segunda-feira, 23 de abril de 2012

QUE FARÁS DE TI?




                                                           Publicado no meu  PARA LÁ DO AZUL

Ainda não estávamos no tempo das vindimas, nem da fuga das andorinhas. Estávamos a regar uvas de mesa para te oferecer numa bandeja de lua cheia - mas tu estavas no paraíso dos silêncios a aprender - a prender ou a soltar amarras de barcos a voar com o próprio voo ou a cortar asas aos pássaros, sem teres espreitado o belo precipício das lindas tempestades - onde só cantam livres alguns fios de música quando lhes morde a voz.

As uvas estavam verdes, o tempo incerto e o chão íngreme já te desafiava em revérberos num torvelinho de rotas.

Quando vencemos o teu cordão umbilical, despertámos para uma certa revolução de estrêlas e ninguém sabia o que era uma revolução de estrêlas.
Talvez um dia saibas que as estrêlas podem brilhar no chão que pisamos, conforme as marés - que todas nascem, crescem e regressam como pêndulos a outras florações.

A lua não estava cheia, as uvas estavam verdes, as andorinhas só regressavam à noite e tu deste um grito que estilhaçõu  todos os silêncios.

Não foste um silvo de barco, nem um mar a rasgar escarpas, nem sequer o delicioso florir de uma araucária. Foste tu  e já é tanto.

E agora? Que farás para a água te lavar os pés? Que farás para o mar não te abandonar? Que farás para te conquistares? Que farás para as uvas amadurecerem e as andorinhas regressarem?

Que farás de ti, pelas outras estrêlas?



44 comentários:

  1. Perguntas bem, poeta,
    que farei?
    Perdi-me num caminho
    e, pior, perdi o tino

    Mas, sem desespero,
    sei que os irei reencontrar
    Não deve tardar

    (ainda acabo por comprar todos os teus livros, meu amigo)

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  2. Beijos nossos pelo bom gosto,
    por teres sobrevivido,
    por estares aqui.

    as cozinheiras

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  3. Não terá o mar já evaporado?
    As uvas, essas mesmo verdes, comeram-nas os corvos, não há vindima...e até os gritos...já não se ouvem. Ficaram abafados pela ausência das andorinhas!
    Bom seria que os gritos que se ouviram, ainda hoje fizessem eco...

    Bj
    Sónia

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  4. «- Vivemos entre os homens,ajudemos os homens.
    - E que faz o senhor para isso?
    - Conserto-lhes os sapatos, já que nada mais posso fazer agora.»

    José Saramago, in "Clarabóia"


    L.B.

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  5. Por vezes vemo-nos sem respostas...
    Que fazer?
    ...
    Beijito.

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  6. A intimidação já começou: "a PSP vai aplicar a tolerância zero nas manifestações do 25 de Abril"!
    Abraço

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  7. Em todas as lutas para trazer,de novo,ABRIL.

    Um abraço,
    mário

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  8. Não sei o que fará, mas espero que faça o necessário!!

    Beijinhos, amigo meu

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  9. Cada vez temos menos respostas.
    Para as tuas perguntas e para o ataque organizado e frio ao 25 de Abril e ao que ele reprenta. Mais uns meses e pode estar completamente descaracterizado. Num verdadeiro golpe de estado numa ditadura democrática.
    E nós sem respostas...
    Gostei do teu post. Um texto muito bom.
    Abraço.

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  10. Que faremos de nós todos, juntos, unidos como os dedos das mãos? Abraço

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  11. Para lá do azul um céu de dúvidas.
    Eu já sei o que farei delas: estrelas para iluminar o caminho!

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  12. Tanta pergunta
    e "Que farás para te conquistares "
    Não sei se o povo estara pronto para sair a rua...para sair das profundidade onde ele se encontra.

