quinta-feira, 1 de abril de 2010

UM RIO SEM MARGENS

                                                     René Magritte


Nas minhas veias já fluia um rio
quando julgávamos saber tudo
mas ainda não tinha nascido a primavera

Aconteceste herética solta e doce
no meu cavalo
desobrigada de destinos

Eu sabia que partilhávamos o uivo
quase infinito dos cães

só não sabia se anoiteciam
ou iluminavam as nossas estrelas

Encontrámo-nos estranhos
numa povoação de salivas
e foi assim que partimos
a navegar azinhaga fora

Apanhávamos amoras e papoilas
despojados de tudo
menos da tua voz silvestre
onde um pássaro desconhecido
cantava um rio sem margens
até ficarmos presos nas silvas

Vamos construir um barco?

Que fizeste do meu cavalo
e do uivo dos cães?

Estão a chegar meu amor

29 comentários:

  1. Já passei varias vezes por aqui, esta madrugada. Os teus poemas são belos, cheios de metáforas, mensagens muito para além de...
    Não sei comentar o teu poema.
    Sei que é belo, entendo as letras em branco nas entrelinhas, mas não sei dizer... desculpa.
    Beijo.

    Muita paz na tua Pascoa

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  2. Deslumbro-me com o teu poetizar.

    Sublime.

    Uma BOA PÁSCOA!

    Beijos.

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  3. belo. Campestre e inocentemente lúcido de construção de vida.
    cheiro a rosmaninho :)
    beijinho

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  4. Porque as coisas visíveis podem sempre esconder outras coisas visíveis.
    Uma composição notável: Um poema lindíssimo ao nível de uma pintura magnífica de um grande pintor.
    Um abraço Poeta

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  5. Páscoa...
    É ser capaz de mudar, 
    É partilhar a vida na esperança, 
    É lutar para vencer toda sorte de sofrimento.
    É ajudar mais gente a ser gente, 
    É viver em constante libertação, 
    É crer na vida que vence a morte.
    É dizer sim ao amor e à vida, 
    É investir na fraternidade, 
    É lutar por um mundo melhor, 
    É vivenciar a solidariedade.
    É renascimento, é recomeço, 
    É uma nova chance para melhorarmos 
    as coisas que não gostamos em nós, 
    Para sermos mais felizes por conhecermos 
    a nós mesmos mais um pouquinho. 
    É vermos que hoje...
    somos melhores do que fomos ontem.
    Feliz Páscoa!
    Um abraço

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  6. Construir um barco com as palavras do silêncio.
    Belíssimo!
    Um beijo e uma Páscoa com Amor.

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  7. este poema é já um barco em construção. um grande beijinho e boa páscoa!

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  8. Uau!
    fazia tempo que eu não te visitava!
    Que belo poema!
    Um abraço!
    Inês.

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  9. O amor em ritmo de écloga!Contudo, perturbante.

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  10. belo...
    Páscoa feliz.alegria...felicidade...amor. poesia e chocolates, se gostas.

    abraço,

    Véu de Maya

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  11. *
    a Primavera
    desobriga os destinos
    que se renovam
    entre amoras e papoilas !
    ,
    amendoadas conchinhas,
    ,
    *

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  12. Muito elegante, esbelto, este seu poema!

    Um abraço

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  13. Soltar-se-ão das silvas e aguardarão os barcos presos ainda nas ramadas altas.
    Lindooo!

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  14. Um fim que é um começo, e o poema poderia continuar e continuar...Gostei! :)
    ~CC~

    PS. Peço desculpa, mas da última vez e sem saber como, apaguei o seu comentário...não o consegui recuperar.

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  15. presa de uma emboscada das águas
    surgiste com boca de amoras
    e um canto de mel a desabrigar a primavera.


    *
    e tudo pode acontecer quando se canta um rio sem margens

    lindo!muito, Eufrázio.
    um beijo

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  16. Lindíssimo e cheio de imagens que saltam do texto.

    Um barco é sempre bom quando há vida em sopro.

    Beijomeu

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  17. Sim... é muito belo, e encontro-lhe sempre um encanto novo, de cada vez que o releio.

    Beijo, noite feliz

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  18. Excelente!

    Um barco, um rumo, uma comunhão...

    Um abraço.

    (Eis uma visita inesquecível!)

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  19. E tudo é tanto por descobrir, até transformarmos as verdades em segredos...

    Lindíssimo....

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  20. Inesgotável fonte, onde sacio a minha sede de ler boa poesia.

    Cito:
    "Apanhávamos amoras e papoilas
    despojados de tudo
    menos da tua voz silvestre
    onde um pássaro desconhecido
    cantava um rio sem margens
    até ficarmos presos nas silvas"

    Versos feitos imagens na minha memória.

    Beijos.

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  21. Os poemas deste Mar são barcos nos quais é possível navegar. E perante o roubo dos sonhos, que todos os dias vemos ouvimos e lemos, a poesia é a grande respiração.
    Abraço
    LFM

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  22. Que te posso dizer que não tenha dito já?!

    Um abraço.

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  23. viajei num amor bucólico (será?)... foi onde andei e gostei!

    um abraço
    luísa

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  24. Lindo!

    "Vamos construir um barco?"

    Obrigada por todas as palavras desse imenso Mar...


    Um abraço

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