quarta-feira, 16 de março de 2011

BARCOS QUE SAIAM A BARRA


Quando sereníssima repousas
os lábios no baloiço das marés
desvendas silêncios
indícios de asas
respiras por todos os póros
um sopro de chamas
a dardejar no cais

Quando os céus tresmalham na ria
trazes castelos de vento
e outras paragens
afagas a paisagem
como se olhasses pela primeira vez
a correria dos marnotos
no espelho das marinhas valentes

Quando repousas os lábios
nesta folha de papel
ficas assim
a preto e branco
mais indecifrável que as velas dos moliceiros
a colher destinos
na palma das mãos

desejos antigos
de construir barcos
que saiam a barra

42 comentários:

  1. "desvendas silêncios
    indícios de asas
    respiras por todos os póros
    um sopro de chamas
    a dardejar no cais"

    Sopro que chegou aqui no quintal, Eufrázio!

    Um abraço,
    marlene

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  2. "(...)Quando repousas os lábios
    nesta folha de papel
    ficas assim
    a preto e branco
    mais indecifrável que as velas dos moliceiros
    a colher destinos
    na palma das mãos(..)"

    que dizer?é tão belo tudo que sai dessa tua alma.
    beijos
    Ana

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  3. Beleza pura:

    afagas a paisagem

    como se olhasses pela primeira vez

    a correria dos marnotos

    no espelho das marinhas valentes

    Beijos,

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  4. É isso.
    Não podemos só construir barcos que não saiam a barra mas,destes também.Sem uns não será possível construir os outros.
    Um abraço,
    mário

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  5. Caro Eufrázio
    Em tempos de grande inquietação a poesia é um excelente "calmante" para aguentarmos. Expecialmente quando se trata daquela em que podemos ler, reler e encontrar sempre uma nova interpretação.
    Viva a poesia

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  6. As palavras têm o dom de encantar nossa alma... E quando elas falam!!! A poesia é magia Eufrázio! Adorei.
    Beijo

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  7. É bom que os barcos "saiam da barra", pois, significa partir.
    Abraço!

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  8. Uma ternura desejosa perpassa por todo o poema de uma forma subtil...

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  9. A preto e branco, como melhor se disfarçam os sentires.

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  10. Se a barra for a do Tejo, que o barco apague, à sua passagem, o velho do Restelo.
    Abraço

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  11. Escrito na margem esquerda do rio, com a inspiração e o talento habituais.
    Forte abraço, meu caro!

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  12. assim a preto e branco

    como a leitura de um destino
    na palma das mãos

    um beijo

    manuela

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  13. Poeta-navegador, quem como tu navega as palavras mar adentro!?
    Belíssímo!
    Um abraço

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  14. "desejos antigos
    de construir barcos
    que saiam a barra"
    Belíssimos versos. Ás vezes, precisamos de ventos de feição e, necessariamente, de um bom leme. A montante de tudo isto, é imprescindível a coragem de desejar, de construir e de sair.

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  15. Poeta

    Por vezes os silâncios falam tanto...e esperam tanto.
    Como sempre emoção.

    Beijo
    Sonhadora

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  16. Que se cumpra então o destino dos barcos: sair a barra, criar asas!

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  17. E o que me disseram estas evocações dos marnotos e dos moliceiros... fiquei com vontade de ir respirar sal...

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  18. Caro Eufrázio;
    BELO poema; e os meus olhos viajaram através da minha amada ria (Aveiro); os meus ouvidos escutaram o seu inconfundível marulhar; as minhas narinas saborearam o cheiro a sal e a moliço.
    Um forte abraço.

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  19. A preto e branco, indecifráveis, tantas velas... tantos barcos.

    Belo,
    sempre singularmente belo!

    Um beijinho

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  20. "desejos antigos"

    Que se construam barcos
    Que se construa então o destino
    de sair a barra

    (eis o que me sugere o teu poema, poeta)

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  21. Eufrázio,
    existem textos (poemas) que nos silenciam, sereníssimos,
    que nos apaziguam de ventos
    a quebrar asas
    e cascos
    e mastros desgovernados. E que nos fazem acreditar que o belo existe concomitante com o íntegro do ser humano.

