OS DIAS CONTADOS PELOS DEDOS
Parecia que a chuva estava cansada
de cair neste chão
muito antes de rebentar a sombra
das videiras
mas de tanto azul
no outro lado da serra
ainda há mar bastante
mais que céu
para as aves circularem livres
nas nossas mãos
Cúmplices sabíamos que a água
não caía dos teus olhos
nem dos meus
nem do rumor das fontes
nem dos céus vertiginosos
tão só
caía
Sabíamos que um dia ía chover
na escarpa onde nos despimos
sem esquinas nem becos
só não sabíamos os acordes
das maresias
para merecermos os nossos lábios
os dias contados pelos dedos
Há acordes que nunca se sabem, que se criam, que se perdem, que se buscam e que se descobrem. Belíssimo!
ResponderEliminarGosto sempre dos teus poemas, mas deste gostei ainda mais.
ResponderEliminarUm abraço, amigo.
Existem lágrimas assim, desprendem-se e é tudo.
ResponderEliminarcheira a mar...sendo campestre...
ResponderEliminarBelo com dimensão telúrica da tua encosta.
Abraço,
Véu de Maya
[como preces para os cursos da natureza, que se desfaz e recompõe nas próprias palavras]
ResponderEliminarum imenso abraço
Leonardo B.
memória de encontros amorosos, de uma sede a que nunca faltou a água que "tão só/ caía". belo!
ResponderEliminarabraço.
Palavras para quê se já está tudo dito?
ResponderEliminarAbraço
Mais um poema liquido.
ResponderEliminarMuito bom
Abraço
quando contávamos os dias
ResponderEliminarnos rumores das marés
para prevenir o fro dos Invernos
ainda não sabiamos que as aves
circulam sempre
ainda que as nossas mãos antecipem
a rebentação das sombras.
só mais tarde soubémos que o mar
é o destino de céus vertiginosos.
_
beijos Eufrázio
Felicitciones por el post y un saludo!
ResponderEliminar"muito antes de rebentar a sombra
ResponderEliminardas videiras" - bonito isto. É quando a linguagem se esquece de dizer alguma coisa, e faz só poesia.
No teu dom de poemar
ResponderEliminarSó te quero dizer que estive por aqui... a ler-te.
:))
Há chuvas que chegam de céus que o próprio céu desconhece...
ResponderEliminarGostei muito deste poema, mas na verdade... gosto de todos os poemas "aráveis"...
Abraço
Conto pelos dedos o tempo de entardecer cansaços. E chegou-me aqui o cheiro da maresia e a magia das palavras.
ResponderEliminarUm belo poema!
Um beijo, amigo.
Lindíssimo. Doce-amargo, com uma linha azul a circundar os lábios, os dedos...
ResponderEliminar"Cúmplices sabíamos que a água
ResponderEliminarnão caía dos teus olhos
nem dos meus
" versos para um delicado encontro
Por vezes a vida nos leva a contar os dias pelos dedos !!!
ResponderEliminarbjs
momentos que assim contados são mais bonitos de recordar. um beijinho, eufrázio.
ResponderEliminarE quando acabam os dedos das duas mãos? Podemos contar.... com os da alma?
ResponderEliminarsabíamos
ResponderEliminare
isso já e[ra] suficiente
.
um beijo
Quando não sabemos os acordes
ResponderEliminarem vão se dedilham as cordas da viola,
os acordes que soam são imperfeitos.
Bjos
Poema d'água...belo. Obrigada pela visita à Casa da Imaginação.
ResponderEliminarAbraços,
Tânia
O que me trouxe aqui foi esta frase que li no Guizo e o Gato: "Infinitésimo é o pensamento". Numa frase conseguiu dizer tudo. Fantástico.
ResponderEliminarGostei do seu poema e do nome do seu blogue. O mar, imenso mar exerceu e exerce uma atracção enorme de coragem, de medo e infinitude.
Se me deixar colocarei o seu poema no meu blogue porque gostei, e é tão simples como isto!
Passarei para saber se autoriza.
Desculpe entrar sem bater à porta.
:)
Segui o curso de água dos teus versos - cheguei ao fim dos dias.
ResponderEliminarE correm rios e marés e nós, caravelas sem mastro..
ResponderEliminarUm abraço
Como os comentários já vão longe fico-me por um: gostei!
ResponderEliminar:)))
Contar pelos dedos ou... confiar que, depois da chuva, teremos a sombra das videiras.
ResponderEliminargosto dessa metáfora do tempo incrustado no corpo...lind!
ResponderEliminarÉ a palavra, a palavra que, sempre maior, se entre_laça na sombra das videiras em pousio, germinativa, néctar, canto, hino.
ResponderEliminarBelíssimo.
Grata pela partilha
Mel
Chegar... partir
ResponderEliminarRegressar ao ninho
Pé ante pé...
Escutar contigo
o mesmo búzio
Falar com os mesmos cães
na tua escarpa
"para evitar
o suicídio"
para lá dos silêncios.
princesa
Belíssimo!
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