-- Digo-te a bruma coada na cidade, para êxtase do porvir. Incito-te ao levantamento do chão, onde adormecem lábios e pedras em murmúrios e salivas só para te ver transgredir as pautas.
-- Eu digo-te uma luz ao fundo, protegida por sombras e sons, numa campânula de pedras em arco.
-- Repara no cego.
-- Repara no cão.
-- Quando chega a casa - imagino um cubículo de madeira. O cego das esquinas mergulha as mãos no saco das bofetadas, retira-as para o tampo da mesa e conta o abandono a que o votaram em cada moeda coitadinha.
-- É o cego das esquinas. O tempo de rastos.
--- Quem anda a montar o tempo?
--- São os donos dos prédios altos que fazem esquinas para cegos.
--- São os fazedores de cegos, os vendedores de concertinas.
Ja tinha visto este cego
ResponderEliminarMas por o ver aqui
rompo com a jura (feita a mim mesmo)de não me referir ao seu Caçador de Relâmpagos no meu blogue
Mesmo que não aprecie o gesto
ou até mesmo o desaprove...
... é belo demais para o não fazer. Fique a saber!
Continuação de Bom Ano (e boas caçadas, que o tempo está de feição)
O Cego das esquinas dias que são sempre noites.
ResponderEliminarBelíssimo
levantar do chão precisa-se...
ResponderEliminare que o ano novo seja a cada dia um levantar do chão e um rio imenso por onde escorre a poesia.
Um abraço de bom ano!
Somos cegos, fazedores de cegos... por isso também nos é permitido alguma ilusão.
ResponderEliminarOlá, meu caro!
ResponderEliminarBom Ano de 2011 para si!
Um abraço
Quando as palavras se abrem e nos conduzem pelos nossos próprios labirintos.
ResponderEliminarCaro Mar Arável
ResponderEliminarQuantos mais cegos, vamos ver pelas esquinas. Como seria bom que este poema fizesse parte do passado. Quanta tristeza nos dilacera, saber que este poema está no presente e duma forma crescente fará parte do futuro... até um dia.
Abraço
"- Quem anda a montar o tempo?
ResponderEliminar- São os donos dos prédios altos que fazem esquinas para cegos.
- São os fazedores de cegos, os vendedores de concertinas. "
Os fazedores de cegos... os vendedores de concertinas...
É, Eufrázio, aqui está o busílis da questão. E, nas suas palavras, o olhar perspicaz de quem não teme iniciar o ano colocando o acento na silaba tónica. Bem-haja, pois.
Belo livro, este!!!
Beijo e feliz 2011, meu amigo
Mel
"--- Quem anda a montar o tempo?
ResponderEliminar--- São os donos dos prédios altos que fazem esquinas para cegos.
--- São os fazedores de cegos, os vendedores de concertinas"
Belíssimo e de uma sensibilidade tão lúcida...
Um beijo e um bom Ano.
Ainda estou à espera do livro. A quem devo pedir?
...O cego das esquinas mergulha as mãos no saco das bofetadas, retira-as para o tampo da mesa e conta o abandono a que o votaram em cada moeda coitadinha...
ResponderEliminarpor que me lembrou um vídeo que circula por aí, um programa na tv... ensaio sobre o luxo?
Acho que foi a maior bofetada, em público e a cores.
Um 2011 tão feliz quanto possível.
Beijos
Muito bom!
ResponderEliminarUm abraço.
E há tantos fazedores de cegos!
ResponderEliminarAbraço
Mar Arável
ResponderEliminar"Eu digo-te uma luz ao fundo"
Como eu gostava nos tempos actuais conseguir ver uma luz ao fundo,como gostava de poder sentir-me protegida. Quantos (cegos) não andam por estas ruas foras e até parece que vêm, será que vêm!!!
Abraço
Belo lamento e pertinente visão sobre a sociedade a que pertencem os donos dos prédios altos e os vendedores de concertina!
ResponderEliminarmais cegos que os cegos são os que não querem ver...
ResponderEliminarcom a força de um libelo. acusatório.
que a poesia é uma arma...
abraço, meu caro Poeta.
meu blog voltou com tudo acompanhe durante a semana noticiário cultural. Espero que goste. Me siga. Abraços boa semana.
ResponderEliminarinformativofolhetimcultural.blogspot.com
Arrepiante, incisivo, perturbante, belo de tão crú.
ResponderEliminarAno de 2011 sempre com sensibilidade e clarividência.
Abraço
Luís
Um livro que gostaria de adquirir
ResponderEliminarpara acalentar a mente que anda dormente.
Onde posso adquirir, Eufrázio?
Beijo meu.
Maria
É uma boa invectiva, a de incitar ao levantamento do chão. Mobiliza, encoraja, desafia à superação!
ResponderEliminarContinuação de um ano pleno "de luz ao fundo"...
Olá amigo, como passou de ano?
ResponderEliminarVim convida-lo a visitar meu Hanukká, estou voltando com uma linda postagem.
http://hanukkalado.blogspot.com
Feliz ano novo, bjinhos.
Para Meditação:
"Agora pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor". I Cor. 13:13
quase senti os cheiros
ResponderEliminarbrilhante
Beijos
Paula
a sermos cegos todos se não lermos, eufrázio. um beijinho grande.
ResponderEliminarGosto mesmo muito da escrita e o conteúdo é genial. Parabéns.
ResponderEliminarRosário
É sempre um prazer ler as tuas palavras, Eufrázio.
ResponderEliminarDesejo-te um excelente ano de 2011... com palavras como estas.
Abraço
Chris
Gostei de ler - pois ,o maior cego é aquele que não quer ver.
ResponderEliminarBom Ano 2011*
Um beijo
Vou comprar o teu livro, o Rogério e os teus textos despertaram a minha curiosidade.
ResponderEliminarParabéns e muitos sucessos.
São os dias virados do avesso, são os homens esquecidos de si e da dignidade.
ResponderEliminarÉ um texto magnífico que diz da ignomínia usando a poesia
Palavras que nos tocam a alma de tão duras e reais.
ResponderEliminarA hipocrisia dos homens...
Um beijo
E onde habita a verdadeira cegueira?
ResponderEliminarBelíssimo texto!
Beijinho
Excelente este texto que poeticamente mostra a condição do sem-abrigo.
ResponderEliminarO indigente vem da injustiça daqueles que se sentem mais gente perante quem está no chão. Daqueles que exibem as esmolas que dão ao sofrimento.
Um sofrimento que existe porque sobra a uns o que a outros falta.
Abraço
Mar....,
ResponderEliminarhá muito que namoro este poema, pensava pedir-to para o natal época em que as palavras me esquecem mais que nunca, mas.........., parece-me que este ano sou eu que quero mesmo esquecer-me delas, pelo que to peço agora, porque, mais que nunca é preciso que este grito se faça ouvir todos os dias, parece-me [eu não quero ter a certeza] que por longo tempo....
sabes, é que eu perdi o jeito para dizer coisas importantes sem escandalizar, e tu sabes dizê-las tããão bem!
beijo.
Vidas tristes, o saco das bofetadas...
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