MAGRITE Incomensurável num rasgo de lucidez o mar já nos havia entrado pelo corpo num abraço de limos com bandeira e sangue de cores lúcidas lá estava inteiro nos halos luminosos da vasta sede até arder de novo a madrugada passo a passo nos lábios da romãzeira Eufrázio Filipe
Cantavas cantavas cantavas e eu não sabia se eras tu ou um pássaro do alto a prender-me o olhar na tua voz Eufrázio Filipe publicado em 2014 agora reconstruído
Sonâmbulos de olhos abertos os rios seguem o caminho das águas ergo pela cintura o teu corpo alado chamo-te mar na ausência dos pássaros canto em campânula no ouvido dos búzios Eufrázio Filipe
Quando abri a janela a deshoras o mar uivava cão lindo no ciclo das marés organizava sussurros para dar sentido a um sopro de vento A noite estava escura tão escura que nem parecia noite Foi preciso acender um fósforo contra o vento libertar num traço a cores o contorno das sombras Eufrázio Filipe
A cantarolar metias nos púcaros uma feira de barro mas hoje estavas tão só a apascentar azuis murmúrios barcos de mãos nos ouvidos a cantarolar pintavas lábios com os lábios nas nossas bandeiras mas hoje estavas tão só imaculada inteira a dar vida aos pássaros Despiste-te por um instante no espelho do cais só mas nunca isolada nas tonalidades melódicas dos mares desgrenhados isenta de palavras e outros destinos Eufrázio Filipe