terça-feira, 10 de agosto de 2010

OS TERNOS OLHOS DOS CÃES



Neste país que amamos e está a arder muito antes da chegada do Verão, os ciclistas partiram para mais uma etapa.
No topo da montanha uma senhora, sem graça, premiu o gatilho à hora do calor e os atletas lá foram, a pedalar contra o tempo, para o fogo do seu ganha pão.
Neste país que amamos, betonado à beira-mar ainda desgraçada mente são permitidas touradas e algum povo destila nas praias onde mesmo ao lado - bastante ao lado - se banham os poderosos da nação.
Neste país - também aqui - no paraíso dos silêncios acordados - assobiei aos cães e lá fomos abrigar-nos dos sois - na sombra linda do nosso pinheiro preferido - com os pés mergulhados num alguidar de água salgada e pedras de gelo.
Sós mas nunca isolados neste mar arável.
Tranquilo li em voz alta páginas dos nossos Fernando Pessoa.
Foi uma tarde bem passada,
a avaliar pelos ternos olhos dos cães.

35 comentários:

  1. Só mesmo os "nossos" cães podem amar a poesia.
    Abraço

    ResponderEliminar
  2. Nestes dias já só me anda a apetecer o Régio.
    Acordo a ver o Cântico negro.
    Um abraço,
    mário

    ResponderEliminar
  3. Gostei desta prosa e partilho este poema que li hoje do heterónimo de FP:

    É talvez o último dia da minha vida.

    Saudei o Sol, levantando a mão direita,
    Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
    Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.

    Alberto Caeiro

    ResponderEliminar
  4. Olhos de espelhos, os dos cães...Que ternuram refletem?
    abraços,

    ResponderEliminar
  5. Caro,
    Tua prosa poética, de bucolismos e visões da natureza, de sensibilidade e respeito pelo chão da terra amada, de clareza crítica, porém repleta de lirismo... que capta a beleza da tarde, do mar azul e “arável”, da montanha branca, ensolarada de verão antecipado, da sombra do pinheiro preferido e dos olhos ternos dos cães...me fez lembrar de uns versos do mestre Caeiro...
    “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos.../ Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é./ Mas porque a amo, e amo-a por isso,/ Porque quem ama nunca sabe o que ama/ Nem por que ama, nem o que é amar...”

    Pois é...que bela lembrança teu belo texto me trouxe!
    Genny

    ResponderEliminar
  6. Nos olhos dos cães toda tranquilidade e beleza da tarde.

    Abraços.

    ResponderEliminar
  7. Só assim é suportável este Agosto ardente:longe da multidão, na tranquilidade dos silêncios familiares. Os nossos animais domésticos agradecem, sejam cães ou gatos:)))

    ResponderEliminar
  8. Que paisagem tão tranquila e refrescante para quem vive num último andar sem telhado e com frente para nascente sul e poente. Que calor!!!
    Abraço

    ResponderEliminar
  9. Muito gostaria de mergulhar
    nas águas
    do teu "mar arável"...
    Experimentar a sombra
    do vosso pinheiro...
    ...a tranquilidade
    desse vosso paraíso
    dos silêncios...
    E adormecer
    ao som de alguns poemas
    seleccionados

    Que linda foto!

    princesa

    ResponderEliminar
  10. Neste país, que amamos, há também aqueles que partilham da nossa opinião e que fruem os maiores prazeres da vida que são, tantas vezes, afinal, os mais simples e mais próximos.

    ResponderEliminar
  11. Ah os ternos olhos do cães...
    Sobre o país, acabei de escrever lá na minha tasca sobre "o meu país"

    ResponderEliminar
  12. :) termos os cães perto de nós torna-nos mais humanos :) um grande beijinho, eufrázio.

    ResponderEliminar
  13. É mesmo o melhor a fazer. Os cães geralmente com o seu olfacto apurado nunca se enganam onde paira a merda. E neste momento muita dela consporca as praias. Com o interior a arder, o isolamento no mar arável é a única opção.

    Saudações do Marreta.

    ResponderEliminar
  14. Se há olhos que são o espelho da alma, esses olhos são os dos cães (e ainda há quem diga que os animais não têm alma)!