    Bjos

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  13. Uma excelente pergunta, de resposta nada fácil...
    Entretanto, aproveito para lhe apresentar o meu novo blog, só dedicado a crónicas e historietas:

    http://cronicasontherocks.blogspot.pt/
    Por acaso, começo hoje a escrever sobre o meu 25 de Abril

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  14. Querido amigo,

    Apesar de ter comigo "Para lá do azul" e poder saborear e reler poemas tão imensos como este, não consigo dizer nada, porque em vésperas de 25 de Abril de 2012 este poema único e imensamente belo ecoa em mim mais forte que sempre e deixa-me com um mar imenso no olhar, de sabor a sal...mas com a esperança de que as estrelas brilhem nas armas da repressão silenciosa, que muitos teimam em não ver...porque subtilmente silenciosa, mas avançando passo a passo, largamente.

    "Que farás de ti, pelas outras estrêlas?" - uma pergunta inquietante.

    Beijos
    Branca

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  15. ... eu sei lá,
    Liberdade...!

    ... é quase amanhã!


    um beijo meu, Mar.

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  16. Uma boa pergunta amiga. Mas a que não sei responder. Velha e doente, as forças gastas pela vida de miséria que passei por longos anos, me faço a mim mesma essa pergunta.
    Um abraço

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  17. talvez continuar a sonhar ou, pelo menos, ter vontade...

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  18. O Nilson disse tudo. Mas aquilo que
    mais me irrita foi a esquerda ter
    ajudado Passos Coelho a ser Primeiro-
    -Ministro.Sabia-se que o Sócrates
    não era bom, mas viria pior - e veio.
    E agora? O povo parece ainda não
    estar bem consciente/ou dividido...
    então quando já nada restar do
    25 de Abril poder-se-á dizer que
    há democracia, só que "uma outra
    democracia"...
    Realmente o Nilson disse tudo...
    Aquilo que mais me preocupa são
    os jovens casais com filhos ambos
    desempregados(tenho na família)
    e gostava de ver os portugueses
    mais activos, menos resignados...
    A Comunicação Social está totalmente
    controlada, qualquer dia serão os
    blogues...
    Eu não tenho medo das ameaças do
    Governo e tenciono amanhã participar.
    Bj.
    irene

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  19. Dona Elvira estimada amiga

    este mar tem barbas
    Bjs

    Dona Irene

    tem razão quando diz que o PS
    ao demitir-se da esquerda
    entregou o poder à direita

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  20. O que faremos todos nós para que Abril se cumpra.

    Um abraço e votos de um Abril para sempre!

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  21. a lua é nova,

    as uvas ainda não são, as andorinhas já as vi por aí

    é como se tudo estivesse no princípio outra vez

    como as perguntas

    um abraço

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  22. caminhemos, Poeta. que bem sabemos que o "caminho se faz ao andar..."

    e as uvas amadurecem sempre - quando seja a hora!

    belissimo poema, meu amigo.

    abraço de Abril

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  23. Tantas perguntas e sem resposta...que acordemos todos e a esperança volte novamente às nossas mãos para poder segurar o cravo que já não é tão vermelho.

    Um beijinho
    Sonhadora

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  24. Mar Arável,
    Um dos textos mais belos sobre o 25 de Abril de ontem e de hoje, que li nos últimos tempos.

    Um Abril que tarda em acordar de novo.
    Será que o mar "lavará os pés?" que as andorinhas irão regressar?
    Que tragam, então, os cravos...
    Beijinho e bom dia da Liberdade!:)

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  25. Acredito que a consciência de um povo tem muito poder. Se esta consciência acreditar que "as estrelas podem brilhar no chão que pisamos" talvez ouçamos "um grito que estilhaçou todos os silêncios".

    Lindíssimo...

    Beijinhos

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  26. Juntos faremos tanto!

    um dia havemos de reinventar Abril....Hoje é o dia! (Amanhã, também:-)

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  27. Ah, poeta!

    sem esperança nem desespero. Mas isto está a ficar muito murcho...
    E sem liberdade não se pode viver.
    Que cada um dê o seu contributo. Vamos acreditar na força da vida.

