domingo, 30 de maio de 2010

À FALA COM OS CÃES



No bulício dos silêncios
um coro a restolhar
contra o tempo que faz
despertou-me para a fala
com os cães

Acordavam em flor os jacarandás
quando fixámos os olhos
no teu ninho devoluto
e sublinhei com um dedo
molhado nos lábios
uma frase inscrita
no portão da casa

infinitésimo é o pensamento

Indiferente chegaste e partiste
fora do tempo
nas mesmas asas

deixaste um rasto trinado
que guardo no meu búzio
de mãos nos ouvidos

À fala com os cães
os pássaros públicos renovam-se
na minha escarpa

mas é preciso intervir
para evitar o suicídio
dos jacarandás

33 comentários:

ana disse...

Os jacarandás não podem morrer!
E os cães e os pássaros têm que os impedir.
:):))_lindo!

Maria disse...

Perdi o meu olhar na alameda dos jacarandás...
Belo!

opolidor disse...

dizem que os cães ladram... mas, o ar, esse tem que continuar a ser livre e sem limites.
abraço

MAR disse...

QUE PRECIOSO PAISAJE Y POEMA.
Cariños para ti.
mar

vieira calado disse...

Poema bem enquadrado

com o lilás

(também)

dos jacarandás!

Um abraço

Sônia Brandão disse...

Vindas, partidas...
o que importa é a permanência da beleza dos jacarandás.

abs

José Carlos Brandão disse...

"é preciso intervir
para evitar o suicídio
dos jacarandás" - Que verdade, Eufrázio.

Licínia Quitério disse...

É preciso intervir, sim. Os cães, os pássaros, nós. Como poderíamos ser gente sem a flor dos jacarandás?

Muito belo!

Um beijo.

antonio ganhão disse...

O suicídio é um mundo onde os outros são estranhos, tão estranhos como o improvável trio deste poema.

jrd disse...

De Cães e Jacarandás se renovam as asas da poesia.

Gisela Rosa disse...

"infinitésimo é o pensamento...

....

mas é preciso intervir..."


beijo

Gabriela Rocha Martins disse...

é preciso re aprender a linguagem dos CÃES.......

.....para evitar o derrube de mais árvores!

excelente este teu poema



.
um beijo

Justine disse...

É preciso intervir.Ponto.
Ah, os jacarandás que vestem Lisboa

lino disse...

Lindos, a imagem e o poema. E eu, se quiser ver jacarandás floridos, tenho de ir sozinho porque a minha companheira é alérgica às suas flores.
Abraço

Anónimo disse...

intervenhamos juntos, nem que para isso seja preciso ladrar ou morder! beijinho grande, eufrázio.

Torquato da Luz disse...

Mas os jacarandás são eternos, meu caro... Ou não?

R. disse...

"Infinitésimo é o pensamento" e o poder criativo. Salvemos, pois, os jacarandás com a melodia que invade este escrito: a fala dos cães, o bulício do silêncio e o trinado que o búzio guarda.

2decopas disse...

2decopas à fala com quem fala com os cãezes:
Já era a era em que os animais falavam com os homens. Quando o faziam, os homens respondiam. Esta é a era em que os homens falam com os animais. É preciso. Mas quando o fazem, respondem-lhes estes? Talvez o cão que não tenha vida de cão o faça. Talvez este cão seja da opinião que o homem é o melhor amigo do cão. Ossos do ofício.

Mar Arável disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manuel Veiga disse...

desamparados ninhos devolutos...

que os cães uivem. e os jacarandás floresçam...

e o canto (dos pássaros publicos) se renove.

e renasçam búzios.
em mãos abertas...

abraço,Poeta

Sara disse...

Prefiro não pensar na possibilidade de se auto-extinguirem. Prefiro, antes, pensar que, acordados em flor, nos "acordarão" para a beleza e harmonia que consigo trazem.

Lídia Borges disse...

Ninguém pode ser indiferente aos jacarandás em flor, nem os pássaros nem os cães, nem os homens.
Como podem suicidar-se?

Tão lindo!

Um beijo

anamar disse...

Amanhã vou de novo ver os jacarandás da minha rua... que as suas flores são efémeras...
faço visitas guiadas...
:))
Beijinho

Virgínia do Carmo disse...

Li algures que os frutos dos jacarandás são semelhantes a conchas; e que por esta altura florescem e libertam uma poeira de sementes / vida ...

Um abraço

Mª João C.Martins disse...

"... infinitésimo é o pensamento. "

e este, vou guardá-lo comigo, cá dentro. Vou repeti-lo, nos dias cheios de mim, para nunca mais me esquecer!

Um abraço

Graça Pires disse...

" é preciso intervir
para evitar o suicídio
dos jacarandás"
Concordo!
Beijos.

maré disse...

um diálogo só possível na sabedoria
das árvores.

fazer falar o silêncio
e incendiar as conchas com o rumor do pensamento.

__ beijo Eufrázio

tb disse...

É preciso intervir. Entervinhamos então com o poder da fala nossa e dos outros animais.
É a profundidade por detrás das palavras que me deixa rendida. Aqui.
meu beijo

Nilson Barcelli disse...

Magnífico poema.
Gostei do princípio ao fim, mas destaco estas estrofes:
"deixaste um rasto trinado
que guardo no meu búzio
de mãos nos ouvidos"
Bom fim-de-semana.
Abraço.

Mel de Carvalho disse...

jacarandás...
um mar de azul/lilás que veste de pétalas mansas os trilhos das memórias.
o poema fluí, no rasto dos pássaros, no dorso os cães.

no "bulício dos silêncios" releio cada palavra e saio deixando aqui o meu agradecimento pela partilha.

bem-haja, Eufrázio
abraço fraterno
Mel

oasis dossonhos disse...

Amigo

Coloquei este post na minha pagina do Facebook, recomendando a leitura da tua poesia.
Abraço
Luís

Tania regina Contreiras disse...

Belíssima a forma de referir-se aos jacarandás...Vou aqui aprendendo a dizer contigo.
Abraços,
Tania

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

Abraços alados, lilases e leves!!!