quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

SOMBRAS VERTEBRADAS

Magritte


Já os cães tinham ladrado tudo
quando os pássaros se recolheram
em coro nos jacarandás
e tu chegavas alada
da ciranda
para repousar no parapeito
da minha janela

Aqui tão perto ressoavam
os meus silêncios preferidos
nas marés desgrenhadas

os teus olhos de púrpura
recolhidos em ânforas
numa feira de barro

para ficares mais leve de palavras

Sereníssima afloraste o velho alaúde

mas foi da escarpa onde te vejo
que nunca saberei quem és
a projectar réstias de sol
nas sombras vertebradas

que movem os teus dedos


43 comentários:

  1. Cheguei

    Os cães
    em silêncio
    acompanham os pássaros
    por baixo dos jacarandás

    Pé ante pé
    sento-me a teu lado
    escuto os silêncios
    em silêncio...contigo

    Silenciosamente
    sopro-te no pescoço
    levemente...
    e retiro-me para a escarpa
    sem me identificar

    De lá
    continuo a alimentar a vida
    a projectar a luz
    e a admirar-te
    até que me reconheças

    Serenamente
    aguardo que chegues
    num sopro imprevisto

    princesa

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  2. Mar arável
    Começo a trabalhar cedo, este momento para dar uma espretadela, já é um intervalo.´
    É uma boa forma de começar o dia lendo este belo poema.
    Abraço

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  3. A debandada sobre os jacarandás faz-se sempre em coro.

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  4. e neste movimento são a asa de um sonho. um beijinho, eufrázio.

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  5. Belissimo!
    «Les choses visibles peuvent toujours cacher d'outres choses visibles»

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  6. Meu caro POETA Eufrázio;
    Belo poema; sublime, profundo, que nos catapulta para um mundo de emoções e nos transporta numa viagem poética muito agradável.
    Gostei imenso.
    Parabéns.
    Um forte abraço.

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  7. Lindíssimo este poema de maresia que fala de emoções.

    Abraço

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  8. Simplesmente,
    magnifico...

    Encontro sempre aqui aquela pureza marina...adoro

    Um beijo Eufrazio

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  9. gosto muito deste poema! há um encantamento nele, nessa figura alada, como ave ou sereia sem ser ave ou sereia, «a projectar réstias de sol» na memória do silêncio e das marés.

    abraço.

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  10. Em todas as esperas, é da escarpa que ressoam todos silêncios.


    Muito belo!

    Um abraço

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  11. Ai se também os corpos,e não só as sombras fossem vertebrados.
    Um abraço,
    mário

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  12. A sombra do pássaro
    no cimo dos jacarandás.
    Belo!
    Abraço!:)

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  13. a Palavra poética - corpo do Desejo!

    belíssimo

    abraço, caro Poeta.

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  14. e ainda que de réstias se faça, o sol ilumina e dissipa as sombras.

    Um abraço.

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  15. Engoli as palavras diante de um poema que me elevou do meu lugar-comum para um céu desconhecido repleto de poesia.
    Lindíssimo, soberbo!

    P.S

    Estou a conhecer o Ary...

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  16. O que a palavra
    leva de vantagem
    sobre o lápís
    o óleo ou a aguarela
    é que
    articulada com amor
    soa sempre mais bela
    sem perder na cor

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  17. E a minha sombra bateu asas!

    Fiat lux! Isso que é propaganda avant la letre, o Criador anunciando a marca de fósforos para quando fossem inventados.

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  18. já os cães tinham ladrado tudo...

    talento e palavras melodiosas.

    bom fim de semana!

    beij

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  19. Não é fácil falar dos poemas de Eufrázio, porque o ex autarca queima pontes, mas digo sem qualquer dúvida que Eufrázio Garcez é um dos poetas míticos da modernidade portuguesa contemporânea, pela intensidade particular da sua obra (quer considerada em conjunto, quer na simples leitura de um único dos seus versos). Os seus poemas são um autêntico cortejo do desassossego. Poeta que reescreve sem cessar, é criador/demolidor de uma gramática peculiaríssima. A infracção regula a pontuação, os padrões são sujeitos à sua consciente desorganização, o fluxo verbal se alastra animalizando o poema. O abalo que a sua poesia provoca é um dos mais intensos que a blogosfera lusa já sofreu. Muito Obrigado!

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  20. O teu poema é uma flor a enfeitar o meu domingo...

    Que também tenhas uma prenda hoje!

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  21. Um corpo de mulher, quando movido a poesia, tem sempre asas...

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  22. Eufrázio, uma vez mais (de tantas repetidas), as suas palavras, impõem-me o silêncio pacificado que só experimento perante grandes obras, do homem, da natureza; impõem-me o recuo para poder ver o todo, impõem-me o movimento lento dos dedos (aqui a comentar) para que, no toque, não ocorra perturbar o recolhimento dos pássaros, o descanso justo dos cães (tão vivos são neste poema). E aqui fico, (sempre) maravilhada e grata.
    Bem-haja
    Mel

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  23. Mais um excelente poema.
    Parabéns pelo teu talento poético.
    Boa semana, um abraço.

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  24. .
    Gostava muito de publicar, se me autorizar, nem que fosse um só poema seu naquele blogue que já conhece e de que Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade e alguns outros são "visitas" assíduas :)

    Abraço.

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  25. Belíssimo poema, amigo! Parabéns!
    Abraço

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  26. é depois dos sons repousarem que as asas se (re)quebram
    e o silêncio se quer verbo.

    belo poema!

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  27. Um poema onde a emoção se nos agarra à pele com dedos de mulher...
    Um beijo, amigo.

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  28. A serenidade de uma tela perfeita, onde luz, som e cor se conjugam no vértice do bem dizer.


    Um beijo

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  29. Para que o belo seja exaltado.
    Grande abraço

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  30. depois
    soltamos os olhos

    e as sombras entrelaçam
    laços e dedos

    ...e os seus poemas!

    um abraço

    manuela

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  31. Das escarpas voam as aves que sonham!

    Sempre o belo nas tuas palavras!

    Abraço

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  32. Eufrázio
    Meu amigo é dificil falar de seus poemas, estou a ler e fico de respiração suspensa. Existe um encanto muito especial.
    Parabéns.
    Beijinho

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  33. Sempre belas as metáforas da tua poesia nos mistérios do amor, porque o amor é um mistério...que não se explica.

    Beijos
    Branca

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  34. Belíssimo poema, em perfeita conjunção com a imagem de Magritte! Deixo abraços alados e azuis.

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