alentejano, lindo, que ainda me olhou nos olhos e disse baixinho:
- É pá, mataste um cão sem dono.
A lua cheia inundava o silêncio e eu levei-o ao colo para dentro do carro.
Quando cheguei a casa, só pude fazer o que fiz.
Chamei o Dique e encarreguei-o de convocar todos os cães da aldeia. O funeral foi marcado para a meia noite.
Todos compareceram.
Solidários, quatro amigos mais corajosos ofereceram-se para cavar a sepultura, num canto da horta, onde espontâneas medravam hortelãs.
Todos reunidos no silêncio.
Um uivo comovido despoletou um choro colectivo.
Só o Dique não chorou. Trazia na boca uma papoila que largou
em cima da sepultura.
Eufrázio, porra. Não vale. Eu venho aqui para ler a sua poesia e fico com uma lágrima no canto do olha. Está bem, pronto, sei que sou maricas mas escrever tão bem assim sobre um caso que pode até ser real, é demais. Você é o máximo. Um abraço.
ResponderEliminarTenho chorado é sozinha,
ResponderEliminarsem os cães
nem os cães entristeço
Abraço!
Há mortes sem culpa que são sentidas
ResponderEliminarcomo se todos a tivéssemos
(Tenho livro e, inexplicavelmente, senti este escrito como se me repetisses a dor, mas mais intensamente)
E pra que explicar? Não precisa. São nossas as lágrimas e são nossos os sentimentos e as perdas.
ResponderEliminarbjs nossos
Sem palavras,um grito de amor.
ResponderEliminarUm abraço,
mário
Senti vontade de ouvir o Zeca cantar aquela parte da canção que diz "e não há quem lhe queira valer".
ResponderEliminarEmocionante meu caro.
Abraço
E quem não chorou pela perda de um animalzinho de estimação? Muito delicada a sua crônica.
ResponderEliminarAbraços Poéticos!
Que texto intenso
ResponderEliminarExcelente publicação
Tão belo...
ResponderEliminarGostava de o colocar em " o pó da escrita"...será pedir demais?
Bj,
maria
eu já tinha lido este texto.
ResponderEliminare aconteceu-me o mesmo de quando o li da outra vez.
as lágrimas sabem (sempre) a sal.
um beij
Comoveste-me. Tu e o Dique!
ResponderEliminarSó quem fala com os cães é capaz de chorar com eles.
Abraço
Quando a prosa nos dá a mais bela poesia, está tudo dito.
ResponderEliminarLINDO!
beijinhos
Toda e qualquer palavra se faz excessiva, às vezes.
ResponderEliminarFico presa a um certo silêncio, não sei de conforto, se de inquietação.
L.B.
só o Dique não chorou [ou ninguém viu...]!
ResponderEliminareste é um poema muito especial, um relâmpago.
beijo.
Frágil a sensibilidade dos poetas.
ResponderEliminarE do Dique com papoila. A união por causas nobres faz a força.caro poeta.
abraço,
Véu de Maya
não chorou,
ResponderEliminarporque todos os cães ganham o céu sem dono
um abraço
Texto emocionante, Mar arável.Só quem compreende os animais chora com eles, meu amigo, e deixou aqui um mar de lágrimas.
ResponderEliminarBom fim de semana.
Abraço
Olinda
Lindo o seu texto.
ResponderEliminarDe uma ternura para além do tempo
Nem tenho palavras para enaltecer o cão que morreu e o cão que lhe colocou a flor - sem chorar...
Belo!...
Maria luísa
"... amanhãs com memórias..." :)
ResponderEliminaruma papoila onde medravam hortelãs...
que poema belo, Mar.
beijo.
O texto é comovente, deixa um nó na garganta.
ResponderEliminarHá lágrimas que não se vêem...
Um abraço e boa semana.
Fiquei entupida...
ResponderEliminarLindo este poema, provoca lagrimas de tristeza mas também de esperança, por saber que ainda existem pessoas a tratar os animais com dignidade.
ResponderEliminarObrigado
Beijinhos
Não chorou, o Dique. Chorei eu por ele.
ResponderEliminarFelizmete nunca me aconteceu, mas já vi muitos anormais atropelaram animais e seguir ... alguns aparentemente contentes.
Amigo Eufrázio,
Vou estar ausente. Não estranhe.
Volto logo.
Beijo
...se amemória não me falha, já tinha lido este texto.
ResponderEliminarE...tocou-me, na simplicidade descritiva...e, nesse olhar humano.
Esta história comoveu-me, sabe? Mas saio daqui com a alma lavada pela sensibilidade das suas palavras.
ResponderEliminarhá cães que apenas choram pra dentro...
ResponderEliminarabraço
Eu sento-me a seu lado e choro consigo.
ResponderEliminarComovente.
Afinal, só mesmo o Dique é que não chorou...parece que todos quantos aqui entraram ouviram esse mesmo uivo comovido e se juntaram às lágrimas...
ResponderEliminarBeijo
Sónia
O Dique acredita que, agora sim, o cão sem dono, alcançou a liberdade.
ResponderEliminarBeijito.
Em tempo de luto e fragilidades, um pouco da minha tristeza irá para o cão sem dono. O teu texto é belo e pungente.
ResponderEliminarEstou certa que esta delicada narrativa exprime o sentir e a experiência de muitos. Inibo-me de a adjectivar, as minhas palavras seriam certamente reducionistas.
ResponderEliminar:)
ResponderEliminarBjinhos
PAula
Poeta
ResponderEliminarNão tenho palavras...chove-me no olhar.
Sublime.
Beijinho
Sonhadora
Espero teu verso.
ResponderEliminarconfesso.
bj
http://cozinhadosvurdons.blogspot.com.br/2012/05/cozinha-convida-combata-o-crime-de-odio.html
Se a memória não me atraiçoa, trata-se da reposição de um texto poético. Em todo o caso, adorei relê-lo dada a sua magnificiente qualidade. Gostei muito meu caro amigo poeta.
ResponderEliminarAbraço.
O Dique chorou por dentro... a lágrima, uma papoila.
ResponderEliminarMagnifico!
beijinho
cvb
Muito comovente este texto. Só quem
ResponderEliminarnão goste de animais poderá ser
insensível ao mesmo.
Um bj.
Irene Alves
Abriram-se as cancelas celestes onde poderá ser astro farejador, condutor do poema. Brilhante.
ResponderEliminarMuito sentido.
ResponderEliminarA papoila caiu no silêncio que a escrita desperta.
Parabéns!
É muitas vezes a dor silenciosa a mais comovente. Uma papoila vermelha é como uma lágrima de sangue.
ResponderEliminarBeijos