"Caçador de relâmpagos" 2010
No chão dos marnotos caminhamos azinhagas, comemos amoras, tropeçamos memórias, pedras, pérolas e pó - para compreendermos melhor as palavras de carne e osso até as metáforas se ajoelharem como pequenos deuses inúteis, à nossa mesa.
Só depois provamos o sal das marinhas. A safra.
O tempo dos homens que chafurdam no moliço.
A distância que nos separa e atrai, a pele esfarrapada para resistir aos Invernos, mastros de flores salgadas nos olhos distantes a gatinharem no tempo, até ao aborrecimento final.
Após a "bobadela" a marinha começa a parir uma massa branca, que envaidece os homens quando se olham nas sombras curvas projectadas nas águas.
O sal aparece ao ar livre. Reunido em montículos junto aos tabuleiros das marinhas e aí fica a escorrer lágrimas .
Depois é o marnoto que enche canastras transportadas à cabeça dos moços Depois é sempre assim. O mesmo peso até estar construído o grande cone branco.
Antes de regressarmos às azinhagas e comermos o resto das amoras, os homens reúnem-se ao cair da noite, para festejar.
Enquanto se embebedam , cantam com a ajuda de uma gaita de beiços. Há sempre um que vomita e volta a cantar.
São os rudes corações de oiro, meninos triturados, construtores de marinhas valentes. São os que transformam água em pão, enquanto à nossa mesa se ajoelham as metáforas.
~
ResponderEliminar~ Simplesmente, b e l í s s i m o, poeta!
O sal das palavras transforma a prosa em poesia na boca do poeta.
ResponderEliminarAbraço Irmão
Da colheita à mesa, incluindo temperos e metáforas, a prosa com sabor de doces memórias...
ResponderEliminarBom domingo.
Versos de sal
ResponderEliminarescorrendo lágrimas
mais fortes
que as metáforas
Não é poema
É um hino,
meu irmão
É tão difícil construir, não é?
ResponderEliminarUm abraço!:))
Excelente prosa/poema/homenagem em louvor dos valentes homens que cortam a pele na ardência das salinas.
ResponderEliminarTodo um rude e difícil processo que transforma o sal em pão, nos foi aqui servido com mestria envolto em belas metáforas.
Um beijo e bom Domingo.
E o meu avo que era marnoto!
ResponderEliminarMarinhas de sal do Mondego.
Só Penicheiro os soube desenhar como deve ser.
Bela homenagem poética a uma profissão que já muito poucos conhecem.
ResponderEliminarComo o sal fez brotar palavras numa poesia fantástica.
Bela homenagem .
Gostei imenso
Bom domingo
Bjgrande do Lago
Belíssimo ! E com sabor a sal!
ResponderEliminarxx
Homens que bendigo pelo que representam, e perante os quais me curvo.
ResponderEliminarBoa semana.
Abraço.
Pudessem estes Homens ver a estátua que lhes eriges em palavras!
ResponderEliminarDe tão habituados que estamos à naturalidade de alguns alimentos, nem nos debruçamos sobre todo um percurso assaz penoso. Belo texto literário, Mar...
Obg também por (me) dares a conhecer aspetos deste trabalho nas salinas.
(O sal: metáfora de sofrimento mas à mesa de convívio.)
Bjo :)
Muito bem e sentido!
ResponderEliminarA pilha branca afinal
admirável poema ao sal
tempera o homem de suor.
.
ResponderEliminar.
. o estio da Sua Poesia é mais.do.que.re.confortante .
.
.
o canto dos homens - entre o cântico-negro e sublimação dos dias.
ResponderEliminarbelo, meu caro Poeta
forte abraço
Linda cronica poética!
ResponderEliminarBjs
Memórias com sabor a sal.
ResponderEliminarBelíssimo!
Beijo
Trabalho árduo num ritual
ResponderEliminarquase alquímico,colhido
pela poesia que emociona
com (sal) das lágrimas...
Bjs.
Conheci bem alguns dos homens que trabalhavam nas marinhas de sal...
ResponderEliminarTudo tem estado a acabar no nosso
país...
Mas, eu neste momento estou na
Irlanda, e aqui sinto mais tran-
quilidade que em Portugal.Tenho
muito menos tempo para estar ao
computador.
Bj. e desejo que esteja bem.
Irene Alves
Pode o trabalho ser penoso, mas você fez dele poesia. Não costumamos pensar nos caminhos quando saboreamos os alimentos. E os detalhes desse me eram desconhecidos. Abraço.
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ResponderEliminarUm mundo onde as metáforas não resistem, como bem o diz, caro Mar. É tudo no duro,sentindo-se cada momento no rasgar da pele crestada e no sal das palavras que aqui se lêem.
No 'sal da língua' ainda se quedam muitas palavras por dizer:
"Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
..." Eugénio de Andrade
Mas vale a pena tentar, atirando grãos de sal ou 'colocando pauzinhos na engrenagem'.
Abraço
Olinda
gosto de sal marinho
ResponderEliminare de palavras que desfiam imagens
...tropeçamos memórias, pedras, pérolas e pó - para compreendermos melhor as palavras de carne e osso...
ResponderEliminarAs vezes é preciso primeiro sentir na pele para só depois compreender as metáforas.
Sempre lindo.
Beijo.
ResponderEliminarUm louvor que se quer tocável!
Beijo
Uma vida dura e ignorada.
ResponderEliminarBelo momento.
Beijinho
O sal e a safra de uma dureza muito bela...
ResponderEliminarBeijo
Fabulosa prosa poética! Bj AIlime
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