quinta-feira, 31 de março de 2016

À BEIRA DO DESEJO





Nas fissuras menos conhecidas das pedras
navegam sargaços de cristal
move-se um coração de ave
água possuída de viagens
que o sol lambe em alvoradas

Na mais dura pedra um barco
com gestos a dardejar
desperta animal no próprio corpo
margens
voz
arestas
como se houvesse princípio para a fala

Na mais dura pedra a explosão
secreta dos corais
um pequeno sinal de vida
incontido
à beira do desejo e amanhãs
nesta pátria de náufragos
adentro

Nas fissuras menos conhecidas das pedras
uma asa suspensa
voa na luz
despe-se de tudo
participa
na desordem dos espelhos

Eufrázio Filipe (2007)

14 comentários:

  1. no mais íntimo das pedras o fogo...
    e na dureza da(s) viagem(s) a asa colorida da esperança e do sonho...

    ... pese embora a (ilusória?) desordem dos espelhos!

    abraço, meu irmão Poeta.

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  2. Dá para ver que pensas azul e só essa cor cabe de forma especial na tua poesia.

    Afastada, mas sempre com os "bleu birds" no pensamento.

    Beijinho

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  3. Por muito ténue que seja há sempre luz.... E quando explode em cores e nos abraça, sabemos que vamos encontrar um sentido... Para a vida....Com esperança...
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  4. E mesmo que nos faltem as palavras temos que mostrar sempre que estamos vivos, que há vida, há um coração a pulsar dentro de nós, numa ânsia de esperança, de acreditar que o barco nos levará a bom porto Sentimo-nos como naufragos tantas vezes, mas agarramo-nos com força aos pequenos sinais de vida que com coragem vão furando através das "fissuras " das pedras. Sao duras as pedras , mas conseguem os corais explodir , dando-os sinal de que tudo é possivel. Há que ser corajoso e esperar , pois o mar , como sempre, vai acalmar, pelo menos até que outro barco chegue e uma nova viagem comece. Mar é a tua vida e a vida é um autêntico mar, também ela cheia de marés. Lindo como sempre, amigo! Um beijinho
    Emilia

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  5. Não fujo da poesia, gosto de abraçar com os braços da leitura, lubrificada pelas águas das margens que tu tão bem conheces!
    Um abraço e vivam os versos que ora navegam, ora se afogam nas águas

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  6. Lindo!! Tão intenso
    quanto a poesia que abraça as aguas
    e escorre pelos dedos dando formas aos espelhos.

    Beijos

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  7. Nas fissuras menos conhecidas das pedras, um pequeno sinal de vida é já o amanhã que se anuncia.

    Abraço meu irmão poeta

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  8. Pois são nas fissuras das pedras
    por onde emergem as nascentes !

    como "um pequeno sinal de vida
    incontido".


    Abraço.

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  9. Há pedras que são maternidades.
    Excelente poema, parabéns por mais esta pérola poética.
    Bom resto de domingo e boa semana, caro amigo Eufrázio.
    Abraço.

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  10. É disto que se alimenta
    o flagelado na tormenta
    eo Poeta sabe da ordem
    na desordem dos espelhos
    que emergem da fenda.
    É lá que se revelam
    cristalinos segredos.

    Abraço

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  11. e enquanto a asa se deixar voar na luz
    então tudo ainda tem solução
    mesmo que os espelhos espelhem a desordem

    a foto da arte xávega da Costa foi um bom suporte para a foto

    saudações poéticas

    boa semana.

    beijo

    :)

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  12. As pedras. As palavras arremessadas pelo poeta a partilhar "um coração de ave", uma "asa suspensa" voando na luz... Magnífico, meu amigo!
    Beijo.

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  13. Por todo o lado pulsam vidas mas só a sensibilidade e mestria poética de alguns é que a veem.
    Belo, original (e mais uns quantos adjetivos...)
    :) :)

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