-Digo-te a bruma coada na cidade, para êxtase do porvir. Incito-te ao levantamento do chão, onde adormecem lábios e pedras, murmúrios e salivas - só para te ver transgredir as pautas.
-Digo-te uma luz ao fundo, numa campânula de sons em arco.
-Repara no cego.
-Repara no cão.
Quando chega a casa- imagino um cubículo de madeira - o cego das esquinas mergulha as mãos no saco das bofetadas, retira-as para o tampo da mesa e conta o abandono a que o votaram em cada moeda coitadinha.
- O cego das esquinas. O tempo de rastos.
-Quem anda a montar o tempo?
-São os donos dos prédios altos que fazem esquinas para cegos.
-São os fazedores de cegos, os vendedores de concertinas.
Eufrázio Filipe
Caçador de Relâmpagos
olho por olho.
ResponderEliminar"-São os donos dos prédios altos que fazem esquinas para cegos.
ResponderEliminar-São os fazedores de cegos, os vendedores de concertinas."
Verdade.
Bjs
Cegos são sempre os que não querem ver...
ResponderEliminardesenha-se uma esquina e perde-se o olhar... ao virar.
ResponderEliminarum desenho bom a condizer...
A concertina pode ter
ResponderEliminaralgo de desacerto,
uma subversão de sons
que ponha em risco
a estrutura do betão
armado em férrea fortaleza.
Por isso lhe passam ao largo,
tenho a certeza,
atirando-lhe uma preta...
Abraço, Poeta.
E os " cegos " são " mais que muitos" como se costuma dizer; cegos que apressados passam , esmurrando-se nas "esquinas dos prédios altos" tentando desviar-se do que fingem não ver; não lhes interessa, não é com eles, problema de quem não tem o sentido chamado " visão"; cegos aqueles que distraidamente deixam " cair "uns centimos num boné que virado para cima apanha a moedita e seguem com a " alma lavada" achando que realmente viram alguém; cegos, cada um de nós tantas vezes...fechando os olhos para não termos de ver o cão, não reparar no cego e pior...para não termos de estender a mão. E agora..está a chegar o Natal e, por milagre, por magia, os nossos olhos se abrem mais um pouco, uma moeda clara sai da nossa mão com mais facilidade e até o cão é acarinhado. Só agora!!! Ha muita luz nas esquinas brilhando em cores garridas, cintilantes e vê-se bem o cego e também o cão; mas...tudo brevemente acaba e logo logo a luz se apaga; a cegueira volta!
ResponderEliminarAmigo, que as luzes que agora brilham por toda a parte continuem a iluminar o teu caminho e que a saúde e a alegria não faltem nem a ti nem aos que te rodeiam.
Um beijinho
Emilia
E o mundo anda cego, poeta!
ResponderEliminarUm abraço e Feliz Natal.
Muito cegos somos nós que ignoramos a miséria que nos rodeia...
ResponderEliminarCumps
Inquietante poema neste "tempo de rastos"...
ResponderEliminarUm BOM Natal e um Ano Novo MELHOR.
Um beijo, meu Amigo.
Fico a pairar na abrangência textual e na intensidade das palavras.
ResponderEliminarBJ
forte e inquietante poema
ResponderEliminarFeliz Natal
beijo
:)
Magnífico poema.
ResponderEliminar"o cego das esquinas mergulha as mãos no saco das bofetadas". Tantas!
Beijinhos,
Ailime
Um mundo desigual e sobretudo injusto.
ResponderEliminarBem-haja por denunciar!
beijinho
Palavras a doer mais que bofetadas.
ResponderEliminarBeijo.
Vivemos numa época, em que se constroem diariamente esquinas para cegos...
ResponderEliminarBelo texto...:)