Publicado no meu PARA LÁ DO AZUL
Ainda não estávamos no tempo das vindimas, nem da fuga das andorinhas. Estávamos a regar uvas de mesa para te oferecer numa bandeja de lua cheia - mas tu estavas no paraíso dos silêncios a aprender - a prender ou a soltar amarras de barcos a voar com o próprio voo ou a cortar asas aos pássaros, sem teres espreitado o belo precipício das lindas tempestades - onde só cantam livres alguns fios de música quando lhes morde a voz.
As uvas estavam verdes, o tempo incerto e o chão íngreme já te desafiava em revérberos num torvelinho de rotas.
Quando vencemos o teu cordão umbilical, despertámos para uma certa revolução de estrêlas e ninguém sabia o que era uma revolução de estrêlas.
Talvez um dia saibas que as estrêlas podem brilhar no chão que pisamos, conforme as marés - que todas nascem, crescem e regressam como pêndulos a outras florações.
A lua não estava cheia, as uvas estavam verdes, as andorinhas só regressavam à noite e tu deste um grito que estilhaçõu todos os silêncios.
Não foste um silvo de barco, nem um mar a rasgar escarpas, nem sequer o delicioso florir de uma araucária. Foste tu e já é tanto.
E agora? Que farás para a água te lavar os pés? Que farás para o mar não te abandonar? Que farás para te conquistares? Que farás para as uvas amadurecerem e as andorinhas regressarem?
Que farás de ti, pelas outras estrêlas?
Perguntas bem, poeta,
ResponderEliminarque farei?
Perdi-me num caminho
e, pior, perdi o tino
Mas, sem desespero,
sei que os irei reencontrar
Não deve tardar
(ainda acabo por comprar todos os teus livros, meu amigo)
Beijos nossos pelo bom gosto,
ResponderEliminarpor teres sobrevivido,
por estares aqui.
as cozinheiras
Não terá o mar já evaporado?
ResponderEliminarAs uvas, essas mesmo verdes, comeram-nas os corvos, não há vindima...e até os gritos...já não se ouvem. Ficaram abafados pela ausência das andorinhas!
Bom seria que os gritos que se ouviram, ainda hoje fizessem eco...
Bj
Sónia
«- Vivemos entre os homens,ajudemos os homens.
ResponderEliminar- E que faz o senhor para isso?
- Conserto-lhes os sapatos, já que nada mais posso fazer agora.»
José Saramago, in "Clarabóia"
L.B.
Por vezes vemo-nos sem respostas...
ResponderEliminarQue fazer?
...
Beijito.
A intimidação já começou: "a PSP vai aplicar a tolerância zero nas manifestações do 25 de Abril"!
ResponderEliminarAbraço
Em todas as lutas para trazer,de novo,ABRIL.
ResponderEliminarUm abraço,
mário
Não sei o que fará, mas espero que faça o necessário!!
ResponderEliminarBeijinhos, amigo meu
Cada vez temos menos respostas.
ResponderEliminarPara as tuas perguntas e para o ataque organizado e frio ao 25 de Abril e ao que ele reprenta. Mais uns meses e pode estar completamente descaracterizado. Num verdadeiro golpe de estado numa ditadura democrática.
E nós sem respostas...
Gostei do teu post. Um texto muito bom.
Abraço.
Que faremos de nós todos, juntos, unidos como os dedos das mãos? Abraço
ResponderEliminarPara lá do azul um céu de dúvidas.
ResponderEliminarEu já sei o que farei delas: estrelas para iluminar o caminho!
Tanta pergunta
ResponderEliminare "Que farás para te conquistares "
Não sei se o povo estara pronto para sair a rua...para sair das profundidade onde ele se encontra.
Bjos
Uma excelente pergunta, de resposta nada fácil...
