
Aparentemente só uma lágrima fria e um súbito nevão assumem a responsabilidade pelo bloqueio às vias alternativas.
Mesmo assim - atraídos pela música de Strauss que irradiava pelas frinchas de uma janela, atrevemo-nos a desaguar nas redondezas da mesquita.
Sentado na caixa de polir, meio desconchavada, fazia sorrir os sapatos passageiros e os seus braços estavam cansados do vai-vem e as suas mãos eram pomada e os seus dedos tremiam e o seu desejo era dar um estalido com o trapo, capaz de arrancar uma palavra de conforto.
Com olhos de esmeralda a rolarem pelo chão - em busca de outros sapatos, só via pés descalços - e a caixa gemia.
- Estou a conhecê-lo?
- É bem possível - eu não fugi de mim. Retirei-me temporáriamente para este exílio, porque sois um país pobre e aparentemente livre.
- Os pobres não são livres.
- Depende do seu código de valores. Eu combato paraísos artificiais e em nome da minha liberdade, beijo uma flor, engraxo-lhe os sapatos.
- Estou a conhecê-lo.
- Talvez. Quando um homem é notícia após ser agredido por quem nos ama, só a poesia pode decifrar a metáfora. Talvez seja o seu caso.
- Não insistas.
- Posso insistir?
- Pode.
- O senhor é Muntazer al- Zaidi.
- Meu caro desconhecido, quando Galileu, em defesa da sua teoria, jurou que a Terra girava em torno do Sol, foi condenado. Só muito mais tarde o Vaticano admitiu ter errado na sua condenação.
- O senhor morde nos sapatos do dono.
- Não. Eu estou orientado para Al-Aqsa. Em nome da minha liberdade, só me vergo para beijar uma flor ou engraxar-lhe os sapatos. Até ser outro dia.
Retirámo-nos - ainda com os acordes de Strauss.
... é isso!!!
ResponderEliminar...tambem por isso mesmo, o meu quintal está prenhe de flores!!!
Um abr. - quelino!
Mas quando um homem se verga pelo poder, pelaa ganância, pela avidez...os sapatos onde ficam?
ResponderEliminarQue 2009 seja tudo o que desejares.
Bj.
"Em nome da minha liberdade, só me vergo para beijar uma flor"
ResponderEliminar.
eu curvo-me. à sua imaginação.
deixo pétalas e um sorriso.
"Amanhã vai ser outro dia"...
ResponderEliminarAbraço
E continuemos com os acordes de Strauss, beijando flores. Que forma mais linda podemos imaginar para entrar em 2009?
ResponderEliminarUm bom ano.
Tiro o meu imaginário chapéu (não os sapatos) ao teu talento e aos valores que defendes. Um bom 2009!
ResponderEliminarsomente resta a história de quem sacrifica-se pelos seus ideais
ResponderEliminarDe pé -com uma flor na mão- como quem sabe estar quem é!
ResponderEliminarOusar sempre.
Forte abraço
Fico com as tuas palavras e os acordes de Strauss.
ResponderEliminarGostei de ler... ser inteiro e ser de pé! o quadro é comovente também!
ResponderEliminar:))
magnífico diálogo. com um fim de mestre!
ResponderEliminarretiro-me com os acordes de strauss
e deixo um beijo.
" Em nome da minha liberdade, só me vergo para beijar uma flor ". Um belo texto,amigo. Um abraço. e que o Ano de 2009 seja um BOM ANO para si e melhor para todos nós.
ResponderEliminarEufrázio,
ResponderEliminarGostei demais destas suas palavras, do conteúdo deste pequeno texto.
Um excelente 2009, com muitas emoções positivas!
Abraço com amizade e um sorriso :)
"Em nome da minha liberdade, só me vergo para beijar uma flor ou engraxar-lhe os sapatos. Até ser outro dia..."
ResponderEliminara liberdade é uma flor insubmissa!
abraço.
teço.Te
ResponderEliminare desteço.Te
ao som de um novo acorde
- STRAUSS -
há algo que nos espera ao virar
do
NOVO ANO
.
um beijo
Excelente texto.
ResponderEliminarAqui ficam os meus desejos de um ano cheio de energia para continuar na luta.
Abraço amigo
toda a ousadia é louvável quando se defendem valores "sagrados".
ResponderEliminarBoas escritas também em 2009.
sim... em nome da liberdade!
ResponderEliminarlevo nos ouvidos os acordes que escolheste.
abraço
feliz 2009
insubmisso
ResponderEliminare grávido
como a metáfora.
______
maravilhada, sem correntes
abraço-o
desejando
um Bom Ano
Um 2009 com tudo de bom! Sempre com muita escrita e poesia por aqui no Mar Arável!
ResponderEliminarSejamos livres, como aqueles que só se curvam para beijar flores ou admirar os sapatos de alguém :) Adorei a ideia, tal como este quadro de Van Gogh que sempre achei tão especial...
curvo-me perante o teu magnífico texto.
ResponderEliminarum excelente 2009 com um enorme abraço!!
Eufrásio,
ResponderEliminargostei demais das palavras, destas e das deixadas lá :)
um Fantástico 2009! lhe desejo.
um abraço e o meu sorriso :)
mariam
lembrei-me dos cravos...
ResponderEliminarbom 2009
ouse sempre, Mar Arável.
ResponderEliminara nossa consciência sempre...
ResponderEliminarQue fiquem os acordes de Strauss...
ResponderEliminarUm abraço, e um bom ano*
Eufrázio, Companheiro destas e de outras lides:
ResponderEliminarActualizei a OFICINA DAS PALAVRAS e refiz a SEDA DAS PALAVRAS(http://asedadaspalavras.blogspot.com/)
que te convido a visitares.
Algumas das tuas prosas ou fábulas de que só agora tomei conhecimento são mesmo para partilhar (são prendas, meu caro, neste país onde abundam de narizes de cera).
Aquele abraço e BOM ANO NOVO
http://asedadaspalavras.blogspot.com/
Até ser outro dia, ou até ser outro ANO! O que importa é a vontade!
ResponderEliminarO maior abraço e o melhor ANO de sempre!!!
Querido Mar Arável
ResponderEliminarEm nome da minha liberdade, só me vergo para beijar uma flor.
...
Até ser outro dia.
Um Bom Ano Novo Cheio de Flores.
beijo enorme
A Liberdade é um perene flor na mão de quem nunca desiste...
ResponderEliminarExcelente 2009 para ti, Companheiro!
Um grande abraço, companheiro. Com gente como tu, amanhã vai ser melhor, comcerteza.
ResponderEliminarJosé Fanha
Que em 2009 mantenhas a indignação presente no sapato atirado e também a capacidade de dar flores a quem as merece!
ResponderEliminarBom 2009.
~CC~
A Poesia fundada no quotidiano pode ter um peso enorme.
ResponderEliminarÉ o caso.
Em nome de toda a Liberdade entro no Novo ano amando todas as flores e desejando amar mais pessoas mas, sem me curvar.
Obrigada pelo texto.
Bom 2009. :)
O Van Gogh sabia o que fazia.
ResponderEliminarTal como o Galileu sabia o que dizia.
Assim como o Strauss sabia o que tocava.
O que me leva a pensar se nós saberemos decifrar a metáfora, ainda que recorrendo à poesia...
É preciso reconhecer a flor perante a qual nos vergamos. Não vá dar-se o caso de alguém confundir cravos com cardos.
Curvemo-nos, pois, mas só em nome da nossa liberdade!
Um abraço.