quarta-feira, 16 de junho de 2010

NO COAXAR DAS MARGENS



Acordei a pintar o voo
de um pássaro nos teus olhos
a incitar os cães a lamberem água
na concha das nossas mãos


como se toda a água
fosse de beber às mãos cheias
e os cães
um bando de pássaros
nos teus olhos

De tão breves
acrescentámos à nudez do rio
a sombra de uma ponte
um pedaço de espelho que se olha
nesta desordem de cores

até o pão crescer nas nossas bocas
os silêncios se alimentarem de faúlhas
e nós de outras claridades

Foi quando acordámos completa mente
no coaxar das margens
sem cães nem pássaros

só com os teus olhos

22 comentários:

  1. Estar só com os olhos de quem se gosta , já é uma coisa muito boa.

    Uma boa noite.

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  2. maravilhoso poema, um belo momento de poesia, adorei.

    Beijinhos
    Sonhadora

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  3. Que belo poema!!!
    Abençoada a musa
    de olhos tão inspiradores.

    Que bela sintonia de palavras
    e sentimentos!

    De palavras que nos transmitem
    excelentes sensações

    Que nos ajudam a levitar
    por instantes

    E a sonhar
    nas mesmas margens
    ...
    "pintar o voo"
    "pássaro"..."olhos"...
    ..."concha das nossas mãos"...
    ..."água"..."ponte"..
    ..."espelho"..."claridades"...

    Princesa

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  4. "Foi quando acordámos completa mente
    no coaxar das margens
    sem cães nem pássaros

    só com os teus olhos"

    A realização!
    Poema fantástico!
    Parabéns!
    Beijo!

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  5. "Acordei a pintar o voo
    de um pássaro nos teus olhos"
    O começo de um poema cheio de ternura e de magia. Adorei.
    Um beijo.

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  6. "...até o pão crescer nas nossas bocas
    os silêncios se alimentarem de faúlhas
    e nós de outras claridades..."

    e na sensibilidade da poética das palavras a alma voa com sentido...

    É sempre um prazer ler-te. Obrigada.
    Bjo

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  7. Onde os dedos verdes das várzeas
    se tocam, tremulantes, no azul das águas, e o metal das pontes se espelha em viagens de bem dizer, a poesia reflecte-se em espelhos de rio. E neles os cães não acordam abruptamente os ovos pintados num olhar, e o poema - arte plena, inscreve-se, néctar, dulcíssima forma em profusão maior.

    Belíssimo, Eufrázio.
    Bem-haja
    Mel

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  8. Gosto desta ideia de nos alimentarmos de "outras claridades". Bem precisamos. Outras. Novas. Luminosas e iluminadoras.

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  9. "De tão breves
    acrescentámos à nudez do rio
    a sombra de uma ponte
    "
    Belíssimo poema: o poema como instaurador de claridades, de entrelaços, de traços de união, de uma ponte que a palavra poética atravessa, erige com impressionante força.
    meus parabéns.
    luís filipe pereira

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  10. é deste coalhar os olhos

    noutros olhos que se faz a claridade

    apesar da sombra da ponte

    apesar da desordem das cores


    ___

    beijos

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  11. sem cães nem pássaros :) muito bonito! um grande beijinho.

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  12. Um lindo sonho,
    e acordar so com os teus olhos...
    Bonito !
    Li e reli..

    Beijos

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  13. "Acordei a pintar o voo
    de um pássaro nos teus olhos"

    Agradou-me bastante essa imagem.

    bjs

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  14. O insondável poder dos olhos e palavras muito belas...

    Abraço

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  15. Gosto do poema no qual se pintam pássaros nos olhos... o pássaro, a liberdade de voar...de partir... de chegar.
    O espelho reflecte as cores, ilumina, dá luz.
    A luz é o bem mais precioso que um homem pode ter para além de umas asas, é claro. :))

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