Neste país que amamos e está a arder muito antes da chegada do Verão, os ciclistas partiram para mais uma etapa.
No topo da montanha uma senhora, sem graça, premiu o gatilho à hora do calor e os atletas lá foram, a pedalar contra o tempo, para o fogo do seu ganha pão.
Neste país que amamos, betonado à beira-mar ainda desgraçada mente são permitidas touradas e algum povo destila nas praias onde mesmo ao lado - bastante ao lado - se banham os poderosos da nação.
Neste país - também aqui - no paraíso dos silêncios acordados - assobiei aos cães e lá fomos abrigar-nos dos sois - na sombra linda do nosso pinheiro preferido - com os pés mergulhados num alguidar de água salgada e pedras de gelo.
Sós mas nunca isolados neste mar arável.
Tranquilo li em voz alta páginas dos nossos Fernando Pessoa.
Foi uma tarde bem passada,
a avaliar pelos ternos olhos dos cães.
Só mesmo os "nossos" cães podem amar a poesia.
ResponderEliminarAbraço
Nestes dias já só me anda a apetecer o Régio.
ResponderEliminarAcordo a ver o Cântico negro.
Um abraço,
mário
Gostei desta prosa e partilho este poema que li hoje do heterónimo de FP:
ResponderEliminarÉ talvez o último dia da minha vida.
Saudei o Sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.
Alberto Caeiro
Olhos de espelhos, os dos cães...Que ternuram refletem?
ResponderEliminarabraços,
Tranquila tarde e em tão boa companhia !!
ResponderEliminarPrazeres da vida...
ResponderEliminarMomentos a repetir.
Beijinho
Caro,
ResponderEliminarTua prosa poética, de bucolismos e visões da natureza, de sensibilidade e respeito pelo chão da terra amada, de clareza crítica, porém repleta de lirismo... que capta a beleza da tarde, do mar azul e “arável”, da montanha branca, ensolarada de verão antecipado, da sombra do pinheiro preferido e dos olhos ternos dos cães...me fez lembrar de uns versos do mestre Caeiro...
“Eu não tenho filosofia: tenho sentidos.../ Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é./ Mas porque a amo, e amo-a por isso,/ Porque quem ama nunca sabe o que ama/ Nem por que ama, nem o que é amar...”
Pois é...que bela lembrança teu belo texto me trouxe!
Genny
Nos olhos dos cães toda tranquilidade e beleza da tarde.
ResponderEliminarAbraços.
Belíssimo texto onde a ternura tem olhos.
ResponderEliminarSó assim é suportável este Agosto ardente:longe da multidão, na tranquilidade dos silêncios familiares. Os nossos animais domésticos agradecem, sejam cães ou gatos:)))
ResponderEliminarQue paisagem tão tranquila e refrescante para quem vive num último andar sem telhado e com frente para nascente sul e poente. Que calor!!!
ResponderEliminarAbraço
Muito gostaria de mergulhar
ResponderEliminarnas águas
do teu "mar arável"...
Experimentar a sombra
do vosso pinheiro...
...a tranquilidade
desse vosso paraíso
dos silêncios...
E adormecer
ao som de alguns poemas
seleccionados
Que linda foto!
princesa
Neste país, que amamos, há também aqueles que partilham da nossa opinião e que fruem os maiores prazeres da vida que são, tantas vezes, afinal, os mais simples e mais próximos.
ResponderEliminarAh os ternos olhos do cães...
ResponderEliminarSobre o país, acabei de escrever lá na minha tasca sobre "o meu país"
:) termos os cães perto de nós torna-nos mais humanos :) um grande beijinho, eufrázio.
ResponderEliminarÉ mesmo o melhor a fazer. Os cães geralmente com o seu olfacto apurado nunca se enganam onde paira a merda. E neste momento muita dela consporca as praias. Com o interior a arder, o isolamento no mar arável é a única opção.
ResponderEliminarSaudações do Marreta.
Se há olhos que são o espelho da alma, esses olhos são os dos cães (e ainda há quem diga que os animais não têm alma)!
