segunda-feira, 31 de março de 2008

SEDIMENTOS

GEORGES LAUGEE


Nos braços que "eternizam" este rio

procuramos o rosto do lume

que precisamos

para incendiar palavras

"ensinar-lhes"

a linguagem dos gestos

e nas flores o vinho das abelhas


Segundo as pautas do silêncio

por muito que se contemple

o ventre deste rio

seguiremos sempre o eco

longínquo e bolhoso das rãs

o coaxar dos remos

a canoa azul

mesmo nos apeadeiros da memória

até à foz

no desaguar dos rumores


Nos braços deste rio

é preciso saber escutar

o rumo do sangue

tatuado nas veias

mesmo que embriagado

de memórias e paisagens


muito mais

que esta navegação de migalhas

onde só faltamos nós

os sedimentos


24 comentários:

Anónimo disse...

"Nos braços deste rioé preciso saber escutar"
o saber escutar é como o saber esperar, aprende-se com a vida...
boa semana

São disse...

O poema faz jus à beleza da imagem: parabéns!

Se puderes passar por lá, obrigada.
Abraços.

Teresa Durães disse...

conhecermo-nos e sermos o que somos em vez de sendimentos que pousam no fundo do leito

hfm disse...

dos sedimentos das "pautas de silêncio". Belíssimo.

jrd disse...

Muito bom!

Até ao dia em que, também nós, havemos de seguir na passagem das águas que o Mar espera.

São disse...

Vim reler-te.
Abraço.

Graça Pires disse...

Um rio na memória. O rumor do sangue no poema.

Anónimo disse...

escreves de forma a sedimentar as flores no rio das abelhas. bonito*

CCF disse...

Gosto de todos os poemas com rios lá dentro ou de todos os rios com poemas dentro. Abraços
~CC~

Mateso disse...

Rio de gente , rio de esperança, rio de vida, rio de nós...
Lindo.
Bj.

Ana Paula Sena disse...

Bom poema! E gostei muito da pintura que desconhecia.

Identifiquei-me bastante: cada vez mais sinto ser um sedimento. Destino ou condição?

:):) Obrigada!

hora tardia disse...

como sedimento. de ouro.


nada falta. aqui.



bom dia.


.

inominável disse...

não faltamos, não... somos estes sedimentos coalhados no fundo do rio, enquanto tudo nos passa por cima, a correr...

un dress disse...

braços de rios

recoletando

infinitos




beijO

Donagata disse...

Já me deixei navegar nos braços deste rio, já deixei que as suas palavras me incendiassem, já escutei o coaxar dos remos nos apeadeiros da memória...
Que dizer? Gostei muito. Vou reler e reler e reler... e a Carlota está a ouvir de olhos semicerrados como quem aprecia profundamente.
Um beijo.

Maria Laura disse...

Ver, neste rio, para lá do que nos embriaga o olhar. É urgente.
Excelente poema.

Gabriela Rocha Martins disse...

quedo.me
em silêncio
e leio

como se te encontrasse

uma primeira vez


.
um beijo

Manuel Veiga disse...

"rosto do lume
que precisamos
para incendiar palavras..."

belos. tais rosto. (re)conheço-os. aqui.

abraços

mnemosyne disse...

Gosto assim dum rio agulha que nos costura ao rendilhado das águas

Beijo

Luís Galego disse...

Pautas de silêncio associadas a GEORGES LAUGEE são uma pérola poética e plástica.

~pi disse...

sedimentos invisíveis

calados?

Carla disse...

e porque "navegar é preciso" deixei-me seguir por este teu rio...
belas palavras

nana disse...

muito mais
que a vida nossa,
o universo
que somos
vivemos
sentimos
neste rio
de braços
e sangue





..






x

Bandida disse...

sedimentos. absolutos.