    Obrigada pela sua visita, fico contente por ter gostado :)

    ResponderEliminar
  15. As coisas simples, apenas visíveis ao olhar de alguns...
    beijo

    ResponderEliminar
  16. O meu país tem olhos para ler, mas não tem neurónios para pensar. É um país de alcoviteiras. Abençoados ejam os cães.

    ResponderEliminar
  17. Pois eu estou no coração desse país à beira-mar betonado, tentando não pisar a toalha do vizinho enquanto tento espetar o meu chapéu de sol no único metro quadrado livre que consegui encontrar. O país está a arder? Exagero teu, certamente.

    ResponderEliminar
  18. É por isso que se diz que "o cão é o melhor amigo do homem". Adoro cães e nesse olhar fiel ao dono nada mais há a acrescentar!
    Tudo está ali! E que saudades estão dentro de mim!

    Abraço!

    ResponderEliminar
  19. AH...bela história da nossa triste realidade.
    Parabéns.
    Obrigada pela partilha.

    Na imagem os cães estão todos com ar de quem tem sede, de língua de fora, mas ouvindo a poesia.

    Divulgo aqui a lista dos nomeados com um "Miminho de Verão" e espero que passe por lá para buscá-lo:

    Lili Laranjo - http://africaempoesia.blogspot.com/
    http://poetaeusou.blogspot.com/
    Maria Valadas - http://ecosdepalavras.blogspot.com/
    http://mararavel.blogspot.com/
    Justine - http://quartetodealexandria.blogspot.com/

    Bom fim de semana.
    Beijinho.

    ResponderEliminar
  20. Uma imagem a reflectir Ternura e Tranquilidade.

    E o isolamento do poeta é maravilhoso :).

    Beijos

    ResponderEliminar
  21. Neste país que amamos, ler Fernando Pessoa em voz alta pode ser o uivo da alma que, também os cães, ouvem com ternura.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  22. *
    gostei do Post !
    ,
    *
    " Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem
    uma rebelião, um mostrar de dentes,
    a energia dum coice, pois que nem
    já com as orelhas é capaz de
    sacudir as moscas..."
    *
    in - Guerra Junqueiro
    escrito em 1886.
    ,
    um abraço,
    ,
    *

    ResponderEliminar
  23. Lindos os cães numa tarde que parece ter sido tranquila, apesar dos contraste da nação.

    Gosto de passar por aqui, onde me sinto sempre bem e embora ande em mudanças, procuro um bocadinho para estar presente.

    Beijos
    Branca

    ResponderEliminar
  24. Bom! Não sei se realce a tranquilidade nos olhos dos cães ou se me lamente por habitar também "o paraíso dos silêncios" em que a culpa de todos os males "morre sempre solteira".

    Valha(m)-nos os Fernando(s) Pessoa(s), "em voz alta"...

    Um beijo

    ResponderEliminar
  25. _____________________________


    Ler Fernando Pessoa em voz alta, em meio a Natureza e acompanhado de cães com olhos de ternura... É muito bom! Gostaria de ter estado aí...


    Beijos de luz e o meu carinho!!!

    _______________________________

    ResponderEliminar
  26. merecido repouso.

    que os câes não deixarão de ladrar às canelas dos "poderosos da nação"...

    excelente registo poético

    abraços

    ResponderEliminar
  27. Eles sabem sempre mais do que aquilo que alguns pensam...

    Abraço.

    ResponderEliminar
  28. Neste país, cauterizado e cinzento por estes dias, mesmo as tardes mais tranquilas podem ser assediadas por sombras...

    ResponderEliminar
  29. Até parece que, em Agosto, o país tem de se submeter ao sacrifício dos fogos.
    É assim tão inevitável a imolação?

    A ciclo-subida à Senhora da Graça, até poarece ser a Via-Sacra da publicidade no seu conceito mais tradicional de publicidade: a volta ao país em bicicleta.
    Qual Sísifo!

    Já a demanda ao Algarve se inscreve na transumância sazonal.
    Há no entanto um ponto positivo a considerar: o clima, a placidez do mar, e tudo o resto, únicops na Europa.
    O que se faz do Algarve enquanto lá se está já é outra coisa.

    Um abraço.

    ResponderEliminar
  30. A tranquilidade possível neste país à beira de muitos fogos.

    Um abraço.

    ResponderEliminar