ResponderEliminarObrigada pela sua visita, fico contente por ter gostado :)
As coisas simples, apenas visíveis ao olhar de alguns...
ResponderEliminarbeijo
O meu país tem olhos para ler, mas não tem neurónios para pensar. É um país de alcoviteiras. Abençoados ejam os cães.
ResponderEliminarPois eu estou no coração desse país à beira-mar betonado, tentando não pisar a toalha do vizinho enquanto tento espetar o meu chapéu de sol no único metro quadrado livre que consegui encontrar. O país está a arder? Exagero teu, certamente.
ResponderEliminarÉ por isso que se diz que "o cão é o melhor amigo do homem". Adoro cães e nesse olhar fiel ao dono nada mais há a acrescentar!
ResponderEliminarTudo está ali! E que saudades estão dentro de mim!
Abraço!
AH...bela história da nossa triste realidade.
ResponderEliminarParabéns.
Obrigada pela partilha.
Na imagem os cães estão todos com ar de quem tem sede, de língua de fora, mas ouvindo a poesia.
Divulgo aqui a lista dos nomeados com um "Miminho de Verão" e espero que passe por lá para buscá-lo:
Lili Laranjo - http://africaempoesia.blogspot.com/
http://poetaeusou.blogspot.com/
Maria Valadas - http://ecosdepalavras.blogspot.com/
http://mararavel.blogspot.com/
Justine - http://quartetodealexandria.blogspot.com/
Bom fim de semana.
Beijinho.
Uma imagem a reflectir Ternura e Tranquilidade.
ResponderEliminarE o isolamento do poeta é maravilhoso :).
Beijos
Neste país que amamos, ler Fernando Pessoa em voz alta pode ser o uivo da alma que, também os cães, ouvem com ternura.
ResponderEliminarUm abraço
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ResponderEliminargostei do Post !
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" Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem
uma rebelião, um mostrar de dentes,
a energia dum coice, pois que nem
já com as orelhas é capaz de
sacudir as moscas..."
*
in - Guerra Junqueiro
escrito em 1886.
,
um abraço,
,
*
Lindos os cães numa tarde que parece ter sido tranquila, apesar dos contraste da nação.
ResponderEliminarGosto de passar por aqui, onde me sinto sempre bem e embora ande em mudanças, procuro um bocadinho para estar presente.
Beijos
Branca
Bom! Não sei se realce a tranquilidade nos olhos dos cães ou se me lamente por habitar também "o paraíso dos silêncios" em que a culpa de todos os males "morre sempre solteira".
ResponderEliminarValha(m)-nos os Fernando(s) Pessoa(s), "em voz alta"...
Um beijo
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ResponderEliminarLer Fernando Pessoa em voz alta, em meio a Natureza e acompanhado de cães com olhos de ternura... É muito bom! Gostaria de ter estado aí...
Beijos de luz e o meu carinho!!!
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Eu creio na ternura...
ResponderEliminarBeijinhos
merecido repouso.
ResponderEliminarque os câes não deixarão de ladrar às canelas dos "poderosos da nação"...
excelente registo poético
abraços
Eles sabem sempre mais do que aquilo que alguns pensam...
ResponderEliminarAbraço.
Neste país, cauterizado e cinzento por estes dias, mesmo as tardes mais tranquilas podem ser assediadas por sombras...
ResponderEliminarAté parece que, em Agosto, o país tem de se submeter ao sacrifício dos fogos.
ResponderEliminarÉ assim tão inevitável a imolação?
A ciclo-subida à Senhora da Graça, até poarece ser a Via-Sacra da publicidade no seu conceito mais tradicional de publicidade: a volta ao país em bicicleta.
Qual Sísifo!
Já a demanda ao Algarve se inscreve na transumância sazonal.
Há no entanto um ponto positivo a considerar: o clima, a placidez do mar, e tudo o resto, únicops na Europa.
O que se faz do Algarve enquanto lá se está já é outra coisa.
Um abraço.
A tranquilidade possível neste país à beira de muitos fogos.
ResponderEliminarUm abraço.
O livro do Desassossego!
ResponderEliminarCerto?