segunda-feira, 4 de maio de 2009

A DUNA SOU EU




Enquanto aquele anjo permanecer nas areias, bem pode o vento soprar


- O cão ou o velho?


Lentos, tropegos, com os pés a tracejarem os caminhos de sempre, todos os dias aquelas almas percorriam memórias.

O cão - mais velho que o dono - era o guia, a sua bengala de cego.


Pela orla da praia, desde a gruta onde viviam até à colossal duna, abrupta sobre as águas, as aves marinhas mergulhavam a pique e esbracejavam só para os salpicar. Lá íam - serenos - livres - sem palavras - imensos.


No ar o sussurro dos silêncios embalava-lhes os passos num concerto de maresias.


Chegados ao topo da montanha era sempre assim - o velho afagava as orelhas do cão e o cão lambia-lhe as mãos.


Sentados - respiravam infinitos - o perfume das algas - adormeciam no tempo.


Ao longe, muito ao longe - alguém de um barco bramou

- Fuja - a duna vai desmoronar-se.


Imperturbável respondeu baixinho para não acordar o cão.


- A duna sou eu.



36 comentários:

  1. Verdadeiramente belo :)

    Fiquei a pensar sobre... também...

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  2. ...E permaneceu de pé,estático e firme como um rochedo, até que o cão acordou e juntos prosseguiram a jornada.

    Belo como sempre.
    Abraço

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  3. Estou voltando de Fortaleza, onde vi dunas assim. Faltou o cão. Não faltou a vontade de gritar: A duna sou eu!

    Abraços.

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  4. Que bonito!
    Gostei muito da ideia: a duna sou eu!
    :))

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  5. No ar o sussurro dos silêncios embalava-lhes os passos num concerto de maresias.Belíssima a imagem poética.
    É um prazer passar por aqui.

    Um abraço

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  6. ... Belo!...e eu que estou a caminhar para ser DUNA!!!

    AB. - EL

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  7. Adorei! [gosto de belas palavras, enfim]


    Beijo meu

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  8. era sim. a duna! sem margem para dúvida.

    aí estás tu testemunhar. em palavras certeiras.

    belíssimo.

    abraço

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  9. hercúleo

    o resistente caminho

    e as palavras a desbravar a montanha


    _____

    que dizer-te daqui desta praia?

    sem cão
    .
    ao longe um bradar de silêncios

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  10. impressionante
    a força anímica que as tuas palavras "transpiram"

    sejamos um pouco mais cegos ,a fim de vislumbrarmos a luz......


    .
    um beijo

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  11. Sentados-, respiravam infinitos e embalavam dunas...vejo-os eu.


    :) um beijo

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  12. Como se já não se distinguissem da paisagem. Belísimo. **

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  13. Olá
    amei o teu blogue!
    A sério!
    bgda pela tua visitita
    desgrenhado, só o meu cabelo mesmo!
    O mar desgrenhado assusta-me um pouco!
    Prefiro-o em calmaria!
    Para não ter que me zangar com ele! Porque eu gosto-o...E quando se desgrenha...é um cadito mauzito, não achas!?
    Besito em tu

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  14. Eufrázio,

    _____ BELÍSSIMO!_____

    ... percorrer as memórias...

    um grande abraço e o meu sorriso :)
    mariam

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  15. bom dia duna....debaixo do sol.







    abraço.



    .


    (sem acordar a montanha....agradeço)

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  16. É sempre bom ler a tua sensibilidade, Amigo.
    Beijos.

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  17. Belíssimas palavras !
    Bela parábola. Somos todos tão frágeis como uma duna. Como uma areia que o vento carrega daqui para ali.
    Para quê tanta e tão desmedida
    ambição de alguns ?
    Um vento vai varre-los para sempre do cimo da terra.
    Assim o povo queira.
    Um abraço e parabéns.
    Nocturna

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  18. a sensibilidade à superfície como se arranhasse a pele da alma... a poesia pode compreender-se , mas só alguns a desenham...

    abraço

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  19. ... pior cego é aquele que não quer ver.

    Lamentável, o do barco, não distinguir uma duna dum velho ou um velho duma duna ou ambos num só. Felizmente que o autor deste belo conto, pôs as palavras certas na boca de quem é quem.

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  20. Gostei muito do seu blog!
    De vez enquando irei passear à beira deste mar.

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  21. Gostei como sempre.
    Gosto muito, em prosa.
    Um beijinho.

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  22. Cão e velho, fazem parte dela. Quase duna fóssil. Muito belo este texto.

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  23. ...porque somos algo que ninguém conhece...ou que não quer dar a conhecer!bjs

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  24. Um texto lindo, como so tu sabes escrever..
    "E a duna sou eu.." gostei do fim.

    Bjos

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  25. que belissimo texto.
    vou voltar
    xi
    maria de são pedro

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  26. Que lindo poema!

    Entranha-se na alma.
    Seria óptimo que
    ...Nem nem outro
    - Eu!
    Bengala que subtitui o cão
    Ave que rodopia e
    te salpica
    Concerto que afaga
    o silêncio das marés
    ...
    Apetecia me subir à duna
    contemplar aquele barco longe
    E sentir aquele vento...

    princesa

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