quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

GRÃOS DE AREIA






Ao fundo
neste Inverno dissonante
cães de lume incendeiam
sopros de vento
nos recortes da serra

rasgam-se em sombras
ladram silêncios
às flores silvestres

mas tu resistes

continuas a lavrar grãos de areia

e a chuva cai desgrenhada
nos teus cabelos
surpreende-me em pleno voo
a ouvir-te cantar

não digas nada que seja
apenas o que os olhos vêem

fala-me por gestos



Eufrázio Filipe
(Chão de claridades)



14 comentários:

  1. Resistir ao inverno, apontar a primavera que há de vir.

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  2. Mesmo no Inverno, algo floresce nos gestos, nos olhares...
    Lindo...
    Beijos e abraços
    Marta

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  3. Às vezes tenho aquelas saudades estranhas daquelas coisas que nunca tive.
    Da serra... como se fosse "minha"

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  4. Um vai e vem que deixa na fímbria da areia o espaço e o sal das palavras.
    Grande abraço Poeta amigo.

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  5. Muitas vezes as palavras corrompem a pureza do gesto. Talvez por não conseguir abarcar e traduzir o sentimento do olhar e do gesto. Abraços. Bom domingo.

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  6. Cantar enquanto resiste... Há-de falar-te por gestos com certeza...
    Belíssimo!
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  7. Mar,já não vinha aqui há muito e vejo que perdi muito.
    Os teus poemas são maravilhosos e este não foge à regra.
    Enquanto escrevo aqui, ouço poemas teus. Não sei se é a tua voz mas estou a adorar.
    Beijinhos,
    Ana

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  8. O gesto é tudo. Os olhos vêem aquilo que merece ser visto. Lavrando areia, rochas que vêm do fundo dos tempos, a consistência do canto manifestar-se-á.

    Abraço

    Olinda

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  9. por vezes, as palavras são de mais.
    (gestos nas labaredas em voos)
    abraço, poeta.

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  10. "Cães de lume...
    ladram silêncios"!!!
    Para lá do que "os olhos vêem",
    vale-nos saber enxergar.

    Sempre o timbre das imagens, suportadas numa linguagem poética personalizada, que se exprime em sons plenos e distintos, numa harmonia de mestre.
    Abraço.

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