ResponderEliminarEntretanto, aproveito para lhe apresentar o meu novo blog, só dedicado a crónicas e historietas:
http://cronicasontherocks.blogspot.pt/
Por acaso, começo hoje a escrever sobre o meu 25 de Abril
Querido amigo,
ResponderEliminarApesar de ter comigo "Para lá do azul" e poder saborear e reler poemas tão imensos como este, não consigo dizer nada, porque em vésperas de 25 de Abril de 2012 este poema único e imensamente belo ecoa em mim mais forte que sempre e deixa-me com um mar imenso no olhar, de sabor a sal...mas com a esperança de que as estrelas brilhem nas armas da repressão silenciosa, que muitos teimam em não ver...porque subtilmente silenciosa, mas avançando passo a passo, largamente.
"Que farás de ti, pelas outras estrêlas?" - uma pergunta inquietante.
Beijos
Branca
... eu sei lá,
ResponderEliminarLiberdade...!
... é quase amanhã!
um beijo meu, Mar.
Uma boa pergunta amiga. Mas a que não sei responder. Velha e doente, as forças gastas pela vida de miséria que passei por longos anos, me faço a mim mesma essa pergunta.
ResponderEliminarUm abraço
talvez continuar a sonhar ou, pelo menos, ter vontade...
ResponderEliminarO Nilson disse tudo. Mas aquilo que
ResponderEliminarmais me irrita foi a esquerda ter
ajudado Passos Coelho a ser Primeiro-
-Ministro.Sabia-se que o Sócrates
não era bom, mas viria pior - e veio.
E agora? O povo parece ainda não
estar bem consciente/ou dividido...
então quando já nada restar do
25 de Abril poder-se-á dizer que
há democracia, só que "uma outra
democracia"...
Realmente o Nilson disse tudo...
Aquilo que mais me preocupa são
os jovens casais com filhos ambos
desempregados(tenho na família)
e gostava de ver os portugueses
mais activos, menos resignados...
A Comunicação Social está totalmente
controlada, qualquer dia serão os
blogues...
Eu não tenho medo das ameaças do
Governo e tenciono amanhã participar.
Bj.
irene
Dona Elvira estimada amiga
ResponderEliminareste mar tem barbas
Bjs
Dona Irene
tem razão quando diz que o PS
ao demitir-se da esquerda
entregou o poder à direita
O que faremos todos nós para que Abril se cumpra.
ResponderEliminarUm abraço e votos de um Abril para sempre!
a lua é nova,
ResponderEliminaras uvas ainda não são, as andorinhas já as vi por aí
é como se tudo estivesse no princípio outra vez
como as perguntas
um abraço
caminhemos, Poeta. que bem sabemos que o "caminho se faz ao andar..."
ResponderEliminare as uvas amadurecem sempre - quando seja a hora!
belissimo poema, meu amigo.
abraço de Abril
Tantas perguntas e sem resposta...que acordemos todos e a esperança volte novamente às nossas mãos para poder segurar o cravo que já não é tão vermelho.
ResponderEliminarUm beijinho
Sonhadora
Mar Arável,
ResponderEliminarUm dos textos mais belos sobre o 25 de Abril de ontem e de hoje, que li nos últimos tempos.
Um Abril que tarda em acordar de novo.
Será que o mar "lavará os pés?" que as andorinhas irão regressar?
Que tragam, então, os cravos...
Beijinho e bom dia da Liberdade!:)
Sempre!
ResponderEliminarAcredito que a consciência de um povo tem muito poder. Se esta consciência acreditar que "as estrelas podem brilhar no chão que pisamos" talvez ouçamos "um grito que estilhaçou todos os silêncios".
ResponderEliminarLindíssimo...
Beijinhos
Juntos faremos tanto!
ResponderEliminarum dia havemos de reinventar Abril....Hoje é o dia! (Amanhã, também:-)
Ah, poeta!
ResponderEliminarsem esperança nem desespero. Mas isto está a ficar muito murcho...
E sem liberdade não se pode viver.
Que cada um dê o seu contributo. Vamos acreditar na força da vida.