    Um abraço. A minha ENORME admiração, honrada na sua estima.
    A reler, pela enésima vez.
    Mel

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  22. Que coisa linda de se ler!!!! loquaz e criativos versos, parabéns sempre. TROVANDO , novo blog, veja se gosta.

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  23. ... foi... "escrito na margem esquerda do rio" (in Torquato), mas sempre com duplo sentido!
    são as tuas palavras belas e pela metade decifraveis...

    mas... que amanhã todos os barcos se façam ao mar da justiça..., apesar de eu, de algum tempo, inexplicavelmente, me ter "feito" aos mares da pouca fé...

    saberemos construir barcos?!...
    beijos tantos Mar!

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  24. Esse podia ser o olhar e o respirar de uma belíssima cidade; verdadeiramente navegável e acolhadora. Transporta consigo tudo quanto aqui se diz e transporta-nos com ela quando temos o privilégio de a visitar.

    (Um abraço reconhecido.)

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  25. (lábios que anunciam o nascimento de um novo mundo!)

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  26. Não podemos deixar os barcos parados.Foram feitos para zarpar e a barra deixar.

    Lindo, amei!


    Mil beijos com carinho!

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  27. Um beijo e...o



    CONVITE

    A Direcção da Casa de Angola tem a honra de convidar V.Exa. para a apresentação do livro
    Caminhei&caminhando de Lili Laranjo, bem como a inauguração da exposição de pintura da mesma autora intitulado Angola no meu coração a realizar no dia

    8 de Abril pelas 17h, que terá lugar no nosso auditório.

    Na mesma data organizamos um jantar no nosso espaço gastronómico.

    Para reservar queira por favor contactar os nossos serviços.
    Com os nossos melhores cumprimentos

    Miguel Sermão
    Egidio Feijó
    Departamento Cultural



    Travessa da Fabrica das Sedas, nº7
    1250-107 - Lisboa
    Telef. 21 386 3496

    ( Este Convite é um pedido para ter os amigos e os amigos dos amigos.. o jantar será caldeirada de cabrito e a preço económico.)

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  28. O ciclo das marés, os barcos a navegar em ondas revoltas tudo te remete aos poemas. Delícia de navegar sobre tais escritos.

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  29. Como um cais de partidas e chegadas... Belíssimo poema!
    Um beijo, amigo.

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  30. ...e partam em descobertas de nós, enquanto o poema é o leme:-)
    Belo.

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  31. Palavras que brilham como estrelas nas noites de céu limpo. Palavras que iluminam a rota dos barcos que recusam as amarras e arriscam a viagem sem medo dos "castelos de vento".
    "Navegar é preciso"

    Lindo!

    L.B.

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  32. Que surpresa agradável, esta, de encontrar o meu antigo presidente por aqui e ainda por cima, iniciar a leitura do seu blogue com este magnífico poema. Obrigado Eufrázio, por tudo o que tem sido e por tudo o que continua a ser.

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  33. uma cadência de imagens sempre belas a afagar-nos a sensibilidade.

    grata

    Rosário

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  34. poema desfolhado pétala a pétala. como barcos que se cumprem na viagem. e no corpo das marés.

    gostei muito. excelente.

    abraço, caro amigo.

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  35. Não vim colher destinos, mas poemas.

    E eis que levo muito mais que palavras.

    Um abraço

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  36. "Quando repousas os lábios
    nesta folha de papel
    ficas assim
    a preto e branco
    mais indecifrável que as velas dos moliceiros"
    Magnífico, gostei imenso.
    Abraço.

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  37. Navegar neste teu mar
    quer seja num veleiro
    quer seja num barco
    apenas com mastro
    Ou num moliceiro
    em plena ria
    reforça-nos a alma
    apela à criatividade
    fortalece-nos o sentir...
    Sem marmotos
    aportamos
    no cais da esperança
    ou saímos da barra
    para construir
    outros barcos.

    Saudades

    princesa

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