domingo, 23 de novembro de 2008

O CEGO DAS ESQUINAS




- Digo-te a bruma coada na cidade, para extase do porvir.Incito-te ao levantamento do chão onde adormecem lábios e pedras em murmúrios e salivas - só para te ver transgredir as pautas.

- Eu digo-te uma luz ao fundo, protegida por sombras e sons, numa campanula de pedras em arco.

- Repara no cego.

- Repara no cão.

- Quando chega a casa - imagino um cubículo de madeira - o cego das esquinas mergulha as mãos no saco das bofetadas, retira-as para o tampo da mesa e conta o abandono a que o votaram em cada moeda coitadinha.

- É o cego das esquinas. O tempo de rastos.

- Quem anda a montar o tempo?

- São os donos dos prédios altos que fazem esquinas para cegos.

- São os fazedores de cegos, os vendedores de concertinas.


26 comentários:

  1. sensibilidade pelos esquecidos e são tantos sem lembranças...

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  2. e os cegos das esquinas não conseguem chegar o olhar ao topo dos prédios

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  3. tchiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
    Poeta!


    belíssimo
    [ retiro.me sem palavras ]



    .
    um beijo

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  4. Em teia de palavras aceradas bem entretecida dizes das crueldades e das humilhações. Dupla crueldade,humilhação ainda mais de joelhos...

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  5. o tempo?


    cego....tão cego.....



    meu querido Mar...



    e o meu livro????????????





    beijo.



    y. de piano.

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  6. Enxergamos de várias maneiras e somos cegos na mesma proporção.

    Selena

    p.s. obrigada pela gentil visita.

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  7. já tenho o teu livro.só falta o autógrafo.


    um abraço!

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  8. "quem anda a montar o tempo?"

    um falcão regressa

    nas sobras

    de um vento

    persistente.

    .

    um beijo, levantado do chão.

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  9. "os fazedores de cegos"...
    Esta ideia vai ficar a tamborilar-me na cabeça!
    Chega de andarmos tanto a contribuir calados para a cegueira que se instala, não é? Chega de fazedores destes, de "conselheiros" destes como o "nosso" Estado tem...
    Mas que maravilha de expressão, esta, hein...

    Posso fazer uso dela, em aula? Calha mesmo mesmo bem... depois de ter pedido que lessem O Conto da Ilha Desconhecida (do Saramago, claro), esta ideia vem mesmo mesmo a calhar! :)

    Abraços

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  10. A cidade e as suas terríveis invisibilidades. A convivência dos que supõem ver com os que, provavelmente, não vendo, vêem.

    A incomunicabilidade que aqui, com poesia, se comunica :)

    Continuação de uma óptima semana...

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  11. Não há nada mais fascinante e cativante do que conhecer in loco novas culturas.
    Assim o fiz mais uma vez.
    Sou uma privilegiada, Deus tem sido meu Amigo por me proporcionar momentos tão magníficos.
    Consegui realizar mais um sonho na minha vida.

    Noutras áreas a coisa não corre muito bem, mas a Esperança é a última a morrer, continuo diariamente na luta por aquilo que quero, hei-de conseguir.

    Boa semana.

    Estou de regresso depois de 2 semanas de ausência.

    Já comecei a postar algumas fotos no blog MOMENTOS PERFEITOS.

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  12. Denúncia em forma de sensibilidade profunda!
    Parabéns!
    :)))

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  13. cão que lambe as lágrimas.também...

    abraço, Poeta.

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  14. os fazedores de cegos...
    Muito bom

    "Mesmo que as pessoas mudem e suas vidas se reorganizem, os amigos devem ser amigos para sempre, mesmo que não tenham nada em comum, somente compartilhar as mesmas recordações."
    Vinícius de Moraes

    Passando, deixo-te um abraço amigo

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  15. Belo e comovente este poema.
    "Quem anda a montar o tempo?" Pergunta pertinente...
    Um braço.

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  16. Algo de surrealista... tal como a própria vida...

    Gostei!...

    António Serra

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