Abraço,
Véu de Maya
*
ResponderEliminarmeu amigo,
,
gritado texto,
que me obriga a perguntar,
plagiando o Sérgio,
não me digas
que não me compreendes,
e não sentes aquela raiva nos dentes ?
,
que lavrada prosa,
num lavradio de palavras.
senti a maresia das uvas,
iodoando as andorinhas !
,
aquele abraço, fica !
,
*
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ResponderEliminar...os ciclos abrem-se e fecham... É preciso estarmos atentos à indumentária que iremos usar no próximo baile...
É sempre um prazer imenso ler as suas letras!
Beijos de luz e o meu carinho!
Zélia(MundoAzul)
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É tão diferente e real como sempre. Bj
ResponderEliminar"Quando vencemos o teu cordão umbilical, despertámos para uma certa revolução de estrelas e ninguém sabia o que era uma revolução de estrelas."
ResponderEliminarImpõe-se, de novo, e novamente, o despertar para as coisas raras e singulares.
Meu bom amigo, que se não percam, jamais, as alvoradas de Abril e o Maio não finde antes de ter amanhecido.
Bem-haja, sempre!
Abraço daqui
Mel
Onde estão hoje essas lindas estrelas que um dia brilharam para nós?!
ResponderEliminarOnde estão...?!
Tem um bom fim de semana :)
ResponderEliminarUma revolução de estrelas e ninguém sabia o que isso era...E as estrelas também brilham no chão que pisamos...
ResponderEliminarBela metáfora, Poeta!
Abraço.
Olinda
Sim amigo, temos que estar com
ResponderEliminaros olhos postos em Maio.
Desejo que esteja bem.
Bj.
Irene
Há sempre uma estrela com o teu nome e o teu nome estará sempre em todas as noites que desaguem em madrugadas de cravos...
ResponderEliminarUm abraço em abril
aproveitando a maré para responder tanta gente aqui que já não me lembrava.
ResponderEliminarestou longe mas ainda na europa, não esqueço o 25 de Abril.
obrigado pela visita.
foste tu e já é tanto.
amei.
grande beijo de Abril
Podemos prometer atos,
ResponderEliminarmas não podemos prometer sentimentos...
Atos são pássaros engaiolados,
sentimentos são pássaros em vôo.
(Rubem Alves)
Pedindo desculpas pelo meu afastamente
nas visitas infelizmente foram alguns dias de muita
tenssão.
Eu aprendo todos dias, me espelho em outras
pessoas: Não dá pra fraquejar, quem é guerreiro
jamais entrega a Luta..
Deus abençoe grandemente seu final de semana beijos
no seu doce coração.
Evanir..
Por vezes é nas perguntas simples que não se consegue encontrar as respostas.
ResponderEliminarDesejo-te um bom fim de
semana,beijos
Carla Granja
http://paixoeseencantos.blogs.sapo.pt/
Gostei muito da interpelação, Eufrázio. "Que farás...?" Qua fará cada um de nós? Que farei?
ResponderEliminarÉ verdade, muito depende de cada um de nós.
Um abraço de boa semana.
Façamos de novo o grito soltar-se.
ResponderEliminaro povo passivo viverá sempre oprimido.
Excelente texto.
Beijo
Caríssimo,
ResponderEliminarTodas as coisas tem seu tempo... E eu, que vivo tempos inquietos, sou chamada a fazer a travessia para além das palavras e redescobrir os sentimentos...
Meu corpo diz: Há um tempo para a luta, o trabalho e o esforço; Meus olhos sedentos dizem: Há um tempo para a novidade e para o que é surpreendente, quando o espetáculo da vida é brilho e luz; Meu espírito de mudança diz: Há um tempo de plantar, de florir e de colher...
Sigamos, pois, poeta, certamente haveremos de colher a uva no tempo da sua doçura.
Beijos,
Genny
Foste tu e já é tanto.
ResponderEliminarUm cravo vermelho a sorrir.