Quando olhava para os céus via um abismo azul que a atraía e talvez por isso sempre que assistia a um concerto de pássaros despertava para o desejo de voar.
Subiu árvores inventou destinos empoleirou-se nas escarpas quando o vento soprava forte nas piores estações - até no brilho lúcido dos olhos dos ratos quando indecifráveis trepavam paredes e desapareciam pelas fissuras do ar em movimento.
Um dia ouviu como nunca tinha ouvido vozes a espargirem sons como se fossem palavras a estilhaçar silêncios.
Agachou-se debaixo da figueira paciente como sempre não para voar mas para cumprir um desígnio - comer um pássaro.
Estava-lhe no sangue querer voar mesmo sem asas. Comer um pássaro.
Na verdade se os rios insistem correr para os mares porque não comer um pássaro fechar os olhos e voar a estilhaçar silêncios?
Agachada debaixo da figueira passou uma eternidade a ouvir gorgeios e a vê-los de ramo em ramo a comer figos e a tracejarem horizontes.
Uma vez mais foi assim no êxtase de um belíssimo concerto de gaios e melros.
Inexplicavel mente sentiu um arrepio no corpo a invadir-lhe a alma - e foi assim num rasgo de lucidez que concluiu
a vida mesmo com fragilidades pode ser mais que o voo de um pássaro mesmo quando se juntam para cantar.
E foi assim que assumiu a sua condição.
Cabisbaixa transportou-o para o alpendre onde dormitava o Dique.
Miou com o rato na boca.
Chamava a atenção do Dique que se levantou com outros azuis nos olhos.
O Dique lambeu-lhe uma orelha abocanhou-a sem a ferir e transportou os dois para debaixo da figueira onde ainda permaneciam tenores a improvisar infinitos do belo canto que nos ensinavam a voar.
Deitámo-nos a ouvir o concerto dos pássaros
até adormecerem os ponteiros do relógio .
O que poderia ser harmonia. Na vida real, nalguma vida real, ela teria comido o rato e o Dique ter-lhe-ia partido a cervical. Era a lei do mais forte. Os amorins explicam isso melhor.
ResponderEliminarO voo é um desejo para além das asas...
ResponderEliminarNem todos os sonhos se concretizam... talvez nem precisem.
ResponderEliminarBeijo
abraço-te Mar
ResponderEliminartanto, só porque me emocionei
tanto, com a ternura que de ti leio!
A ternura que se deseja para um mundo que a não aceita!
ResponderEliminarHá sonhos que são isso mesmo ... sonhos !
ResponderEliminarExistem para nos manter dispostos a não parar, a continuar no seu encalço, até que, um dia, e com um "arrepio no corpo", percebemos que aquele sonho é inalcançavel e já cumpriu o seu designío de nos trazer até aqui.
Capitulo encerrado.
Venha de lá outro sonho.
Lendo. Devagar. Repetitivamente para das palavras tirar o som do infinito.
ResponderEliminar"até adormecerem os ponteiros do relógio ."
ResponderEliminarCreio, meu bom amigo, que ai resida a impossibilidade - os ponteiros dos relógios nunca adormecem, fingem que dormem para nos enganarem sobre o nosso tempo real - tão breve, tão escasso. Resta-nos a boa poesia, a boa prosa, para ler ao som de um concerto de pássaros na falésia.
Boas férias, abraço daqui
Mel
Só você, mesmo...
ResponderEliminarbeijos
Há desejos que quase nos fazem perder as "estribeiras"...
ResponderEliminarBeijito.
A determinação felina, a solidariedade canina, a capacidade humana de fazer parar o tempo!O poder da poesia!
ResponderEliminarContinuemos a sonhar enquanto o sonho é livre.
ResponderEliminarAbraço
Moldar as palavras e dar-lhes toda a ternura de um conto solidário.
ResponderEliminarAbraço
Poeta
ResponderEliminarComo era bom que os ponteiros do relógio deixassem de marcar o tempo e os sonhos uma pausa no infinito.
Beijinho
Sonhadora
Meu amigo, a tua prosa continua solta e cheia de maravilha.
ResponderEliminarO meu beijo agradecido
Caro eufrázio
ResponderEliminarLindo e sensivel!!!
Os ponteiros não adormecem, apenas fazem pausas. Mesmo com eles parados o relogio mantem-se certo duas vezes no dia. E o tempo continua arrastando-nos para o infinito.
Beijo
Como gostaria de adormecer a ouvir um concerto de pássaros...
ResponderEliminarBeijo.
As vezes fico feliz por saber que a realidade pode ser ignorada com a imaginação, essa sim, me parece ser a maior das dádivas, afinal, a vida seria apenas vida e mais nada sem ela.
ResponderEliminarbacio
Olá
ResponderEliminarQue seria da vida sem ternura...
Bjs.
A matéria de que se fazem os sonhos é tantas vezes insondável, ao som de pássaros.
ResponderEliminarL.B.
Les Carnaval des animaux
ResponderEliminarAbraço!
Mar,
ResponderEliminarQuanta beleza neste texto. Quantos ensinamentos e propostas bonitas. Obrigada.
Beijos com carinho e ótima noite.
e ainda bem. Assim temos o prazer desta bela leitura. :)
ResponderEliminarabraço
Eu felizmente acordo com o som dos pássaros. Sou uma sortuda.
ResponderEliminarO céu desperta desejo de voar, nas asas dos pássaros nos transportamos, planando no vento da nossa imaginação.
ResponderEliminarContinuemos a ouvir os cantos dos pássaros, no relógio que não marca o tempo.
Um abraço
oa.s
lições que não aprendemos!
ResponderEliminaroriginal.
ResponderEliminarnem todos os cães são de barro e nem todos podemos voar.
mas podemos ouvir o concerto dos pássaros, sempre.
um beij
Quando era menina, quantas vezes adormeci com o canto dos pássaros. Adorei o texto. Lembrei-me de um pequeno filme que passou na TV. Será que os animais do filme inspiraram este texto? Ou simplesmente iam ouvir o concerto dos pássaros?
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
Muitas Vezes Deus Tira Alguem Que
ResponderEliminarAmamos Tanto.
Mais Esse Mesmo Deus Traz Alguem
Que Aprendemos Amar..
Por Isso NÃo Devemos Chorar
Pelo Que Nos Foi Tirado
E Sim ..Aprender A Amar O
QUE Nos Foi Dado ..
Nada Que È Nosso Vai Embora Para Sempre.
A Você Com Muito carinho um
feliz Domingo (DIA DOS PAIS)
Beijos No Coração.
Evanir
Aumentando o meu desejo de voar.
ResponderEliminarbj
E por cá continuo lendo esta tua bela história.
ResponderEliminarAdorei a ternura de um desfecho diferente...
Estou voltando aos poucos, com a certeza de que nunca me esqueço de ti.
Beijos
... e "há mais marés que marinheiros"
ResponderEliminar- gostei dum animal de sentimentos! que tanto faltam nos homens.
Faremos bem em ouvir, só, o concerto dos pássaros. Porque é preciso estar alerta para o futuro.
Abç
Muito interessante este seu texto, no calor de Agosto!
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