    Abraço,

    Véu de Maya

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  28. *
    meu amigo,
    ,
    gritado texto,
    que me obriga a perguntar,
    plagiando o Sérgio,
    não me digas
    que não me compreendes,
    e não sentes aquela raiva nos dentes ?
    ,
    que lavrada prosa,
    num lavradio de palavras.
    senti a maresia das uvas,
    iodoando as andorinhas !
    ,
    aquele abraço, fica !
    ,
    *

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  29. ________________________________

    ...os ciclos abrem-se e fecham... É preciso estarmos atentos à indumentária que iremos usar no próximo baile...


    É sempre um prazer imenso ler as suas letras!


    Beijos de luz e o meu carinho!

    Zélia(MundoAzul)

    ____________________________

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  30. "Quando vencemos o teu cordão umbilical, despertámos para uma certa revolução de estrelas e ninguém sabia o que era uma revolução de estrelas."

    Impõe-se, de novo, e novamente, o despertar para as coisas raras e singulares.

    Meu bom amigo, que se não percam, jamais, as alvoradas de Abril e o Maio não finde antes de ter amanhecido.

    Bem-haja, sempre!
    Abraço daqui
    Mel

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  31. Onde estão hoje essas lindas estrelas que um dia brilharam para nós?!
    Onde estão...?!

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  32. Uma revolução de estrelas e ninguém sabia o que isso era...E as estrelas também brilham no chão que pisamos...

    Bela metáfora, Poeta!

    Abraço.

    Olinda

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  33. Sim amigo, temos que estar com
    os olhos postos em Maio.
    Desejo que esteja bem.
    Bj.
    Irene

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  34. Há sempre uma estrela com o teu nome e o teu nome estará sempre em todas as noites que desaguem em madrugadas de cravos...
    Um abraço em abril

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  35. aproveitando a maré para responder tanta gente aqui que já não me lembrava.
    estou longe mas ainda na europa, não esqueço o 25 de Abril.

    obrigado pela visita.
    foste tu e já é tanto.
    amei.
    grande beijo de Abril

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  36. Podemos prometer atos,
    mas não podemos prometer sentimentos...
    Atos são pássaros engaiolados,
    sentimentos são pássaros em vôo.
    (Rubem Alves)
    Pedindo desculpas pelo meu afastamente
    nas visitas infelizmente foram alguns dias de muita
    tenssão.
    Eu aprendo todos dias, me espelho em outras
    pessoas: Não dá pra fraquejar, quem é guerreiro
    jamais entrega a Luta..
    Deus abençoe grandemente seu final de semana beijos
    no seu doce coração.
    Evanir..

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  37. Por vezes é nas perguntas simples que não se consegue encontrar as respostas.

    Desejo-te um bom fim de

    semana,beijos


    Carla Granja

    http://paixoeseencantos.blogs.sapo.pt/

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  38. Gostei muito da interpelação, Eufrázio. "Que farás...?" Qua fará cada um de nós? Que farei?
    É verdade, muito depende de cada um de nós.
    Um abraço de boa semana.

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  39. Façamos de novo o grito soltar-se.
    o povo passivo viverá sempre oprimido.
    Excelente texto.
    Beijo

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  40. Caríssimo,

    Todas as coisas tem seu tempo... E eu, que vivo tempos inquietos, sou chamada a fazer a travessia para além das palavras e redescobrir os sentimentos...

    Meu corpo diz: Há um tempo para a luta, o trabalho e o esforço; Meus olhos sedentos dizem: Há um tempo para a novidade e para o que é surpreendente, quando o espetáculo da vida é brilho e luz; Meu espírito de mudança diz: Há um tempo de plantar, de florir e de colher...

    Sigamos, pois, poeta, certamente haveremos de colher a uva no tempo da sua doçura.
    Beijos,
    Genny

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  41. Foste tu e já é tanto.
    Um cravo vermelho a sorrir.

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