sábado, 26 de outubro de 2019

SILENTE O CHÃO SE ALEVANTA






Quando eras um rio
a rasgar caminhos vertiginosos
as escarpas seguiam
imaculadas os teus olhos
os peixes ficavam vermelhos
na tua boca
nidificavam entre margens
enleados num abraço de limos

quando a sombra das pontes
nem sequer eram fronteiras
e eu disse que os rios viajam
do ventre até à foz
tu sabias que só o mar
os acolhe

quando eras um rio
eu dava os primeiros passos
na água

a desconstruir muros
silente o chão
se alevanta
nas nossas mãos



eufrázio filipe
"Chão de Marés"


16 comentários:

  1. Eu gosto da poesia
    Que entra por minha mente
    E vai à alma que sente
    O que o poema envia

    Mas hermética ou fria
    Não gosto, unicamente
    Porque não passa da lente
    Do meu olhar qual vigia

    Que observa pra fora
    Como se o aqui e agora
    Fosse eterna fantasia.

    Quando o modernismo aflora
    Sinto logo e sem demora
    Saudades do que havia!

    Grande abraço! Laerte.

    ResponderEliminar
  2. Os poemas são transformados por quem os lê, certo?
    A mim este poema soou-me a mãe.
    À mãe da infância, que contrasta com a mãe envelhecida (e tão humana) da idade adulta.

    ResponderEliminar
  3. Desconstruir as pontes para que o rio que és seja o rio de todos os que acreditam na purificação da água e da liberdade. Belo, o teu poema.
    Uma boa semana, meu Amigo.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  4. O rio e o tempo.
    Ambos correm e escorregam entre limos escorregadios.
    Belo, belo.
    Beijinho, EF

    ResponderEliminar
  5. Vivemos na esperança de que se alevante em breve.
    Abraço

    ResponderEliminar

  6. desconstruir muros
    por vezes (muitas vezes) é sempre complicado
    mas com a força das mãos

    tudo é capaz de se alevantar (ou não?)

    abraço caro Poeta

    :)

    ResponderEliminar
  7. Descontruir muros e construir pontes sem fronteiras são valores fundamentais.
    Bj

    ResponderEliminar
  8. Belo o poema...quase de amor, mas de um amor maior, de apelo e de luta. Rio transformante, multidão que se «alevanta».

    Beijo.

    ResponderEliminar
  9. Belíssimo poema...
    Fez me lembrar a minha avó com o se "Alevanta"
    Bom fim de semana
    Beijo

    ResponderEliminar
  10. Rios que nos ensinam o caminho da liberdade desconstruindo os muros.
    Belíssimo.
    Beijinhos e bom feriado.
    Ailime

    ResponderEliminar
  11. ...enleados num abraço de limos..."

    como todos os bons momentos que nos fogem como água, como rio, como mar. Um escorrer da felicidade que tanto queremos deter.

    E ainda assim, eu gosto da imagem das palavras, e do poema de lembranças. Elas estão presentes, e é o que fica vivo na fugacidade do tempo.

    "SILENTE O CHÃO SE ALEVANTA"
    que lindo!

    Um abraço.



    ResponderEliminar
  12. Um poema lindo!
    Fiquei aqui imaginando a cena descrita!
    Parabéns pelos versos Poeta!

    Pensamentos Valem Ouro

    ResponderEliminar
  13. "a desconstruir muros
    silente o chão
    se alevanta
    nas nossas mãos"
    Tenhamos esperança. A voz dos poetas derruba muros.
    Parabéns, meu amigo, por este poderoso poema. Tocou-me na alma... e não sou poeta!
    Beijo.

    ResponderEliminar