terça-feira, 10 de novembro de 2009

AS PALAVRAS NÃO SABEM RESPIRAR POR GUELRAS


                                       Sieghried Zademack


Todas as palavras são parcas
mesmo as que se afogam
por não saberem respirar por guelras

Foi assim que te dei um abraço
que não era um abraço
mas uma transfusão de sangue

e tu não sabias
nem eu

que abraços entre nós
são rios de luz
vasos comunicantes

Todas as palavras são parcas
mesmo quando voam
se fendem ou fundem
por lucidez ou distracção dos pássaros

Assim persistimos em destruir
e construir margens
para celebrar o ventre
e a foz do rio que desagua

Vivemos numa ilha cercada
de sonhos e sonos

Se tivéssemos um barco
seria inútil

Assim ancorados nas areias
até à fronteira dos horizontes
vamos continuar a destruir
e a construir
pontes e muros

só porque as palavras
não sabem respirar por guelras

23 comentários:

  1. as tuas sabem... estão habituadas à lavra, neste mar de poesia.

    Magnífico poema.


    Beijo meu.

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  2. Aprenderão a fazê-lo, se necessário, enquanto constroem e destroem muros e pontes...

    Beijo

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  3. Não sabem? talvez não... talvez precisem mesmo desse abraço indizível... mas eu acho que há sempre um poema salvífico que as mantém à superfície...

    Hoje deixo um abraço...

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  4. Talvez, mesmo que tendo guelras, seriam capazes de se perder nas marés.

    beijinhos

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  5. Para quê fazer respirar palavras, quando a perfeita respiração está no silêncio que fala de modo perfeito ?...

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  6. Gosto de tudo o que diz sobre os abraços, também costumo senti-los assim.
    ~CC~

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  7. "...Assim ancorados nas areias
    até à fronteira dos horizontes
    vamos continuar a destruir
    e a construir
    pontes e muros..."

    mas também as palavras podem ser uma aragem... uma brisa... uma força.

    Beijinhos ( tinha saudades de te ler!)

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  8. Belíssimo.
    Se bem que eu acho que estas palavras respiram...

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  9. Queremos as palavras
    flutuando
    sendo nenúfares
    (que não nadem mas voem na parábola do ar, como pedras, atiradas
    contra muros)
    Abç

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  10. Sabem sim, as palavras poéticas sabem respirar de qualquer modo: assim tu o provas.

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  11. as palavras também são transfusões de sangue

    que navegam sob pontes

    e são peixes
    vorazes
    que se suicidam conta os barcos.


    _______
    dizer que gostei?!

    "todas as palavras são parcas"

    um beijo Eufrázio

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  12. Mas que romântico!
    Que solidário!...

    "Abraço/transfusão de sangue"...
    "Abraços/raios de luz"...

    Percursos
    de vidas, de sociedades, de grupos de sistemas...
    Avanços,recuos,mutações...
    Atitudes...
    Vidas!...

    "celebrar o vento e a foz do rio que desagua"...

    "Vamos continuar
    só porque as palavras
    não sabem respirar por guelras"

    Foi assim que senti este seu poema.
    a seguir, desci ao fundo do mar
    e contemplei
    peixes e corais e
    os azuis envolventes!

    princesa

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  13. As suas parecem saber respirar, mesmo debaixo de água.
    Belas. Intempestivas. Imprevisíveis...
    Bj

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  14. "Assim ancorados nas areias
    até à fronteira dos horizontes
    vamos continuar a destruir
    e a construir
    pontes e muros

    só porque as palavras
    não sabem respirar por guelras"...


    Aprenderão se um dia quiserem.
    Como aprenderam os caminhos da poesia limpida.

    Beijos

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  15. Querido poeta, às vezes penso que as palavras são de todos os elementos, ar, terra, água, fogo e éter e por isso, podem quase tudo e quem sabe, até respirar por guelras?
    Peixe - palavra.
    Uma espécie talvez...
    Muita criatividade a sua, gostei!

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  16. mas respiram.se dentro deste "lugar" de mar alto !!!!

    onde nunca se asfixiam.



    abraço.


    .


    P.s.

    dá por mim um outro abraço à Graça?

    (já que estarei longe...)
    :((
    __________________. até breve Amigo.

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  17. Você encontrou as palavras certas.

    Belíssimo poema!

    Beijos

    PS: Gostaria muito que você conhecesse meus poemas. Visite-me. Será um prazer recebê-lo.

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