sábado, 6 de janeiro de 2018

NA MEMORIA DAS PALAVRAS


                               

                                                                          Com a poeta Licínia Quitério na Ericeira


Quando reivindico um sopro de música
para o teu andar de ancas vagaroso
sobre a nudez branca das dunas
é para despertar o sabor do vento
desfolhar os teus cabelos

Quando reivindico um futuro quase divino
para as aves marinhas
que perfumam as clareiras solares
mais íntimas deste espaço
desejo apenas um porto seguro para o teu corpo
uma jangada efémera de cristal

Quando reivindico para ti um sonho verdadeiro
brotas do chão como um pomar de faúlhas
como se fôssemos uma lenda
em viagem sinuosa pelo tempo

És a pátria em alvorada que navego
e me desprende
o acesso intangível às brevíssimas papoilas

grão de areia esculpido com amor
na memória das palavras


Eufrázio Filipe
Publicado e lido na Ericeira numa iniciativa da poeta Licínia Quitério 2014

17 comentários:

  1. Que belo poema, Eufrázio:), e que bela imagem.
    Fica um beijinho com estima e amizade.

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  2. ...com o mar, momento poético no olhar. belo.
    abraço.

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  3. Há sempre memórias esculpidas com amor em nós....
    Que lindo....
    Beijos e abraços
    Marta

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  4. Gosto muito de ler a Licínia! E a si também, naturalmente!
    Que bom haver blogs e facebooks para irmos conhecendo poetas discretos e tão bons!

    Bom Ano!

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  5. Reivindicar a vida, dar-lhe cor, sabor e cheiro...
    Muito bom, Eufrázio!

    Abraço

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  6. Um espaço branco bastaria para repousar da viagem e do sonho de papoilas! Muito belo.
    Beijo, EF

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  7. Quando reivindico para mim ler as tuas palavras é porque elas vêm direitas ao meu coração. Boa iniciativa da Licínia. Beijos aos dois.

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  8. reivindicador é aquele que ama as palavras e gosta de as dar a ler

    um abraço

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  9. Fiquei presa na imagem do porto seguro - uma jangada efémera de cristal.
    Serão assim todos os portos seguros? Um misto de quente clareira solar onde o corpo se aninha e o desgarrado frio cristal que sozinho se tornará estéril...
    Como quero (queremos todos?) "o acesso intangível às brevíssimas papoilas"

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  10. As tuas reivindicações artísticas são, naturalmente, concedidas, tal a dimensão da tua criação.
    Gostei de saber deste evento poético.
    Nunca li nada da Licínia, vou tentar.
    Bjo

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  11. Que belo «sonho verdadeiro», este poema!
    (Bem parecido, o poeta!)

    Beijo

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  12. Gostei das reivindicações.
    Isto é, no meu ponto de vista, o poema é excelente. Parabéns.
    Bom fim de semana, caro Eufrázio.
    Abraço.

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  13. Viva, caro Poeta.
    Um sublime poema.
    Vale mais que a tela pintada.

    Imagine-se...
    A nós basta-nos
    "um grão de areia esculpido com amor".
    Que somos nós senão destino
    de moldar a praia à medida
    dos olhos e da mão humana?

    Abraço.

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  14. Muito bom recordar esse encontro. Tarde linda de poemas e poetas. Abraço.

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